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Reportagem: Architects, Brutus e Guilt Trip @ Sala Tejo, MEO Arena - 22/03/2025


Praticamente 11 anos depois de terem atuado no Lisboa ao Vivo e na ADAC, em Pombal, em junho de 2014, os Architects voltaram a Portugal, desta feita para apresentarem uma setlist completamente diferente da anterior e uma sonoridade mais melódica e refinada, mantendo-se, no entanto, relevante para os apreciadores de música pesada contemporânea, conforme se pôde constatar na presença massiva de fãs no concerto do sábado passado.

Além de o headliner desta noite ser fortíssimo, os espectadores tinham seguramente noção de que este era um cartaz bem acima da média: não estavam na abertura duas bandas apenas para preencher tempo, mas para acrescentarem valor e diversão. Por isso, muito do público que encheu a Sala Tejo já se encontrava no recinto, pelas 20 horas, para apreciar a performance dos Guilt Trip. O próprio vocalista desta banda de Manchester agradeceu ao público por ter chegado cedo e dado uma oportunidade aos Guilt Trip. A sonoridade do grupo baseia-se num hardcore metalizado, com óbvias influências de Machine Head old school, e resultou muito bem neste contexto ao vivo, tendo resultado numa atuação enérgica e poderosa, cheia de groove e momentos para headbanging. Meia hora bastou para os Guilt Trip tocarem oito músicas, sem momentos mortos, deixando uma boa impressão aos presentes, naquele que foi o primeiro concerto deste grupo britânico em Portugal.

Mais melódica e emocional, mas igualmente intensa, foi a performance arrebatadora dos Brutus. Os belgas não eram a atração principal da noite, mas, durante sensivelmente três quartos de hora, o palco e a sala de espetáculos foram seus, tendo os seus temas sido bastante aplaudidos. A meio do concerto, já com o público conquistado, e depois de terminarem um momento calmo e emotivo como "Miles Away", com a vocalista a cantar de modo improvisado "eu vou dormir por mais um ano", veio a tempestade com "Brave". Em seguida, tocaram aquele que foi um dos momentos altos da atuação, o tema "What Have We Done", que Stefanie Mannaerts dedicou a todos os intervenientes na tour, afirmando estar grata por participar. Stefanie é um dos destaques desta banda, sem menosprezo para os restantes elementos, até porque tem o dom invulgar de cantar e tocar bateria em simultâneo — algo que, por si só, já impressiona, mas que a belga executa magistralmente ao vivo. A voz nem sempre soa ao vivo como nos álbuns, mas soou incrivelmente bem e mais visceral em palco. "Sugar Dragon", tema mais longo, terminou o concerto em grande estilo, superando até a versão de estúdio. A banda já havia estado em Portugal em 2022 e 2023, e com este concerto merece voltar cá, desta vez em nome próprio, depois de ter dado outra cor ao espetáculo desta noite.

Antes mesmo de os Architects entrarem em palco, o público já gritava pelo nome da banda, o que não admira, já que a espera foi longa — mais de uma década desde a última atuação no país. A banda liderada por Sam Carter entrou de rompante com os riffs contagiosos e um refrão pronto a ser cantado por todo o público do tema "When We Were Young", seguido do groove pegajoso de "Whiplash", momento em que o vocalista pediu aos fãs para ficarem de joelhos e depois saltarem. Em "Brain Dead", o mais recente single do novo álbum, Sam apelou aos fãs para abrirem um circle pit, bem como um wall of death, devido ao ritmo acelerado do tema, que convidava a essa reação. Em "Deep Fake", ficou mais uma vez demonstrado — se ainda restassem dúvidas — que o público sabia as músicas de cor e estava desejoso de as celebrar junto da banda inglesa. Depois de uma poderosa "Impermanence" e de "Meteor" ter colocado quase todos os presentes a cantarolar na parte final, seguiram-se alguns dos momentos mais calmos do concerto, começando pela curta "Red Hypergiant". A seguir, Sam Carter pediu ao público para aplaudir os músicos "fantásticos" que o acompanhavam e para acenderem as luzes dos telemóveis durante a emotiva "Everything Ends".

Seguiu-se um aumento gradual de intensidade, com momentos dignos de menção, como o público a cantar sozinho no início de "Royal Beggars". "Curse", uma música com um ótimo equilíbrio entre peso e acessibilidade, foi a escolhida para os Architects dedicarem aos seus amigos do Brutus e aos seus conterrâneos do Guilt Trip — e os fãs receberam muito bem este tema -, um dos destaques do novíssimo álbum do grupo. Depois de uma pequena alusão a "Gone With the Wind", tocaram na íntegra o clássico "Doomsday", sendo estas algumas das exceções à regra de focarem o alinhamento nos álbuns mais recentes — tendência que, no entanto, se manteve nos últimos três temas da noite. "Blackhole" e "Seeing Red" foram as últimas escolhas do novo álbum, e a ótima atuação terminou com o público a vociferar o refrão da inevitável "Animals".

Após este concerto bem-sucedido, tanto a nível da prestação da banda como da recetividade por parte dos fãs — que acorreram em grande número à sala de espetáculos lisboeta —, é de esperar que não seja necessário aguardar mais uma década pela próxima atuação dos Architects em Portugal.


Texto por Mário Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Tavares
Agradecimentos: Prime Artists