No thrash metal como em tantos outros géneros do metal, existem bandas que têm carreiras longas e prolíficas, como, por exemplo, os Overkill, que parecem ter uma predisposição genética para lançar bons álbuns. Outras, embora tenham lançado trabalhos de algum relevo e muito apreço junto do público admirador das sonoridades mais rápidas, pesadas e técnicas, lançam um ou 2 trabalhos e depois desaparecem mais depressa do que a fama dos participantes de um qualquer Big Brother.
Como exemplos posso citar o álbum Victims of Science dos Gammacide de 1989, ou Urcertain Future dos Forced Entry do mesmo ano. Como é percetível recomendo vivamente a audição destas pérolas ocultas do thrash.
Seria também em setembro deste ano que estes californianos lançariam o seu trabalho mais celebrado intitulado Annahilation of Civilization. Incluindo uma capa icónica, numa altura em que ainda era condição sine qua non para um disco de thrash metal ter trabalho gráfico idealizada por Edward J. Repka (Vio-Lence, Nuclear Assault, Megadeth, Death, Possessed, Toxik, Atheist, entre muitos outros).
O trabalho deste artista está ligado de forma intrínseca ao metal, assim como o trabalho do Derek Riggs está de forma indelével associado às capas de Iron Maiden. O trabalho gráfico em Brave New World iria ser fabuloso, se o ego do senhor Bruce Bruce (não é erro tipográfico, este vocalista era conhecido por este nome artístico, quando ainda estava nos Samson) não tivesse deitado tudo por terra. Creio que todos podemos concordar que a capa de Dance of Death é uma das piores a adornar um disco de qualquer estilo musical, portanto parabéns para o vocalista dos Iron Maiden.
Trinta e cinco anos depois do primeiro disco, os Evildead editam este que é o seu quarto trabalho de longa duração, segundo desde a reunião da banda em 2016. Disco que conta com quatro membros da formação que gravou o primeiro trabalho, Rob Alaniz na bateria, Juan Garcia e Albert Gonzales nas guitarras, Phil Flores nas vozes e Karlos Medina que é baixista da banda desde 1990 (com alguns interregnos pelo caminho). O contrato desde o início da carreira discográfica é com a alemã Steamhammer. Portanto, temos aqui uma banda com uma formação solida, apoiada por uma editora que sabe divulgar bandas de metal.
Pelo que consegui apurar “online” este trabalho foi bem delineado, composto com todo o cuidado e interpretado com grande profissionalismo e destreza pelos músicos envolvidos.
Aqui não temos o frenesim caótico de discos como os primeiros trabalhos de Kreator nos quais o compasso, afinação e progressão melódica eram noções tão desconhecidas, como encontrar alguma réstia de talento na grande maioria dos artistas “pop” que povoam o nosso panorama musical.
No entanto, esses discos primitivos continham uma força, uma atitude, uma agressividade inocente que advinha da inexperiência dos músicos que hoje é, pelo menos para mim, saudosa.
Continuam a ter uma vertente marcadamente política nas suas letras, que apontam para injustiças sociais, pressão governamental, desigualdades. Mas tentam ser o mais inteligível possível nas suas composições. Soam quase como uma versão light dos Sacred Reich e digo isto com o maior dos respeitos.
A produção é equilibrada, com as guitarras a soarem como navalhas a serpentear pelos nossos ouvidos, ritmos frenéticos de bateria, com momentos mais cadenciados à mistura, e um baixo personalizado e perfeitamente audível (afinal é possível fazer um bom disco de thrash metal com baixo, certo Lars?).
Não é um clássico cabal, não é um disco fraco, é um disco personalizado, feito por músicos com experiência num género que tem tido nos últimos anos vários projetos interessantes. Bandas como Gamma Bomb, Evile, Suicide Angels, Angelus Apatrida, Dust Bolt entre muitos outros, mantêm a chama do thrash metal, acesa.
Podem-me chamar saudosista, mas continuo a preferir as bandas clássicas do estilo, da mesma maneira que prefiro um documento original a uma fotocópia.
Nota: 6/10
Review por Nuno Babo