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Entrevista com Marko Hietala


Marko Hietala, o renomado baixista e vocalista, anteriormente dos Nightwish e Tarot, está de volta com o seu segundo álbum a solo, "Roses From the Deep". Este álbum explora as profundezas do rock clássico progressivo e pesado, com incursões ocasionais em atmosferas sinfónicas.
A jornada de Hietala tem sido de crescimento pessoal e redescoberta, à medida que navegou pela depressão e ansiedade até encontrar uma nova paixão pela música. Este álbum promete uma experiência poderosa e emocional, exibindo a sua mestria musical e letras profundamente pessoais. Tivemos uma pequena conversa sobre o novo álbum.

M.I. - Como tem sido este período para ti?

Estou bem, obrigado. Estou a fazer uma pausa depois de terminar a digressão de Natal em que participo há quase 20 anos. Passei algum tempo de férias e agora estou com a minha família até fevereiro. No dia 1, voo para Helsínquia para começar os ensaios para os próximos concertos.


M.I. - Ouvi alguns dos teus singles. São realmente bons.

Obrigado.


M.I. - Como descreverias este álbum a alguém que te ouve pela primeira vez?

É forte e poderoso, transitando entre o rock clássico e o metal, com uma boa dose de rock progressivo. Eu chamaria a isto rock clássico progressivo e pesado, por vezes com toques sinfónicos.


M.I. - Em que é que este som difere do teu trabalho anterior com Tarot e Nightwish?

Defendo totalmente o tempo que passei nos Nightwish porque adoro fazer as coisas com os mesmos princípios. Mas agora estou focado em agradar a mim mesmo e não em seguir as regras da música mainstream. Um bom refrão é sempre positivo, mas há outras formas de impactar os ouvintes.


M.I. - Fiquei muito triste quando anunciaste que ias sair dos Nightwish.

Eu próprio estava num estado triste.


M.I. - Imagino que essa decisão não tenha sido fácil. Fiquei feliz por te ver de volta com "Phantom of the Opera", ao lado da Tarja.

Obrigado! Isso desencadeou muitas coisas. Eu e a Tarja já tínhamos falado em 2017, quando cantámos na mesma digressão de Natal. Mais tarde, recebemos um convite para tocar no Fizz Festival, e ela enviou-me uma mensagem a perguntar se eu estaria interessado em fazer "Phantom of the Opera". Foi uma experiência emocionante.
Já estávamos a preparar material para o meu álbum a solo, incluindo "Left on Mars". O meu guitarrista, Wäinölä, sugeriu que poderia ser um dueto, e percebi que ele tinha razão. Enviei à Tarja uma demo onde eu cantava a parte dela uma oitava abaixo. Ela adorou a música e gravou-a. Quando a apresentámos ao vivo num festival suíço, a reação do público foi incrível—algumas pessoas choravam, outras riam.


M.I. - Muitos fãs dos Nightwish adorariam ver uma reunião com a Tarja, por isso este dueto teve um grande impacto.

Teve, sem dúvida. Isso fez-me perceber que precisávamos de finalizar "Left on Mars" rapidamente e lançar um vídeo. O álbum já estava gravado e em processo de mistura, mas "Left on Mars" saiu antes mesmo de estar totalmente masterizado.


M.I. - Pensámos que seria um single de um novo álbum da Tarja.

Temos um acordo: ela fez um dueto no meu álbum, e eu farei um no dela quando tiver material pronto.


M.I. - Enfrentaste desafios na composição ou gravação deste álbum depois de saíres dos Nightwish?

Passei por diagnósticos certos e errados. Disseram-me que tinha depressão, mas era um efeito secundário, não a causa principal. Descobrimos isso depois de 20 anos. As pessoas acham que deixei os Nightwish, mas a verdade é que deixei tudo. Precisava de me afastar das exigências da indústria.
A minha ansiedade e depressão eram tão graves que não conseguia dormir bem. A minha mente estava cheia de pensamentos negativos. Afastei-me de tudo e fui para Espanha à procura de ajuda, e, surpreendentemente, encontrei-a rapidamente.
Um psiquiatra na Finlândia sugeriu que eu fosse testado para TDAH. Fiquei surpreso, mas descobri que o TDAH está muito ligado à depressão e à ansiedade. Compreendi que sempre me senti alienado. A comunicação com os outros sempre foi cheia de mal-entendidos, e isso gera sentimentos de inutilidade, depressão e ansiedade.
Depois de ajustar a medicação para focar no TDAH, tudo mudou. De repente, consegui pensar com clareza, dormir melhor e até lembrar-me dos meus sonhos. Foi transformador. Voltei a escrever música e letras e, quando as restrições da COVID-19 aliviaram, a banda sugeriu que trabalhássemos no álbum. Enviou-lhes algumas demos e pusemos mãos à obra.


M.I. - Qual o significado do título do álbum, "Roses From the Deep"?

Veio da própria música, que é uma história romântica de fantasmas. Mas também tem um significado simbólico para o álbum, representando o processo de composição e criação.


M.I. - Alguma faixa tem um significado pessoal mais profundo para ti?

"Left on Mars" é um tributo à minha esposa, que passou por momentos difíceis por minha causa. Tem um simbolismo sci-fi para representar a distância emocional que eu sentia.
"Frankenstein’s Wife" é uma mistura de terror, romance gótico e comédia. É bonita e um pouco sangrenta, mas divertida.


M.I. - O álbum será lançado em CD e vinil vermelho. Porquê apostar em formatos físicos quando muitos artistas dependem do streaming?

O streaming é inevitável hoje em dia, mas ainda há muitos fãs old-school que gostam de cópias físicas e dos livretos com letras. Cresci na era do vinil e continuo a gostar das capas grandes e das folhas de letras.


M.I. - Lançaste quatro singles até agora. Como se encaixam na narrativa do álbum?

Encaixam bem. Os membros da banda vêm de diferentes contextos, mas respeitam-se musicalmente. Gostamos de rock pesado e metal, mas também temos influências progressivas. As músicas têm identidades distintas, mas fazem sentido juntas como um álbum.


M.I. - Como imaginas a tua música a evoluir nos próximos anos? Pretendes lançar mais álbuns a solo?

Não tenho o dom da profecia, mas a música faz parte da minha vida. Se tiver boas ideias, vou lançá-las.


M.I. - Então, prometes um terceiro álbum a solo?

Prometo. Acredito que existem infinitas realidades paralelas, e em muitas delas, há um terceiro álbum meu.


M.I. - Estás a planear vir a Portugal nesta digressão?

Não me lembro. Janeiro é o meu mês de descanso. Sei que vamos tocar em algumas cidades finlandesas após o lançamento do álbum, depois nos Bálticos, Europa de Leste e Grécia. Se houver oportunidade de ir a Portugal, aproveitaremos.


M.I. - Tens alguma mensagem especial para os teus fãs?

Há fãs que esperaram muito por este álbum, incluindo em Portugal. Só posso agradecer por essa paciência e fé.


M.I. - Obrigado por esta entrevista, Marko. Vemo-nos em Portugal!
Obrigado! Até breve.

Ouvir Marco Hietala, no Bandcamp

Entrevista por Isabel Martins