Os Moonspell têm o maior desafio da sua carreira no final do corrente mês: um espetáculo em nome próprio na Meo Arena. O grande concerto sinfónico do dia 26 de outubro, intitulado Opus Diabolicum, vai juntar a força do Metal com a magnitude do clássico. Em palco, com a banda, estarão 45 músicos da Sinfonietta de Lisboa, dirigidos pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo. Os arranjos musicais são da autoria de Filipe Melo. A propósito deste evento, Fernando Ribeiro esteve à conversa com a Metal Imperium.
M.I. - Boa tarde! Tens estado em estúdio a trabalhar para o monumental espetáculo “Opus Diabolicum” que aí vem?
Não, estamos a preparar o álbum de estúdio do “Soombra”, da tournée acústica que fizemos e que ainda não sabemos muito bem quando vai sair. Nós acabamos a tournée no dia 27 de setembro em Fafe e decidimos que, em vez de lançarmos o costumeiro álbum ao vivo e DVD, etc, iremos lançar também um álbum de estúdio e gravado mesmo como se as canções fossem canções de estúdio para termos outro registo. É nisso que estamos a trabalhar. Ainda não estamos a trabalhar em música nova, para já é só mesmo Meo Arena e a tournée com os Dark Tranquillity.
M.I. - Quão diferente é a preparação deste espetáculo quando comparada com a preparação de outro espetáculo qualquer?
Para já, é a magnitude do espetáculo. Só em palco são 50 músicos, portanto uma das principais dificuldades e desafios é nós falarmos uma linguagem própria, não é? Começa logo no contacto com o maestro Vasco, passa pelos arranjos orquestrais escritos e feitos pelo Filipe Melo e, a partir daí, produzem-se as pautas com que os músicos vão ler primeiro antes de contactar propriamente com os Moonspell. Isto da parte musical tem este desafio. Depois temos a parte cénica em que estamos a falar de um espetáculo para milhares de pessoas, um espetáculo muito aguardado pelos nossos fãs e, como tal, há uma responsabilidade ainda maior de não nos defraudarmos nesse aspeto. Temos que ter as ideias e falar com as pessoas que vão estar no palco, também com os técnicos, fazer os desenhos todos, tudo isso. E, finalmente, há a parte da produção que é a parte mais exigente, ainda mais que a musical, porque a música faz-se com todo o prazer. A parte da produção ou administrativa é muito mais complicada, mas juntamente com a nossa equipa, nós fazemos isso, e vai desde a pessoa que vai fotografar, às acreditações de imprensa, aos convites, ou ao que é que se vai comer ou o que é que não se vai comer. Portanto, isto ao fim e ao cabo, é uma produção da Crumbs que é a entidade que nos convidou, mas também tem o dedo dos Moonspell em todas as fases. Portanto, para responder assim mais brevemente à tua pergunta, é mesmo uma questão de dimensão. Quando nós dizemos que é o maior espetáculo que alguma vez fizemos, é mesmo o maior espetáculo que alguma vez fizemos. Eu sei que isso, de vez em quando, é conversa de promoção e de música, mas, neste caso, não há que enganar, é mesmo, até a nível de palco, é o maior palco em que nós já tocamos, sem ser em festivais.
M.I. - Agora lembrei-me… a indumentária que vocês vão usar será a típica roupa que usam num concerto de metal ou como a orquestra estará toda aprumada, também vão caprichar?
