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Entrevista aos Apocalypse Orchestra


Com a sua fusão de melodias folclóricas medievais e um metal pesado e carregado de doom, a banda sueca Apocalypse Orchestra conquistou um lugar único na cena da música pesada. O seu tão aguardado segundo álbum de estúdio, A Plague upon Thee, lançado no dia 14 de fevereiro, oferece uma viagem arrepiante através da história, mitologia e das profundezas da alma humana. Tivemos o prazer de conversar com a banda sobre este novo trabalho, o processo criativo por trás do seu som distintivo e a forma como os temas históricos continuam a moldar a sua música. Desde os desafios de trazer instrumentos medievais para um contexto de metal moderno até às emoções que alimentaram A Plague Upon Thee, a nossa conversa revelou a arte e a visão por trás do álbum.
Continuem a ler para descobrir o que os Apocalypse Orchestra têm a dizer sobre esta nova criação e o que o futuro lhes reserva.

M.I. - Falem-nos dos Apocalypse Orchestra, por favor.

Certo, por onde começamos? Basicamente somos uma banda que toca heavy metal lento, muito inspirada em imagens e temas medievais em geral. Utilizamos instrumentos medievais históricos misturados com instrumentação de metal normal. Toco gaita de foles e acordeão, e também temos guitarras elétricas, baixo, bateria e muitos órgãos.


M.I. - A Plague upon Thee finalmente está a chegar! Como descreveriam a evolução do som dos Apocalypse Orchestra em comparação com The End is Nigh?

Michael - Bem, acho que melhorámos enquanto compositores, melhorámos com a experiência de tocar as músicas do último álbum ao vivo e também ao ver como o público reagiu. Sabíamos o que funcionava para nós e para o público, por isso acho que este álbum tem mais a ver com o que realmente gostámos no primeiro álbum.
Andreas - É um pouco mais sólido, diria eu. O último era um pouco mais variado, mas experimentámos coisas diferentes. Este parece ter um fio de ligação a percorrer todas as músicas e a mantê-las unidas. Depois, adicionámos alguns instrumentos novos também para mudar um pouco o som, não muito, mas há detalhes aqui e ali que adicionámos.


M.I. - Quais foram os instrumentos novos?

Ouvimos um pouco de douer martelado, é como um precursor do piano, é como uma tábua com cordas e depois martela-se as cordas com pequenos martelos e é um som muito brilhante que adicionámos em alguns lugares.


M.I. - A vossa música é uma poderosa mistura de folk medieval e metal moderno. Como abordam a mistura destes dois mundos aparentemente distantes?

Michael - Depende de onde se começa, porque, quando escrevemos as nossas músicas, às vezes começamos com uma melodia medieval que toco no hurdy gurdy ou algo do género e depois adicionamos-lhe outros instrumentos, mas pode ser o contrário, temos um riff de metal tocado na guitarra elétrica e depois tentamos adicionar a parte medieval ou a parte folk a isso. Portanto, não há uma pergunta específica, uma resposta específica, sobre como tudo começa, mas eles misturam-se, é bastante fácil misturá-los, uma vez que têm a mesma sensação. Melodias tristes e lentas combinam muito bem com o doom metal que usamos. O que é que ias dizer, Andreas?
Andreas - Sim, basicamente, quando começámos a escrever um álbum, pegámos em tudo, desde riffs de guitarra a progressões de acordes e metal medieval autêntico, e colocámos tudo num grande caldeirão e depois começámos a descobrir que ideias combinam entre si, depois começámos a construir a música a partir deste tipo de paleta. Tal como um pintor, temos todas estas cores e simplesmente começamos a misturá-las e a tentar encaixá-las.


M.I. - Pode falar-nos sobre o processo criativo por trás deste álbum? Houve alguma influência histórica ou literária específica que tenha ajudado a moldá-lo?

Eu diria que isso é uma grande parte! Temos, por exemplo, a maior música do nosso último álbum, “The Garden of Earthly Delights”, que é baseada numa pintura de Jeroen Bosch, uma pintura do século XVI do paraíso, da terra e do inferno, e inspiramo-nos muito em coisas deste género. Mas também há alguns livros de literatura e história, uma vez que a história é por vezes mais fantástica do que as histórias inventadas, e alguns filmes, e também ouvimos muita música medieval e inspiramo-nos nela.


M.I. - Qual é o significado por detrás do título do álbum “A Plague upon Thee”? Existe algum conceito ou história específica no álbum?

