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Reportagem: Toxikull, Fonte e Elderstag @ RCA Club, Lisboa – 12.04.2025


O passado dia 12 de abril foi um dia altamente requisitado em termos de eventos musicais. Mas isso não impediu a migração até ao RCA Club, para se testemunharem a performance artística de 3 excelentes bandas: Elderstag, Fonte e Toxikull.

Pouco antes da hora marcada, a noite arrancou com os Elderstag. Num desempenho, no mínimo, formidável, interpretaram 7 dos 9 temas do seu álbum homónimo. “Dehumanized” abriu a noite, sendo também a primeira faixa do disco — uma amostra do que a banda é capaz.

Os temas que mais se destacaram foram “Vicar of Nature” e “Tavern Crawler”. O primeiro, talvez o ponto alto de toda a prestação, foi também um dos mais bem recebidos pelo público. Iniciou-se com uma intro atmosférica e lúgubre, que rapidamente evoluiu para um tema carregado de emoção. As mudanças rítmicas, impregnadas de Prog, criaram sensações envolventes, mantendo-se sempre melódico e soturno. Soava a Rock Clássico fundido com Stoner, Doom e Gótico, e o nome Mastodon surgia imediatamente na mente. Os guturais conferiram maior espessura à composição, e a técnica de false chord remeteu diretamente para Opeth. O segundo tema contou com a participação de Sienna Sally, vocalista dos Insvla. Uma faixa que exalou Metal Gótico, marcada pela emblemática dualidade vocal de Bela e o Monstro. Profundamente melancólica e carregada de emoção, era impossível ficar-lhe indiferente. Os solos arrepiavam, e a voz de Sienna Sally trouxe o impulso perfeito, angelical, para encerrar a sonoridade de forma magnífica.

O som da banda foi uma verdadeira lufada de ar fresco, misturando, de forma genial, géneros e movimentos como o Stoner, Grunge, Gótico e Progressivo. Oscilou habilmente entre os limites do Rock e do Metal. E é de salientar uma característica não tão habitual: não têm medo de dar protagonismo ao baixo na mistura. A voz moveu-se entre algo próximo de Alice in Chains, mergulhando depois em guturais que relembravam Mikael Akerfeldt. A bateria acrescentou cores garridas a uma música já plena de vida. As guitarras revelaram influências variadas, sendo que os tremolos em “The Grand Transformations” representaram o auge da criatividade. No palco, via-se a felicidade nos rostos dos músicos; na plateia, a alegria era espelhada nas expressões de quem os ouvia. Um pontapé de saída perfeito para uma noite cheia de música.

Eram 20:48h quando chegou a vez dos Fonte subirem ao palco. A sua prestação foi repartida entre temas dos dois álbuns. “Ego” abriu a noite com pura destruição sonora, marcada pelo seu característico Crossover. Com “5 Tiros”, inauguraram a época do Mosh Pit, que se prolongaria até ao final da atuação. Nota-se um claro amadurecimento na postura em palco, bem como na entrega da sua arte performativa. Ao mesmo tempo, percebe-se que os temas mais antigos são mais crus, com uma forte inclinação para o Hardcore, enquanto as faixas do álbum mais recente apresentam-se mais refinadas, sem nunca perderem a essência da banda.

“Comiserável” destacou-se pela sua atmosfera extremamente sombria, sendo claramente diferente do restante repertório, mas impossível de ignorar. Os momentos altos da noite foram “Nuvem” e “Mandamento”, que contaram com a participação especial de Johnny, o primeiro guitarrista da banda. Nesses temas, assumiram uma postura que fez lembrar Iron Maiden, com três guitarras em palco a criar uma textura sonora rica e apetecível. O público respondeu com Headbanging coletivo, completamente imerso no transe musical. O encerramento fez-se com “Alquimista”, uma das maiores bujardas do coletivo — carregada de groove, pesadíssima e poderosa, com um solo brilhante que se desdobrou em dois, terminando a atuação de forma genial.