Não vamos de fraque. Quem vai de fraque é a orquestra e de vestido vão as senhoras da orquestra. Esse é o estilo deles! Nós vamos à Moonspell. Mas houve o cuidado de fazer ali um encontro, não só musical mas também estético. Fomos nós próprios que fizemos o styling, nós próprios que compramos a roupa, já vamos tendo alguma experiência também nesse aspeto. É um aspeto que, de vez em quando, as pessoas descuram um pouco, mas tem sido uma constante nos Moonspell. Desde as primeiras fotos que fizemos com os Moonspell, sempre tivemos muito cuidado com a forma como aparecemos. Com todo o respeito, nunca fomos uma banda de ir de calções para o palco ou de chinelos ou de ténis bota, isso é outro estilo, não é o nosso estilo. No contexto de orquestra é tudo um bocado mais solene, portanto há ali um dress code meio solene, meio rock n’ roll. Mas, nesta altura do campeonato, já temos as roupas todas, já fizemos também os testes e devidos arranjos e já estamos preparados para essa representação. Sabes, o espetáculo vai ser transmitido ao vivo por streaming e também vai ser gravado em DVD, o que traz outra preocupação extra para termos um aspeto que esteja à altura do acontecimento.
M.I. - Por acaso vi umas fotos promocionais em que está a banda com alguns elementos da orquestra e estão todos arranjadinhos. Mas porque é só tem aqueles elementos na foto?
Foi o que conseguimos arranjar! Os músicos do clássico em Portugal são profissionais, têm um trabalho diário das nove às cinco, têm recitais ou concertos. Nós queríamos ter feito com a orquestra toda, mas era impossível. O maestro disse logo que ia arranjar pessoas que estivessem disponíveis, para nós termos algumas fotografias para a promoção com alguns dos elementos da orquestra. Era uma questão de logística, de disponibilidade, porque é muito mais fácil reunir uma banda para fazer uma sessão de fotos do que reunir uma orquesta inteira. Isso é super difícil, mas devemos ter uma oportunidade de tirar uma foto com eles todos nos ensaios ou no dia do espetáculo.
M.I. - Ora, os Moonspell já têm mais de 30 anos de atividade e quase outros tantos de estrada. Sereis a primeira banda deste género musical a atuar como banda principal nesse grande espaço de eventos. Agora que já faltam poucos dias, como te sentes? Muito ansioso? Preocupado?
Nem por isso! Claro que vamos passar por 100 estados de alma antes de irmos para o palco: medo, coragem, porque é que nos metemos nisto?, ainda bem que nos metemos nisto! Portanto, um músico, seja de que estilo for, tem sempre esta insegurança. A longevidade na estrada, na minha opinião, tem a ver com o compromisso que nós fazemos todos os concertos. Este não vai ser o nosso último concerto, porque passado três ou quatro dias estamos na estrada com os Dark Tranquillity num ambiente que nos é mais próprio, mas gosto de pensar e gosto de tocar como se fosse mesmo a última noite. Desde as festas de Peniche ao Laurus Nobilis, ao Summer Breeze, é uma mentalidade que Moonspell foi desenvolvendo e que, na minha opinião, nos tornou uma melhor banda ao vivo pelo facto de que aquele é o momento ainda mais importante que o estúdio, mais importante que as entrevistas, mais importante que a roupa, é um momento em que não podemos mentir ou camuflar a verdade, é o momento para que nós estamos preparados. Essa indicação foi-me dada há muitos anos quando fomos na primeira tournée de sempre promover o “Wolfheart” e eu vi logo que tudo o que já tínhamos feito na altura, todos os concertos, as promoções, não se equiparavam ao impacto de uma pessoa, de um fã, a ver a banda que gosta. E saber isso fez toda a diferença para os Moonspell. Eu não sou uma pessoa que fica muito nervosa em palco, antes pelo contrário! Anseio para estar em palco e, naquela hora antes de estar em palco, uma das coisas de que eu não abro mão, é ter uma hora praticamente sozinho com os meus colegas da banda, sem chatices, sem perguntas, sem visitas… mas estamos sempre ansiosos para ir para o palco, porque aí é que tudo acontece e que todo aquele trabalho, todos aqueles segundos, todas aquelas conversas, todos aqueles e-mails, fazem sentido! É aí que nós sabemos se nos arrependemos ou não, e normalmente não. Tudo é um espetáculo diferente e é encarado com uma grande responsabilidade! Eu não posso falar por todos da banda, mas uns ficam mais nervosos que os outros, mas o que nós queremos é começar, desfrutar e acabar o espetáculo também é uma sensação ótima. Eu tenho um excelente feeling que vai ser uma grande noite. Pode sempre haver problemas, pode sempre haver imprevistos, mas enquanto estamos no ativo isso é normal. A noite da Meo Arena é a noite mais importante da nossa vida, ou das mais importantes até agora, mas não é a única noite e, portanto, se houver algum problema, e eu espero que não, nós estamos a tentar sempre controlar o erro, mas esse erro também acontece muito quando a gente está feito um frangalho e vai para o palco. Como disseste, desde o princípio, a carreira dos Moonspell confunde-se com a atividade ao vivo e, como tal, o que nos faz gostar de tocar ao vivo é realmente esta sensação de que temos uma missão e que a queremos cumprir.
