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Entrevista aos Miss Lava


Os Miss Lava regressam com "Under A Black Sun", um álbum que não só confirma a sua maturidade após 20 anos de estrada, mas também explora novos territórios sonoros. Mais denso e sombrio do que os trabalhos anteriores, este disco é uma viagem através da escuridão em busca da luz, carregado de camadas de guitarra e uma atmosfera intensa. A digressão europeia, que inclui datas em Portugal, Espanha, Bélgica e Alemanha, será a primeira como quinteto, com Hugo Jacinto em palco. E o arranque não podia ser mais simbólico: a estreia ao vivo de "Under A Black Sun" acontece já no dia 26 de abril, no LAV, a abrir para os lendários Graveyard — uma banda que os Miss Lava já acompanharam no passado e que consideram uma grande influência.

"Under A Black Sun" chega a 25 de abril pela Small Stone Records, confirmando que, duas décadas depois, os Miss Lava continuam a queimar com a mesma intensidade.

M.I. - Como descrevem a evolução sonora em "Under A Black Sun" em comparação com os trabalhos anteriores?

Acho que é uma evolução natural de uma banda com 20 anos, que se sente livre para explorar novas ideias. Tem sido sempre assim connosco — o ponto de partida para um novo disco são sempre os discos anteriores.
“Under a Black Sun” foi, para nós, uma grande viagem. Partimos do álbum anterior, “Doom Machine”, sem saber muito bem qual seria o destino final. Queríamos apenas ver até onde a criatividade nos podia levar.
Desta vez, trouxemos uma novidade: o Pedro Gonçalves (baterista), que nos ajudou a explorar caminhos nunca antes percorridos.
Em comparação, diria que este é um álbum mais denso e mais sombrio, numa busca incessante pela luz. Tem mais camadas sonoras, especialmente nas guitarras, o que nos levou, depois das gravações, a convidar o Hugo Jacinto (Dollar Llama) para dar ainda mais cor ao nosso som.


M.I. - No Bandcamp da Small Stone, mencionaste que 'Under A Black Sun' é um disco intenso, influenciado por experiências pessoais sombrias, mas que também se divertiram a criá-lo. Como equilibraram essa dualidade entre os temas densos e o prazer do processo criativo? Que 'novos territórios' exploraram neste trabalho?

Com a entrada do Pedro, houve uma nova energia e métodos diferentes que tornaram o processo criativo mais refrescante e divertido. Pôde-se explorar novas ideias, com toda a liberdade e criatividade que um “sangue novo” traz a uma banda.
O lado mais sombrio vem das experiências pessoais. Ainda estávamos a lidar com as marcas da pandemia — no meu caso, deixou-me em baixo. Juntando isso às exigências da vida profissional entre Portugal e Angola, com muito stress acumulado, houve momentos difíceis. Para teres uma ideia: tive de tirar férias do trabalho para conseguir terminar o álbum. Estava no limite, mesmo a precisar de descanso, mas fechei-me em casa, em pleno verão, durante três semanas, a escrever todos os dias, da manhã à noite.
Se já estava cansado, imagina como saí depois disso — quase em burnout.
Como se equilibra esta dualidade? Eu diria que não se equilibra. Foi esse próprio desequilíbrio que guiou a minha escrita.


M.I. - Já passaram quase 20 anos de carreira. O que mantém a chama dos Miss Lava acesa após duas décadas?

É verdade, 20 anos passaram num instante! Acho que o que mantém a chama viva é o mesmo espírito com que começámos: trabalhar para o próximo objetivo, sempre com metas a curto e médio prazo — escrever um álbum, colaborar com determinado produtor, tocar numa sala específica, encontrar uma editora que se identifique connosco, etc.
Depois de cada meta alcançada, perguntamo-nos se ainda temos força e vontade para continuar. E, até agora, temos dito que sim, sem pressões ou prazos.
Estarmos aqui, passadas duas décadas, numa viagem que segue a velocidade cruzeiro, ainda entusiasmados por promover um novo trabalho e partilhar a nossa música com mais pessoas — isso é a chama. E também a nossa amizade, que espero que nunca se apague.


M.I. - Como definem o vosso som hoje em dia?

Diria que o nosso som é Heavy Rock com nuances de Stoner, Rock Psicadélico e Grunge.


M.I. - Têm uma longa relação com a Small Stone Records. Como surgiu essa parceria e o que significa para a banda?

Na altura, enviámos os dois primeiros álbuns para várias editoras, incluindo a Small Stone, que demonstrou interesse. É uma das editoras mais importantes da cena, com muita história. Começaram a comentar os nossos vídeos e posts nas redes, e eventualmente surgiu a proposta.
Relançaram o Red Supergiant com uma nova mistura, e desde então já lançámos mais três discos com eles: Sonic Debris, Doom Machine e agora este Under the Black Sun.
É incrível estarmos associados a um catálogo tão rico em bandas que admiramos.