A sonoridade dos Fonte mistura Thrash e Hardcore de forma equilibrada, com breakdowns intensos que sugerem uma clara inspiração em Pantera. Tudo isto sem esquecer o groove contagiante do binómio bateria-baixo, que pôs toda a sala a mexer de forma quase pavloviana. Mas a maior virtude deste quinteto está na atitude em palco — energia e felicidade puras de quem está no seu habitat natural. Cada vez melhores, a cada gig que passa.

Há mais de um ano que os Toxikull não pisavam o palco do RCA, e isso notava-se na expressão da plateia — havia sede de Heavy Metal. Sem grandes demoras, às 21:50h arrancaram com “Night Shadows”, seguida de “I Will Rock Again”, uma das melhores formas de quebrar o gelo. Com groove e energia em alta, transpiravam Rock’n’Roll por todos os lados. Prosseguiram com “Battle Dogs”, um tema sempre muito querido pelos fãs, carregado de crítica social. A energia que atravessava a sala de Alvalade era tão intensa que prendia toda a gente ao momento — impossível não sentir que a noite estava a passar (demasiado) depressa.

A plateia reagia com entusiasmo sempre que surgiam temas do álbum Under The Southern Light, mas a banda já tinha prometido algo diferente para esta noite. Foi então que avançaram com “Sacred Whip”, do álbum Cursed and Punished — um tema que há muito não era tocado ao vivo, num verdadeiro teste à devoção dos presentes. Com solos poderosos, uma velocidade típica do Speed e Thrash, e uma agressividade sonora contagiante, conquistaram todos em segundos. De seguida, viajaram até ao primeiro EP The Nightraiser com o tema homónimo — puro Speed Metal, que trouxe de volta um Circle Pit em toda a sua força. A velocidade desafiante da música parecia contrariar as leis da física, enquanto a energia que se espalhava pelo espaço ia além da compreensão. “Ritual Blade”, tocada pela primeira vez ao vivo, foi executada com precisão absoluta.

Os pontos altos da atuação ficaram marcados por “Under The Southern Light”, uma das malhas mais aguardadas da noite. A sala inteira ergueu os punhos e gritou “Hey” de forma incessante. O solo, esse, é de fazer vir lágrimas aos olhos e trazer memórias à superfície — numa palavra: sublime. Já nas habituais covers, destacaram-se “Iron Fist” dos Motörhead e “Filhos do Metal” dos Xeque-Mate, esta última com uma coreografia cantada em uníssono com o público. Dois temas icónicos da história do Metal, numa homenagem sentida ao legado da música pesada. O encerramento fez-se com “Metal Defenders”, já um verdadeiro hino da banda e da música nacional — uma forma brilhante de fechar qualquer concerto.

Foi um périplo completo pela sua discografia, passando por temas menos conhecidos e por outros tão adorados. Um concerto de puro Heavy Metal Clássico, com energia inesgotável, atmosfera vibrante e, acima de tudo, muita boa música. Saíram do palco deixando duas novidades: um álbum ao vivo gravado na Meo Arena e um novo trabalho de originais a caminho.

Três bandas brilhantes passaram por este palco, cada uma com o seu estilo distinto, mas unidas pelo talento e pela dedicação à sua arte. A plateia, enérgica e jovem, provou que o Metal continua a conquistar novos ouvidos. Para os velhos do Restelo que insistem em dizer que o Metal está morto, deixo uma sugestão: assistam a um concerto de qualquer uma destas bandas. Garanto que não só mudarão de ideias, como sairão de lá a sentirem-se mais vivos do que nunca.

Este foi o primeiro evento da promotora nesta sala — e, diga-se, muito bem conseguido. Talvez o ímpeto necessário para um futuro auspicioso.


Texto por: Marco Santos Candeias
Fotografias por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: DL Events