M.I. - Tenho ouvido várias queixas quanto à má acústica da sala Meo Arena. Concordas? Isso preocupa-vos?
Não nos vamos esquecer que somos um país de treinadores de bancada! Eu já ouvi mau som e já ouvi bom som na Meo Arena, já ouvi das duas coisas na Meo Arena, na sala Tejo, no Coliseu. Em todas as salas difíceis, o som também é uma questão de gosto e de posicionamento, portanto nem todos nós temos aqueles ouvidos brilhantes de pessoas que fazem isto professionalmente durante anos, como os nossos técnicos. E depois uma pessoa que foi a dois ou três concertos, achou por bem ir para a internet dizer que o som é horrível. Toda a gente tem direito à sua opinião, não quer dizer é que a sua opinião tenha um valor intrínseco. Eu acho que na Meo Arena tem que haver três ingredientes: uma banda bem ensaiada sem dúvida, e quando digo banda, digo banda e orquestra; o técnico de som não é só um, mas é uma equipa, neste caso que tem que ser consistente e tem que saber ter mãos para a sala, e um bom equipamento. E foi nesse equipamento que praticamente gastamos 90% do nosso orçamento. Nos sons maus que ouvi lá, houve um destes fatores que falhou! Nem toda a gente vai gostar do som, nem toda a gente gosta da sala, mas o concerto é uma experiência e não a podemos dividir em componentes, porque aí deixa de ser uma experiência também. Já ouvi concertos em que o som não estava fantástico, mas a performance da banda foi tão arrebatadora, que o som foi um pormenor. Eu compreendo que as pessoas hoje em dia sejam muito mais exigentes e nós temos que estar habituados. Vamos para uma arena e há esse grau de exigência, mas, sinceramente, desde que estes três fatores estejam reunidos, não estou muito preocupado nem nervoso com a qualidade do som porque confio na minha equipa, confio na banda e também confio nas escolhas que fizemos. Se a Meo Arena tivesse assim tão mau som não estaria sempre cheia como está cada vez que há lá um concerto seja de metal ou outro estilo musical.
M.I. - Como surgiu a ideia/oportunidade de fazer este espetáculo na Meo Arena? Já várias bandas de sonoridades pesadas, tipo Satyricon, Rotting Christ, SepticFlesh, fizeram espetáculos com orquestras. Era um sonho vosso fazer algo do género ou acharam simplesmente que era um bom desafio?
