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Reportagem: Lisbon Tattoo Rock Fest (dia 3) @ L.A.V. Lisboa – 06.10.2024


Num piscar de olhos chegámos então a este terceiro e último dia de festival que ficou marcado pelo cancelamento à última da hora por parte dos House Of Dawn. Tinham sido a mais recente adição a este cartaz, juntamente com Michale Graves, quase como um bónus, e talvez por isso a sua desistência não tenha causado grande descontentamento. Tudo isto levou a uma reformulação no horário de atuação das bandas que, quanto a mim, ficou a fazer mais sentido nesta nova forma.

Os Capela Mortuária vieram de Braga para darem início a este primeiro dia de concertos. Mais uma atuação muito interessante de uma banda portuguesa neste festival, mostrando que a música nacional está forte e recomenda-se. O quarteto até parecia estar a jogar em casa nesta que foi a sua terceira visita à Capital. O pouco público presente esteve à altura e respondeu às provocações do quarteto, o que originou desde cedo muita agitação junto ao palco. O mais recente trabalho, o álbum Monstro, esteve em destaque e houve a ainda oportunidade para um miminho, pois “Troops Of Doom”, cover de Sepultura, fez parte do alinhamento desta noite. Boa thrashalhada que fez valer a pena ter comparecido atempadamente no recinto para este derradeiro dia.

Seguiu-se Michale Graves que tinha uma grande legião de fãs à sua espera, avaliando pelo número de t-shirts dos The Misfits que se viam. O vocalista apresentou-se em grande forma para uma verdadeira viagem no tempo que percorreu grande parte dos temas dos gigantes nova iorquinos, pioneiros do que ficaria conhecido como horror punk. O seu visual à Misfit, onde não faltou a maquilhagem, contrastava com o dos músicos que o acompanham nesta digressão, que era mais casual. Quanto à música, desde cedo tivemos pérolas como “American Psycho” ou “Walk Among Us” que fizeram as delícias de quem assistia e ia cantando os temas. O primeiro grande momento deu-se com “Last Caress”, seguido por “Mommy, Can I Go Out And Kill Tonight?” que originou um enorme circle pit na sala. Antes de “Witch Hunt” houve tempo para um pouco de Doors (à capela) e de seguida um discurso de Michale, revelando que a razão que o move é unicamente fazer chegar a sua música a todos os que se identificam com ela. “We Are 138” foi outro dos temas mais celebrados na sala e o concerto terminaria com a tão pedida “Helena”. Mais de uma hora de música e para cima de 20 temas. Obrigado, Sr. Graves e até uma próxima. Que não demore muito o seu regresso a Portugal.

Nova visita de Nergal ao nosso país, desta vez com o seu projeto paralelo aos Behemoth, os Me And That Man. O ritmo baixou durante a atuação do polaco, o que não foi de todo negativo. As sonoridades procuradas pelos Me And That Man passam pelo rock, folk, country e blues. Quem não conhecer pode estar a torcer o nariz ao ler estas linhas, mas o resultado é algo de fantástico que resulta também muito bem ao vivo, como se veio a comprovar uma vez mais. Com letras bem negras, é difícil ficar indiferente a temas como “My Church is Black”, ou “Burning Churches”, por exemplo. Com uma banda muito bem montada, a maioria dos temas é cantada pelo seu baixista italiano, se bem que Nergal tenha também um papel muito importante nessa missão. “Got Your Tongue”, a mais ritmada da setlist veio dar um abanão à atuação dos Me And That Man para depressa chegarmos ao mais recente single, “White Faces”, que é uma cover de Roky Erickson, falecido músico muito apreciado pelo vocalista/guitarrista polaco. A maior surpresa da noite estava guardada para o final, quando foi anunciada a chamada ao palco de Michale Graves para interpretar “Blues & Cocaine” com a banda de Nergal. Alguém poderia querer uma melhor forma de terminar este concerto?

O encerramento deste festival iria ser feito com estrondo. Quem já assistiu a um concerto dos Onslaught sabe do que me refiro. A banda inglesa pode ter tido várias alterações na sua formação, mas nunca tirou o pé do acelerador. Nas suas atuações ao vivo isso fica bem patente, pois são sempre poderosas, do primeiro ao último minuto. Para terem uma pequena ideia, foi criado um circle pit ainda no primeiro tema, “Let There Be Death”, que se prolongou durante toda a atuação. Um sinal de alarme serviu de introdução enquanto o quarteto ia tomando o seu lugar no palco e depois foi quase preciso suster a respiração para o que se seguiu. Que energia. Os Onslaught têm tudo o que uma boa banda precisa e onde se deve realçar um grande guitarrista solo, um vocalista que sabe puxar pelo público e nunca deixar que o concerto esmoreça e ainda um baterista que é uma autêntica força da natureza. Todos os temas foram em alta rotação, mas podemos destacar “66´Fucking 6”, “Killing Peace” e também “Onslaught (Power From Hell)”. Esta hora de pura loucura de thrash metal speedado terminou com uma relíquia. Refiro-me a “Thermonuclear Devastation”, primeiro tema escrito pela banda, corria o ano de 1983.
Parabéns à organização pelos soberbos três dias de música. Quer tenham assistido a um, dois, ou a todos os dias do evento, a satisfação estava patente nos rostos dos espetadores. Se duvidam desta minha afirmação, deixo-vos uma pergunta: No final do festival, alguém se lembrava ainda que os G.B.H. eram para estar presentes nesta edição?


Texto por António Rodrigues
Fotografia por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: Hell Xis Agency