O ano de 2025 aparenta ser um ano promissor. Após um hiato de três anos, o dueto finlandês de Tuomas Saukkonen e Mikko Heikkilä lançará o quarto álbum de estúdio dos Dawn of Solace.
Affliction Vortex (2025) será lançado em fevereiro de 2025 e irá trazer-nos de volta os inicias vocais crus e ásperos que tanto procurávamos. Assustador, sombrio e obscuro, a Metal Imperium conversou com o talentoso multi-instrumentista Tuomas Saukkonen para saber mais sobre este novo e promissor projeto, todo o processo de desenvolvimento do álbum e um pouco da vida pessoal de Saukkonen em termos de gestão de três bandas em paralelo.
O álbum foi elaborado pela chancela alemã Noble Demon, que possui um repertório musical de black metal melódico, atmosférico e death metal onde os Dawn of Solace trazem-nos negros riffs de guitarra, letras mais sombrias e, ao mesmo tempo, vocais limpos e ásperos que assentam que nem uma luva.
M.I. - Se tivéssemos que comparar Affliction Vortex (2025) com Flames of Perdition (2022), quão distintos seriam estes dois álbuns?
Os vocais fazem uma grande diferença. Não há vocais de grunhido, exceto no álbum de estreia em 2006. Após 20 anos passados, eu e Mikko trouxemos os vocais de grunhido de volta. Não só eu com os vocais ásperos, mas também os gritos mais baixos e mais altos dele. Com os vocais de estilo de black metal do Mikko, permitiu-me escrever coisas mais sombrias, como partes realmente mais melancólicas e, no geral, estamos a falar de um álbum bem mais pesado.
M.I. - Numa das tuas publicações nas redes sociais, mencionaste os 4 estágios da criação (centelha, visão, esperança e desespero). Por que são estes específicos para os DoS?
Há algum humor nessas fases ou estágios. O início é bastante preciso: a centelha é a primeira ideia e depois colocas toda a visão dentro da tua cabeça. Felizmente, não há limites para a tua imaginação, mas quando vais gravar em estúdio é aí que o desespero toma conta.
Às vezes a tua imaginação tem camadas e elas não fazem parte do mundo físico, e nem tudo pode ser colocado no seu devido lugar. Por exemplo, na tua cabeça elas são algo que não consegues ouvir com os ouvidos. Podes colocar muita coisa nas músicas, e que acabam por não ser possível executar. No final, começas a perder a frequência ou o impulso, mas não houve qualquer lado de desespero.
Normalmente com os Dawn of Solace não me lembro dessa parte existente em nenhum álbum. O desespero ocorreria mais nos Wolheart na hora de executar os riffs e padrões de bateria, porque é definitivamente mais exigente. É preciso muito de uma pessoa para ensaiar as coisas, mas com os Dawn of Solace não temos esse aspeto exigente e físico; a música é muito mais fácil de tocar. Foi uma publicação engraçada no Instagram com o Mikko a fazer um facepalm, mas não temos essa sensação em Dawn of Solace, mesmo que nosso som seja negro e sombrio, há muita felicidade no estúdio.
M.I. - Emprestas o teu talento não apenas para DoS, mas também para os Wolfheart e Before the Dawn. Como consegues encontrar o tempo e a energia para colocar toda a tua dedicação em bandas tão diferentes?
Eu trabalho sempre um álbum de cada vez. Quando eu estava a trabalhar para Dawn of Solace, não estava a pensar em Wolfheart de Before the Dawn. Para mim, eles não coexistem ao mesmo tempo, embora eu esteja com concertos com os Wolfheart ou a escrever com Dawn of Solace.
Quando se trata de criar música, só tenho uma banda para manter a minha atenção. É super simples e muito natural desenvolver cada álbum por ano, quando consigo dividir a atenção. Trabalhar com 2 álbuns simultaneamente seria muito confuso para mim, e não iria gostar. Focar num álbum de cada vez é como eu gosto de fazer. Uma vez mais, eu podia estar a tocar ao vivo com outras bandas, mas a parte criativa não está relacionada com isso. Seria repetir a existência, em vez de usar qualquer parte da minha força criativa enquanto estou em tour.