Há dois ou três álbuns, ou vários momentos musicais nos Moonspell, em que tínhamos o desejo que fossem tocados por uma orquestra, sem dúvida, principalmente o 1755, sempre tivemos a curiosidade de saber como é que aquilo seria tocado ao vivo com uma orquestra real. Eu nunca fui muito fã das coisas que se tinham feito na junção clássico com metal. Penso que as bandas que tu citaste, os Septicflesh, os Satyricon, os Therion fizeram coisas que a mim já me agradaram mais, porque não adicionaram simplesmente a orquestra, mas tiveram um arranjador da orquestra e um maestro esteve com eles em vários pontos do processo a tornar o som orquestral ou a parte da orquestra como um integrante da banda. Nós já tínhamos tido alguns convites, um esteve quase a ser aceite, mas depois, com a pandemia, não houve oportunidade de o fazer, que era ir tocar a Madrid com uma orquestra também com maestro madrileno. Tivemos também a oferta, tal como Septicflesh, para ir ao México, mas decidimos que se íamos fazer isto, íamos fazê-lo no nosso país com uma orquestra de músicos portugueses ou quase todos portugueses, com um maestro português na nossa capital. Isto era uma das condições para nós nos lançarmos neste projeto. Mas lá está, na parte musical, é muito importante que a orquestra e os músicos estejam juntos, que não esteja cada um para o seu lado só para ser um concerto sinfónico. Nós tivemos esse cuidado de falar, quer com o Filipe Melo, o arranjador, quer com o maestro, para eles perceberem exatamente o que nós queríamos. E, até agora, fizeram um trabalho excelente e os arranjos são muito surpreendentes e alguns mais expectáveis, mas não é de todo aquilo que eu temia daquele metal sinfónico, este tem alma. Acho que Moonspell é uma banda portuguesa com influências latinas, com influências arábicas também do Médio Oriente, e tudo isso está lá na nossa orquestração.
M.I. - Como e quando decidiram convidar a Orquestra Sinfonietta de Lisboa para este evento? E se puderes explicar, porque esta parte deixou-me na dúvida, qual a diferença entre a orquestra sinfonietta e a orquestra sinfónica? Não é a mesma coisa, certo?
Não, não é bem a mesma coisa. A sinfonietta de Lisboa é um conceito e não tem uma composição fixa. O maestro é sempre o mesmo, que é o Vasco Pearce de Azevedo e ele escolhe os músicos conforme o projeto. Para mim, é muito mais interessante, porque ele vai escolher músicos que tocam melhor estes arranjos e estas orquestrações. Portanto não é uma questão de nome, é uma questão de conceito da própria sinfonia. E é sempre assim que eles trabalham. Com os Moonspell devem ter feito um casting ou uma comunicação de músicos, à responsabilidade do maestro, para pessoas que se enquadram melhor neste projeto. Por isso, é quase como se fizéssemos tudo de raiz, e os próprios naipes de músicos, foram todos escolhidos pensando na música dos Moonspell, em como ela iria soar sinfonicamente falando.
M.I. - Então, há grandes probabilidades de os membros da orquestra serem fãs de Moonspell?
Sei que há lá alguns fãs de Moonspell, o que é sempre ótimo, não é? Espero que os outros também se tornem fãs dos Moonspell depois de trabalhar connosco e de saber o que é um concerto de heavy metal e de saber o que é uma plateia do heavy metal. Uma coisa também muito curiosa é eles enfrentarem uma plateia que não está sentada num auditório ou numa sala grande, mas está de pé num concerto de rock n’ roll e metal. Pronto, quando o concerto acabar, para além dos fãs, quero que estas pessoas que participaram ativamente neste concerto, desde o primeiro violino ao oboé, estejam também satisfeitas de terem participado num evento assim.
M.I. - Esta junção de música clássico com música pesada, dificultou os arranjos que tiveram de fazer nas músicas para se adaptarem aos instrumentos clássicos? Colaboraram com o Filipe Melo na realização dos arranjos?