Sabíamos que precisávamos de um título que representasse o nosso som e a praga é algo frequentemente associado aos tempos medievais, por isso chamar-lhe "A Plague upon Thee" também é um pouco irónico. Quer dizer, “A plague upon you” é uma espécie de piada, mas não há qualquer tipo de tema a circular. Tudo está ligado por esta temática dos tempos medievais, mas não é um álbum conceitual, por isso achámos que o título combinava bem com a totalidade dos tempos medievais e parecia poético e bastante pesado ao mesmo tempo, por isso achámos que combinava bem.


M.I. - Algumas das vossas músicas têm uma qualidade cinematográfica, quase como uma banda sonora. Já pensaram em fazer uma banda sonora de filme ou videojogo?

Recebemos algumas perguntas sobre isso! As pessoas queriam usar algumas das nossas músicas num videojogo, mas isso não aconteceu. Eu, pessoalmente, adoraria fazer algo do género ou se quisessem usar a nossa música num trailer, seria muito giro. Vários de nós na banda jogamos videojogos e todos nós adoramos filmes, por isso seria algo muito giro de fazer. Escrever música leva muito tempo para nós, por isso, se fossemos escrever uma banda sonora, não seríamos capazes de escrever a nossa própria música, por isso... Acho que priorizamos escrever a nossa própria música, mas seria muito giro fazer algo para um filme ou videojogo.


M.I. - Os vídeos que a banda já lançou destes singles e do álbum anterior são todos muito interessantes. Quem tem as ideias para os vídeos?

Penso que depende muito de quem escreve a letra, porque quem escreve a letra da música geralmente tem uma boa compreensão de como a captar visualmente. O mesmo acontece quando escrevemos música... todos contribuímos com ideias e começamos a pensar no que funciona e no que não funciona em termos de logística. Então tentamos seguir todos os passos, fazer o storyboard e apresentá-lo ao realizador, e normalmente acaba por ser muito próximo da visão que tínhamos. Um dos maiores problemas em fazer videoclipes é que queremos fazer muito mais porque gostaríamos de ter grandes castelos e muitas coisas caras, mas, como não temos esse orçamento para os nossos vídeos, temos de os fazer com o que podemos fazer nós próprios. Por isso, fazemos quase tudo nós próprios... eu costurei algumas roupas e o Rickard, o nosso baixista, fez a coroa do rei para o último vídeo e pedimos emprestadas muitas coisas aos nossos amigos... a mesma coisa com os atores! São os nossos amigos e pais!


M.I. - Então fica tudo em família?!

Sim, na verdade, no último vídeo, o Rick, o nosso baixista, um dos seus irmãos e a sua mãe e o seu pai estão todos no vídeo, e a minha mãe também. Ela interpreta a Morte.


M.I. - Muitas vezes, as vossas letras parecem ter vindo de outra época - onde encontram a inspiração para as histórias?

Diria que é a arte medieval, para mim pessoalmente, e história, livros e alguns videojogos também. Mas quanto à parte do metal, adoro as melodias lentas e cativantes dos Type O’ Negative. O Andreas tem outras inspirações. Acho que todos temos gostos musicais muito diferentes, mas há muitas áreas em que nos sobrepomos e é aí que podemos encontrar inspiração para escrever coisas para esta banda. Esta banda é como a soma de todas as coisas de cada um de nós!


M.I. - Muitos dos vossos temas versam sobre a história, a peste e as lutas medievais. Veem algum paralelo moderno no mundo de hoje?

Essa é uma boa pergunta! Já nos perguntaram várias vezes se isto tem alguma coisa a ver com a recente pandemia, mas eu diria que não. Por vezes escrevemos sobre as lutas do homem e como conseguiu sobreviver a tempos realmente sombrios. Tudo é aberto e convidamos as pessoas a interpretar as nossas músicas porque sabemos que a história se repete, por isso acho que se nós próprios começássemos a analisar as nossas coisas, encontraríamos muitos paralelismos, mas não é intencional, é a natureza humana. Muitas coisas, muitos temas que abordamos nas nossas letras podem estar relacionados com os temas de hoje.


M.I. - A produção do álbum parece incrível! Como foi o processo de gravação? Experimentaram alguma técnica nova? Onde é que o gravaram?

