
Anonimato. Uma coisa que nos nossos tempos é difícil, se não quase impossível de manter. Artistas como Ghost, Slipknot, Myrkur, Gaerea, entre muitos outros, usaram esse “trunfo” no início de carreira, mas acabaram por abandoná-lo, quanto mais não seja porque a identidade acabou por ser revelada. Ora, outras bandas como os Sermon, conseguem manter o anonimato. E esse foi o apelo inicial dos The Armed, um colectivo de músicos da cena hardcore que durante anos manteve o anonimato, usando vários mecanismos como contratar actores para fingir que eram membros da banda durante entrevistas ou usando formações diferentes ao vivo.
Essa também foi uma das razões porque não ouvi a música deste grupo, por considerar que a utilização do anonimato era apenas uma ferramenta de marketing que estes usavam para atrair atenção para si mesmos. A própria criação de uma história à volta da banda e dos seus colaboradores também enche vários sites de música. Ora, um dos colaboradores da banda é o enigmático Dan Green.
Este é a personagem principal do vídeo-álbum (ou concert film) Ultra Pop Live At The Masonic Temple. Ele vai guiando os vários membros dos The Armed pelas diversas áreas do espaço de concertos, três zonas onde três variações da banda actuam. E nós como audiência somos também guiados pelas várias actuações e pelos interlúdios narrativos que enriquecem esta experiência audiovisual.
E foi assim que eu acabei por ficar fixado nos The Armed, e na música de Ultra Pop interpretada na perfeição pelos vários elementos da banda. Toda a narrativa deste concert film é hipnotizante. E para mim o maior expoente desta arte de conjugar uma actuação ao vivo com uma narrativa é o extraordinário Stop Making Sense dos Talking Heads. Por outras palavras, a bitola é bastante elevada, mesmo neste contexto da indústria musical onde os concert films se tornaram um forma de as bandas chegarem ao seu público, especialmente no pós-Covid (os Code Orange lançaram vários concertos neste formato com grande sucesso durante este período).
Ora, Ultra Pop Live At The Masonic Temple é uma actuação que merece ser vista e revista. Por um lado, acaba, de certa forma, com o anonimato que pautou os anos iniciais deste colectivo. Por outro lado, os vários temas de Ultra Pop ganham uma vida nova com esta versão ao vivo. Para mim o destaque vai para o segundo tema “All Futures” e para o final climático do concerto em que todos os elementos da banda destroem os instrumentos após tocarem o último tema.
Creio que este formato de concert film é um dos melhores para um artista se mostrar aos seus fãs e, na minha opinião, com Ultra Pop Live At The Masonic Temple os The Armed vão conseguir chegar a um maior público, com a sua fusão de hardcore com pop, com temas contagiantes e uma actuação sempre intensa por parte dos seus membros. O próprio facto de o concerto já ter alguns anos mas ter sido agora disponibilizado em “sinal aberto”, passo a expressão, no Youtube permitirá que a voz dos The Armed seja ouvida por mais pessoas.
Nota: 9/10
Review por Raúl Avelar