O trabalho de arranjador é um trabalho solitário. Ele fez tudo sozinho e ia-nos mandando para ver se gostávamos e houve poucas alterações que fizemos. O Filipe também é uma pessoa que conhece muito bem os Moonspell, pois já realizou vídeos nossos, já foi a concertos nossos, somos amigos. E, lá está, é muito, muito importante fazer-se o briefing. Eu faço isso para tudo! Há uma capa dos Moonspell e eu falo com a pessoa que vai fazer a capa. Não lhe faço o trabalho, não lhe digo exatamente o que queremos, mas digo-lhe qual é o feeling, qual é o contexto e, depois, a partir disso, é com ele. Foi exatamente assim com o Filipe, ele teve carta branca para trabalhar nos arranjos de Moonspell. Houve pouca que nós mudamos mais tecnicamente, quando ouvimos os arranjos e nos foram passadas as pautas, que são 250 páginas, portanto é muita página de música que ele escreveu, porque ele é um conhecedor da obra dos Moonspell e um entusiasta da música clássica e não só… ele é pianista de jazz e tudo. Ele é uma pessoa muito ativa e tirou um tempo só para trabalhar nisto, porque sentiu que era um projeto importante para ele e nós agradecemos. Ele compreende o legado dos Moonspell, portanto foi a pessoa perfeita para fazer isto. Coincidência foi que nós íamos escolhê-lo a ele e o maestro também o ia sugerir, portanto já era consensual!!
M.I. - Os temas escolhidos são temas que representam o melhor de Moonspell. Mas houve necessidade de escolher temas que fossem fáceis de trabalhar e adaptar com a orquestra?
Eu penso que há temas que são, obviamente, mais fáceis, outros nem tanto, mas são esses os maiores desafios! Nós vamos tocar bastantes músicas do 1755, não vai ser metade, mas vai ser uma parte bastante importante deste espetáculo e porquê? Porque é um disco já orquestral e ele tomou algumas indicações desse trabalho que nós já tínhamos feito, mas esses temas são os mais difíceis. De vez em quando, é melhor ter uma página em branco e fazer as suas próprias orquestrações. Sei que não foi um processo fácil, porque Moonspell é uma banda com muitas camadas, é uma banda de heavy metal, tem influência metaleira, tem influência gótica, tem influência orquestral, tem influência medieval, tem influência mediterrânica e, portanto, havia aqui muito por onde escolher e ele tinha, por questões de tempo e de disciplina, de ir para um sítio e tentar fazer com que assim fosse. Portanto é um trabalho criativo, duro, de muita pestana queimada, de muito tempo dispendido, mas acho que é quase como um compositor clássico tentar escrever uma sinfonia ou uma ária, acho que é esse tipo de trabalho… acho que, apesar das dores que o trabalho teve, nós já tivemos a oportunidade de falar com o Filipe e foi um trabalho que lhe deu muito prazer e, isso, no fim de contas, é que conta!
M.I. - Para além de temas de 1755, que outros temas é que vos vamos ouvir tocar?
Alguns clássicos que sempre quisemos ver orquestrados, como é o caso de “Alma Mater”. Nós ainda não temos o repertório todo definido, mas há-de haver músicas que nós vamos escolher que as pessoas sabem que são peças centrais no nosso concerto e são músicas que já nos deram tanto e aos nossos fãs que merecem estar neste concerto a serem orquestradas e tocadas por uma orquestra. Aliás, já houve experiências de orquestras e bandas que tocaram, por exemplo, a “Alma Mater”, por isso já era uma música que estava na lista de prioridades. Nós vamos ter cerca de 90 minutos de concerto também com algumas músicas que as pessoas não estarão tanto à espera.
M.I. - Em espetáculos desta envergadura, invariavelmente, costuma haver artistas convidados. Acontecerá o mesmo no vosso espetáculo?
Nós fizemos essa pergunta muitas vezes, mas tínhamos também que gerir o custo/benefício de trazer um artista convidado. Tentamos convidar a Anneke para interpretar “Scorpion flower”, mas ela está em tournée, edecidimos que era a convidada que fazia sentido e, sendo assim, não vamos ter nenhum convidado especial… o nosso grande convidado é a Orquestra Sinfonieta de Lisboa. Eu e o Pedro falamos muito disso e concluímos que já é um espetáculo incrível! Tomara eu ver muitas bandas, até bandas portuguesas, a fazer isto, portanto também não vale a pena estarmos aqui a inventar e a adicionar coisas que não são relevantes. Por isso, o grande convidado protagonista será a orquestra e os seus 45 músicos.