Foi um processo longo para começar. O processo de gravação propriamente dito começou aos poucos, aqui e ali. Muitas coisas já estavam gravadas quando gravei a bateria, algumas coisas precisavam de ser regravadas e outras podiam ser usadas, por isso foi um processo longo e muito semelhante à montagem de um puzzle. Gravámos algumas coisas em casa, no estúdio do Eric (o nosso cantor). Construímos uma cabine de canto no nosso espaço de ensaio para podermos gravar todos os vocais lá e depois trouxemos muitos amigos para fazer todos os coros. Passámos não sei quantos meses, apenas a gravar vozes, porque éramos várias pessoas na banda. Demorou muito tempo, mas ficou muito bom e estamos contentes com o resultado. Pedimos ao mesmo tipo que misturou o nosso primeiro álbum, Per Nilsson, para misturar este álbum, e ele conhece realmente o nosso som e o que queremos, por isso foi muito fácil trabalhar com ele. Já que tenho oportunidade, direi que a bateria foi gravada nos Overlook Studios, de um amigo nosso, William Blackmon, que na verdade também é baterista, toca bateria numa banda de grindcore da Suécia chamada Gadget. Ele foi o engenheiro de som da gravação da bateria, por isso preciso mesmo de mencionar o seu nome, porque é incrível trabalhar com ele e conseguimos sempre um som de bateria incrível com ele. É muito bom que o estúdio dele seja mesmo ao lado da nossa sala de ensaios, por isso é muito fácil levar as coisas para lá e ele é um tipo muito porreiro.


M.I. - Como este é o vosso segundo álbum, sentiram muita pressão para fazer ainda melhor?

Não sei, porque desde que tivemos o hit viral "The Garden of Earthly Delights", acho que tem cerca de 21 milhões de visualizações no YouTube agora, parece que nunca seremos capazes de ultrapassar isso, mas queríamos que este álbum fosse ainda melhor, claro, mas demorámos muito tempo a fazê-lo da forma que queríamos. Senti pressão, todos sentimos. Senti que as músicas eram fortes, senti que tínhamos algo a acontecer, mas a pressão que senti foi que o tempo estava a passar, portanto isso foi mais um problema para mim do que a forma como seria recebido pelo público ou pelos fãs, mas veremos. Quer dizer, antes do primeiro single ser lançado, comecei a pensar "ok, o que é que as pessoas vão pensar sobre isto?", mas até agora as reações aos singles têm sido boas. Agora só queremos lançar o álbum e ver como as pessoas reagem, se se lembram de nós.


M.I. - As vossas atuações ao vivo são conhecidas pela sua atmosfera envolvente e teatral. Como traduzem a grandiosidade das gravações para o palco?

Quer dizer, tudo o que fazemos em palco... a música é realmente o mais importante, tentamos trazer o melhor de nós próprios. Quando tocamos, a teatralidade é algo que tem sido diferente de vez em quando, porque às vezes podemos levar connosco alguns amigos que podem dançar ou atuar ou o que for necessário para aquele espetáculo em particular. Por vezes tivemos a oportunidade de usar projeções, por isso produzimos o espetáculo todo, tínhamos um cenário digital diferente que estava sempre a mudar, depende muito do local e da logística. Se pudermos trazer algo extra, tentaremos fazê-lo, queremos realmente acrescentar algo mais ao programa do que apenas nós. Quando tocamos na Suécia, normalmente temos a possibilidade de acrescentar algo, mas se voarmos até ao local, não podemos levar muita coisa.


M.I. - Então, onde é que têm andado a tocar? Onde tocaram até agora na Europa? Já estiveram nos Estados Unidos ou na Austrália?

Estivemos muitas vezes na Alemanha, umas cinco ou seis vezes, mas também tocámos na Bélgica e em Espanha. Fizemos uma curta digressão também em Espanha, Dinamarca e Noruega. Surpreendentemente, há poucos concertos na Suécia. Nunca fomos aos Estados Unidos ou a qualquer outro continente, mas adoraríamos… vamos ver como será o álbum.


M.I. - Há algum plano para uma digressão após o lançamento do álbum? Portugal será incluído?

Não temos nada planeado agora. Temos o lançamento, a festa de lançamento daqui a duas semanas e no fim de semana depois disso iremos para a República Checa para tocar no Heathen Strike Over Brno, mas é tudo o que temos marcado neste momento.


M.I. - Algum festival?

Não, nada que possamos dizer agora. Vamos ver o que acontece, mas não temos nada planeado de momento.


M.I. - Achas que Portugal seria um ótimo local para tocarem ao vivo?

Sim, gostaríamos muito de ir aí, seria incrível, por isso, se tiverem algum bom festival, digam-nos ou contem-lhes sobre nós!


M.I. - Gostariam de deixar uma mensagem final aos nossos leitores?

Quero agradecer a todos os que esperaram pacientemente por este lançamento e espero que as pessoas ainda estejam ansiosas para ouvir as músicas e o álbum quando for lançado. Esperamos mesmo encontrar uma forma de tocar para todos os nossos fãs portugueses! Isso seria incrível!

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Entrevista por Sónia Fonseca