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Reportagem: Nameless Revolution, Azzaya e Cuspo Veneno @ Hollywood Spot, Feijó – 14.09.2024


O êxodo metaleiro faz-se sempre na busca de sons pesados e extremos. A passada noite de 14 de setembro teve como destino o Hollywood Spot, no Feijó. A celebração de meia década de existência dos Nameless Revolution, foi mais do que motivo para congregação metálica. À porta da sala, ainda antes das 21:00H já se viam metaleiros a envergarem orgulhosamente as suas fardas de combate, com patches dos Immortal e Darkthrone, levantando ligeiramente o véu sobre aquilo que procuravam nesta noite.

Às 21:21H subiam ao palco os Cuspo Veneno, de Torres Novas. A sala estava bastante modesta para um sábado à noite, só que isso não impediu os Cuspo Veneno de destilarem uma carga frenética de muito Punk. Temas rápidos, intensos e muito enérgicos, que fizeram alguns metaleiros (claramente fãs de Black Metal) abanarem a cabeça, e subtilmente mergulharem nas águas profundas deste Hardcore.

A sonoridade está claramente assente na família musical do Punk, passeando-se entre um Punk Rock cheio de vitalidade, um Hardcore recheado de agressividade e o Punk Clássico dos anos 70 com muita critica social à mistura. O vocalista apresentou-se com uma técnica que fazia relembrar a primeira onda de Metalcore, em bandas como Hatebreed, ou seja, Hardcore, mas com intrusões de Metal. Quase todos os temas tiveram a sua dedicatória (ornamentada com uma forte critica), fosse à autoridade ou a certas franjas do espetro político.

Foram tocadas cerca de 15 músicas em pouco menos de 35 minutos, evidenciando assim a celeridade com que foram arremessadas essas malhas de puro Punk. A bateria fortemente comandada sempre a manter o passo, a guitarra muito rápida e equilibrada e os vocais rasgados e potentes. Sentiu-se, contudo, a ausência de um baixo de forma a preencher o som final. A sua energia era contagiante, e isso foi manifestado pelo preenchimento da sala do Feijó ao longo da sua atuação.

22:14H e chegava o momento dos Azzaya, de Portalegre. Antevia-se, até antes do início, que muitos tinham migrado para assistir ao quarteto alentejano. Foram tocados 10 temas, atravessando os seus dois álbuns, deixando também temas doutros projectos como os Mortandade (‘Um Coveiro Enforcado’ e ‘Cabrito de Deus’) e Mordeocristo (‘Anticristo’), e também temas do seu futuro álbum como ‘Ira’ e ‘And From This Death’.

Numa mistura perfeita de Black com Death, os Azzaya mostraram que sabem o que fazem. A bateria destaca-se por ser versátil, com um poderoso groove e com fills que desafiam as regras quadradas da bateria típica do Black Metal, sendo uma lufada de ar fresco, bastava ouvir a intro antes de se mergulhar em ‘Evoking the Khaosatan’. O binómio guitarra-baixo em temas como ‘Ira’ em que o baixo cavalgou harmoniosamente a guitarra, sendo um dos pontos altos da banda. A voz que se centrou naquilo que habitualmente se ouve em bandas do género, dirigindo em rumo às trevas metálicas. A sonoridade ficou bem mais preenchida quando foi introduzida a segunda guitarra, criando-se uma parede hipnótica de duplo tremolo – sublime. A sonoridade foi sofrendo mutações ao longo do setlist, desde o Black mais crú ao mais melódico, desde o Black mais puro ao Black com forte cadência do Death – tornando assim bem mais dinâmico para quem estave na assistência.

Claramente o ponto alto da noite, tanto em termos de vibe onde banda e plateia entraram em perfeita ressonância, como em termos de som em que a mistura final estava no ponto (com forte destaque para o baixo que estava acima da guitarra, sem nunca a silenciar). Os fãs presentes fizeram circle pit e o vocalista Gabriel Warmann juntou-se durante o tema final ‘Cabrito de Deus’, algo bastante incomum para Black Metal, contudo, extraordinariamente desejado pois a energia cresceu ainda mais. Nesse tema houve ainda a presença de um convidado, o Gulthor, baixista da banda Gandur. Terminaram a sua passagem pelas 23:02H.

Pelas 23:26H era o momento dos Nameless Revolution, para a celebração dos seus 5 anos de existência. Um ponto marcante para qualquer banda, não só pelo simbolismo, mas acima de tudo pela demonstração perseverança, afinal de contas é mais um projeto que sobreviveu ao flagelo da pandemia.
A sonoridade do grupo é difícil de descrever, pois apresenta-se como uma verdadeira amálgama de sons. Ouve-se Punk Rock mesclado com Hard Rock, escuta-se Heavy Metal mais Clássico com Hardcore, existem elementos de Metal mais extremo (como blast beats no tema ‘One Day’), influência de Stoner Rock, e até fragmentos mais neo-clássicos (na canção ‘4th Song’) e por vezes uma subida nos BPM que nos transportaram para Thrashlândia. Porém, a espinha dorsal do seu som e atitude está claramente alicerçado no Punk Rock. No fundo um mar de sons para todos os gostos, uma verdadeira liga metálica para todos os punks e metaleiros (e não só).

Devido aos constrangimentos de tempo, viram-se obrigados a encurtar 3 temas do setlist, todavia, aqueles que tocaram foram executados do coração e com toda a pujança possível. Destaca-se o tema ‘One Day’, música essa que tem um videoclipe, e como tal um dos temas mais aguardados. A música ao ser cantada relembrou muito o tema ‘Blackened’ dos Metallica, tanto pela dicção como pelo timbre da voz. Uma bateria que fustigou harmoniosamente o riff de rock mais clássico, e um baixo em hegemonia sonora que nos transportou enquanto a voz se transmutava, à medida que o mood da música se alternava – numa suavidade perfeita. A música foi caótica, com muita melodia à mistura e um potente groove. A agressividade foi posta em prova no tema ‘Do It Better’, destaca-se o baixo sempre a galopar por cima da mistura, sem a ofuscar e até enaltecendo-a, que por vezes era mesmo martelado transmitindo beleza acústica enfeitada com garra - relembrando o tom de Geezer Butler. E para descrever a energia da banda, nada melhor que o tema “Just Lies”, onde foi possível testemunhar toda a vivacidade do quarteto em palco, sempre com uns sorrisos na face, evidenciando que é impossível esconder os sentimentos quando fazemos algo que realmente adoramos. A voz apresentou-se com uma vitalidade que o género requer, catapultando o som para paisagens sonoras garridas, amplificando a mistura.

Apesar de ser a sua festa, muitos dos presentes não ficaram até ao fim. Uma pena, pois acabaram por perder muita música da boa. Uma banda com 5 anos de história, só que quem os tivesse visto em palco, tanto em termos de presença como de atitude, diria que este seria o pelo menos o seu 10º aniversário, pois a sua naturalidade em palco evidencia puro talento.

Noite repleta de boa música e apinhada de energia, no entanto já se tinha visto esta sala com bem mais gente. Talvez, muitos tenham escolhido outro local para passar a noite de Sábado. Seja como for, os presentes certamente não irão esquecer a noite.


Texto por Marco Santos Candeias
Fotografia por Tânia Fidalgo

Agradecimentos: Hollywood Spot