M.I. - Já há zonas esgotadas na Meo Arena e noutras já há poucos bilhetes. Tens noção de como estão a correr as vendas?
A plateia e o balcão um esgotaram, mas a sala foi aumentada por causa da procura e, como tal, há mais bilhetes à venda agora e estão a vender a um bom ritmo. Eu tenho que fazer um agradecimento aos nossos fãs, porque nós anunciamos isto há um ano, não fazíamos a mínima ideia como é que ia correr, é uma das maiores salas do país, as pessoas sabem que não estamos com a sala na capacidade máxima, mas já estamos a chegar à metade da capacidade máxima que, para Moonspell e para uma banda portuguesa, corresponde se calhar a 8000/10.000 pessoas que nos vão estar a ver. Os bilhetes venderam bem desde que anunciamos o ano passado no dia 31 de outubro, portanto há sensivelmente um ano. Temos feito muita promoção, mas os fãs abraçaram este projeto, têm-nos sido fiéis nesse aspeto, nada valeria se não tivéssemos um público tão fiel cá em Portugal e também as centenas de pessoas que vêm de fora para ver este espetáculo em Portugal, visitar o nosso país e estar com outros fãs dos Moonspell. Portanto, eu estou muito contente com o resultado das vendas e se nós tivéssemos a sala como estava planeada originalmente, já estaria esgotada, mas falamos com o promotor e como há procura, é de aproveitar! Qualquer pessoa no nosso lugar aproveitaria! Por diversas circunstâncias, há pessoas que compram mais na altura, e vamos continuar a expandir a sala enquanto houver procura, até ao último dia vamos ter bilhetes à venda.
M.I. - Também o preço do bilhete é bastante acessível comparado com preços de bilhetes para outros concertos!
Eu acho que é bastante acessível! É uma preocupação que nós temos. Nem sempre podemos intervir nesse aspeto. Às vezes, as pessoas pensam que as bandas mandam em tudo mas, infelizmente, mandamos pouco. Desta feita, a produção custou o valor que custou, mas nós não quisemos refletir isso no preço dos bilhetes. A organização foi espetacular nesse aspeto e nós achamos justo. Conhecemos também a vida dos nossos fãs e é isto que eles podem despender. É bom que não haja queixas a nível de bilheteira, que não haja queixas a nível de preços. Em Portugal, temos bastante cuidado em vender os bilhetes mais baratos nas nossas produções e o marchandise também a um preço mais acessível, tentamos não fazer o preço do estrangeiro.
M.I. - O espetáculo será transmitido para todo o mundo. A diferença de preço entre o bilhete físico e o bilhete para assistir online é bastante reduzida, porquê?
Sim, o streaming online também tem a sua própria produção, não é? Temos que ter mais câmaras, mais vídeo, mais mão-de-obra e também vem nesta sequência de tentar proporcionar aos fãs que não têm dinheiro para vir a Lisboa, para não os deixarmos de fora deste espetáculo. Consideramos que isto é importante! Não podemos esquecer que é um espetáculo em Portugal, mas nós temos fãs em todo o mundo que também querem estar presentes, mesmo que remotamente. Depois de Lisboa, nós não temos intenção de ficar por aqui, já temos ofertas para o México, Bulgária, Espanha e, provavelmente, para outras cidades de Portugal. Também pensamos que já que tivemos este trabalho todo, não vamos fazer só este concerto, temos que ver se conseguimos, a partir deste concerto, fazer alguma internacionalização. Pronto, fazer uma tournée com orquestra é impossível logisticamente para nós e nem as bandas grandes o fazem, mas, ocasionalmente, temos eventos com a participação de músicos clássicos.
M.I. - O Fernando Ribeiro de 1992 alguma vez teria imaginado que em 2024 estaria a atuar com os Moonspell, em nome próprio, na Meo Arena?