M.I. - A digressão europeia inclui datas em Portugal, Espanha, Bélgica e Alemanha. Que expectativas têm para estes concertos?

As expectativas são sempre altas — estamos muito entusiasmados!
Além de dar bons concertos, queremos reencontrar amigos que fizemos pelo caminho e conhecer gente nova. Vamos tocar com bandas interessantes e em sítios onde nunca estivemos, por isso esperamos que o público apareça em força.
Vão ser também os nossos primeiros concertos fora como quinteto, e com o Hugo a bordo — de certeza que vão ser milhares de quilómetros com muitas gargalhadas.


M.I. - Como surgiu a oportunidade de abrirem para os Graveyard no LAV? O que significa partilhar o palco com uma banda tão icónica?

Fomos contactados em dezembro por alguém da Prime Artists, através de um amigo em comum. Para que fosse possível, tive de alterar o meu voo de regresso de Angola — estava previsto chegar apenas dia 30.
Depois foi esperar pela aprovação do management dos Graveyard.
Não podia ser mais perfeito: lançamos o álbum a 25 de abril e começamos a apresentá-lo logo no dia seguinte, no LAV, a abrir para uma banda que nos diz muito e da qual somos todos fãs.
Vai ser a terceira vez que tocamos com eles — a primeira foi no Reverence Valada e a segunda no Stoned From the Underground, na Alemanha. Curiosamente, esse foi o primeiro concerto do Ricardo connosco. Agora será o primeiro com o Hugo.


M.I. - Têm histórias memoráveis de digressões passadas? Qual foi o concerto mais marcante da vossa carreira e porquê?

Sem dúvida, o concerto mais marcante foi quando abrimos para o Slash no Coliseu de Lisboa. Só por si, foi mágico poder estar e conversar com uma lenda do rock. Ele foi super acessível e cordial — ficámos a gostar ainda mais dele.
A atmosfera nesse dia foi incrível, eletrizante. Sala cheia, público incrível... trataram-nos como uma banda grande. Foi inesquecível a todos os níveis — o concerto das nossas vidas.
Quanto a histórias, há muitas! Mas lembro-me bem de uma nos EUA, quando fomos tocar ao Whisky a Go-Go e misturar o Red Supergiant com o Matt Hyde.
Estávamos combinados com o realizador Joerg Steineck (Lo-Desert) para filmar o vídeo da “Ride” em Las Vegas. Tínhamos reservado um carro carismático todo  XPTO... e quando vamos para levantar o carro fomos informados que o carro não pegava. Só tínhamos dois dias para filmar.
Apareceu um tipo mexicano num rent-a-car com um aspeto meio duvidoso que disse que o primo tinha o carro ideal — mas só se o fossemos buscar a um sítio remoto às 6 da manhã.
Não confiávamos muito, mas tínhamos de arriscar. Para não perdermos o dia de filmagens alterámos o script ali mesmo e passámos o dia inteiro a filmar comigo a andar a pé. Estávamos de rastos no final da noite.
Mesmo assim, no dia seguinte, com apenas uma ou duas horas de sono, fomos na fé. E estavam lá — dois primos mexicanos, com um carro maravilhoso à nossa espera. O resto é história!


M.I. - O álbum será lançado em vinil limitado. Como veem o ressurgimento do formato físico no meio digital?

A vida é feita de ciclos. No meio de tanta coisa digital, há muita gente que sente falta de ter o objeto físico nas mãos — contemplá-lo, senti-lo, até cheirá-lo.
Para muitos, um álbum não é só a música: é uma experiência, uma peça de arte, com capa, letras, fotos...
Eu sou suspeito para falar do vinil porque nunca deixei de comprar música em formato físico. Na verdade, nem me lembro de alguma vez ter comprado música digital — nem uso Spotify. Saco muita coisa da net, sim, mas quase tudo o que gosto, acabo por comprar — em vinil, em CD ou até duplicado.
Tenho uma coleção com mais de 1200 vinis e mais de 1500 CDs.


M.I. - Se pudessem colaborar com qualquer artista (vivo ou falecido), quem escolheriam e porquê?

Não sei se falo por todos, mas a minha escolha seria o Ozzy.
Tenho muitos heróis — Jeff Buckley, Voivod, Rush... — mas, para mim, a maior figura do metal de sempre é o “Prince of Darkness”. Ter o nosso nome associado ao Ozzy Osbourne seria alcançar a imortalidade enquanto banda.

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Entrevista por Diana Fernandes