M.I. - Uma mistura perfeita de riffs pesados com melodias sombrias e assustadoras. Podemos dizer que “Invitation” é a personificação dessas categorias com a voz assustadora de Mikko e os teus vocais crus e riffs de guitarra?
É sim! Acho que o que tornou o álbum saudável também foram os solos de guitarra do Jukka. Nos dois álbuns anteriores ele também participou nos solos de guitarra.
O plano original era para ser mais o vocal do Mikko, uma estrutura mais tradicional com dois versos limpos. Em vez disso, dei ao Jukka outra direção e liberdade para onde ele queria fazer o solo e a duração dupla de um solo. Acabou por soar tão bem, e decidimos não colocar mais os vocais aqui, e dar mais espaço para o Jukka. Mudou completamente o arranjo principal, mas para melhor.
Acho que essa é a ideia das músicas dos Dawn of Solace em geral. A combinação perfeita de tudo.
M.I. - Onde foi gravado o vídeo de “Murder” e por que escolheste aquele cenário?
Foi gravado em estúdio. É a minha música favorita do álbum. Acredito que este seja o melhor álbum dos Dawn of Solace até agora. Claro, ter o Mikko como engenheiro de som ajudou muito. Pelo menos para mim, ajuda-me a ter um lado visual da música, a ligar a música ao espaço, bem como ao cenário onde o álbum foi feito.
O cenário do estúdio, com um aspeto bem antigo, ajuda bastante a construir a combinação perfeita. Encaixa muito bem. Essa música combina muito bem com o lugar que escolhemos.
M.I. - Parece-nos que há um padrão em todas as obras de arte dos DoS: a natureza. Isto é propositado e por que a escolha das imagens de Affliction Vortex?
Esta é a primeira vez que retrocedo completamente na criação. Normalmente, eu escrevo as músicas e depois mostro-as ao Mikko, e o mesmo acontece nos Wolfheart e Before the Dawn. Aí começamos a trabalhar a partir dessa visão inicial, mas para este álbum entrei em contato com um designer através do Facebook.
Entrei em contato com ele há cerca de dois anos. Perguntei-lhe quanto custaria ter a arte dele no próximo álbum. Os ramos das árvores e o cenário formam aquele vórtice visual, que assenta muito bem no título do álbum. Além disso, eu queria que ele combinasse a capa com as letras e as músicas. Basicamente, eu estava a construir uma banda sonora para a capa do álbum, e não o oposto.
É importante ficarmos de olhos abertos para termos inspiração, inclusive nas redes sociais. Para a música “Fortress” decidi inspirar-me nos poemas de um bombeiro australiano. Quando estávamos num concerto, li alguns de seus poemas que encaixavam muito bem nos Dawn of Solace, e ele deu-nos permissão para usar os seus poemas. Foi estar no lugar certo à hora certa, onde este álbum veio de direções um tanto acidentais, mas muito boas.
M.I. - Para comemorar o lançamento deste próximo álbum, vocês vão estar na Finlândia e na Suíça. Mais algum próximo concerto para este ano?
Faremos três concertos. Será o ano mais agitado em 19 anos. Vamos anunciar também alguns concertos porreiros. Eu gosto desta abordagem. Um concerto com os Dawn of Solace é algo muito especial e exclusivo.
Com os Wolfheart e Before the Dawn, posso facilmente fazer 16 ou 17 concertos por ano. É uma abordagem diferente. Com os Dawn of Solace, é algo memorável para nós, diferente para a banda e mantém as coisas mais frescas.
M.I. - O que tens ouvido ultimamente para recomendar aos nossos leitores?
Tenho ouvido muitas pré-produções e misturas finais de um álbum, mas ainda não posso revelá-las.
Quando terminei a tour com os Wolfheart, em dezembro, voltei a treinar no ginásio, ouço principalmente Orbit Culture e Whitechapel antigo. Estas são as bandas que ouço no ginásio. Eu não crio nenhuma playlist; geralmente é Whitechapel de 2012 ou a produção inteira dos Orbit Culture.
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Entrevista por André Neves