O Fernando de 1992 tinha outras preocupações, como arranjar dinheiro para comprar um microfone, tentar com que os outros elementos aparecessem nos ensaios e tivessem o mesmo nível de dedicação. As pessoas têm a ideia de que eu tenho a carreira dos Moonspell toda calculada, mas não é nada assim. Fui agarrando as oportunidades e fui tendo umas preocupações, fui fazendo umas coisas bem, outras mal, como qualquer outro músico, e não me considero nem superior, nem inferior, a nenhum dos outros músicos da cena Heavy Metal em Portugal, considero-me apenas uma pessoa diferente nalgumas circunstâncias. De facto, o Fernando de 1992, não tinha sequer o alcance mental para saber destas coisas, portanto foi acontecendo. Foi o tempo que nos proporcionou a ter este tipo de ideias e ter que fazer com que se concretizassem. Em 92, nós queríamos gravar uma maquete e queríamos ter uma cassete para mandar aos nossos amigos lá de fora. Foi indo de objetivo atrás de objetivo que os Moonspell se foram fazendo.
M.I. - O espetáculo comemora-se exatamente 2 meses após a tua entrada nos 50. É uma espécie de celebração mais tardia para comemorar as 5 décadas de vida?
Não foi planeado, mas são 50 músicos em palco, portanto também tem esse extra! Já me fizeram a festa no Milagre Metaleiro! Eu passei lá o segundo aniversário consecutivo e eles realmente são fantásticos e acolhem muito bem. Mas a data do espetáculo é uma coincidência! Não sei se vou ver os 100 anos, provavelmente não, mas entrar nesta idade… e realmente o primeiro espetáculo dos Moonspell com 50 anos ser logo na Meo Arena com uma orquestra…
M.I. - Desculpa, mas o primeiro espetáculo depois de fazeres 50, foi o de Fafe, no fim de setembro.
Sim, sim! Quero dizer, o primeiro espetáculo desta envergadura! É curioso que assim seja, porque, mais uma vez, não foi nada planeado, mas aconteceu e é uma coincidência eu ter 50 anos e ser a primeira vez que somos cabeças de cartaz na Meo Arena. Por isso também é uma espécie de mensagem de que, por muito que a gente planeie ou não planeie, as coisas vão acabar por acontecer se tivermos o talento, a sorte e também o saber estar, o saber agarrar as oportunidades. Acho que é algo que caracteriza os Moonspell.
M.I. - Depois deste concerto, o que farão os Moonspell? Tiveram um verão intenso com a Summer Satanae Festival Tour e os preparativos para “Opus Diabolicum”.
Moonspell vão andar em tournée com os Dark Tranquillity. Ora, nós queríamos um ano calmo e daí a tournée acústica, depois apareceu o espetáculo da Meo Arena, depois apareceu a tournée dos Dark Tranquility. Nós já não fazemos assim uma tournée desde a última vez que estivemos nos Estados Unidos com os Eleine e os Oceans of Slumber. Meo Arena à parte, Soombra à parte, esta é mais a nossa realidade, nós precisamos dela, não só para continuar a nossa carreira, mas também por razões óbvias que é o que nós estamos habituados. Fomos convidados para ser os convidados especiais de uma grande banda que são os DarkTtranquillity e também temos os Wolfheart. Vamos a vários sítios da Europa e acho que era o melhor plano. Tínhamos a oportunidade e dissemos que sim. Depois vamos ter ali um período, o mês de dezembro, em que vamos estar um pouco parados. Pode ser que haja uma outra novidade, mas ainda não sabemos. Em 2025 vamos começar a trabalhar no nosso disco novo, vamos também editar o Soombra, o Opus Diabolicum e penso que, talvez, tenhamos outra tournée ou festivais. O grande objetivo depois da Meo Arena vai ser o disco novo dos Moonspell que vai ter toda a nossa atenção mas só sairá lá para 2026.
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Entrevista por Sónia Fonseca