Por esta altura já devem ter reparado no nome do novo trabalho dos Murro. E que tal para o título de um álbum? Demasiado longo? Não me parece que eles se tenham sequer preocupado com isso e depois de o ouvirem, vocês irão partilhar da minha opinião.
Confesso que o anterior trabalho, Misantropo, me surpreendeu pela sua agressividade, por ser tão direto e objetivo. Este novo álbum consegue ser ainda mais rápido e mais agressivo. As letras dos temas são verdadeiros socos no estômago da sociedade onde vivemos e foram elaboradas com mestria. Os alvos continuam a ser os mesmos: as políticas de direita, o patronato explorador e por aí fora. Tudo isto sob o ponto de vista da vítima, ou melhor, do explorado, que pode muito bem ser qualquer um de nós. Os Murro não se limitam a pôr o dedo na ferida. Eles abrem-na e esfregam-na com sal.
Onze temas compõem este álbum. Eles não se contentam apenas em apontar o problema, apelam mesmo à rebelião como se pode ouvir em “Bastonada” - tema inicial -, “Facada” e “Força de Cavalo”, o último deste disco. Podemos enquadrar a sua sonoridade dentro do punk e hardcore, mas com um estilo muito único, próprio, em grande parte por culpa da voz de Hugo Cão.
“Elizabete” foge um pouco ao padrão dos temas deste álbum, que é um autêntico grito de revolta no seu todo. Vão encontrar nele alguns palavrões, aviso desde já. Incomoda-vos? Os Murro lembram que há assuntos que vos deviam incomodar mais e até preocupar. “SNS” é um exemplo do que acabei de dizer. Não existe matéria que seja demasiado complexa, ou sensível, para esta banda nacional que canta em bom português.
"Dissertações De Um Cidadão Comum Desesperado Prestes A Cometer Um Atentado", foi lançado no passado dia 11 de novembro e teve um concerto de apresentação no Vortex no dia 16 do mesmo mês. Podia dizer que este álbum foi uma agradável surpresa, mas não, ele apenas apresenta uma evolução natural de um grande projeto nacional.
Nota: 8,5/10
Review por António Rodrigues