About Me

Reportagem: Evil Live 2024 - Dia 2 @ MEO Arena, Lisboa - 30.06.2024



Após um dia que ficou um pouco aquém das expectativas a nível do número de público, este segundo dia do festival contou com uma casa quase cheia, não só devido à enorme base de seguidores que os Avenged Sevenfold têm em Portugal - que estavam com vontade de rever a banda que há uma década que não visitava o nosso país - mas também como aos muitos fãs que os Megadeth têm por cá. De salientar ainda as fortes adições dos old school Suicidal Tendencies e aos modernos Electric Callboy, estes últimos estão com uma carreira em crescendo.

Outro ponto de interesse deste segundo dia do evento foi a presença de um dos melhores nomes do metal moderno nacional, os W.A.K.O., que escolheram o palco do MEO Arena para encerrarem a sua já longa carreira de 22 anos. "Deconstructive Essence" e "The Road of Awareness" foram os álbuns que a banda de Almeirim trouxe ao mundo e fica a sensação que, apesar de terem tocado em grandes palcos como este, e terem dado inúmeros concertos, podiam ter chegado ainda mais longe, quer a nível nacional quer internacional. Podiam ter feito mais álbuns mas pelo menos o que fizeram teve selo de qualidade. No Evil Live ficou a demonstração da capacidade do grupo, com o vocalista Nuno Rodrigues, único membro da formação original e ingrediente fundamental na sonoridade do grupo, a dar tudo em palco para que carreira do grupo terminasse em grande. O frontman comunicou bastante, pediu ao público para saltar, para cantar e ainda para fazer um wall of death, foi para o público fazer stage diving, afirmou amar os espectadores e que esteve 22 anos a viver isto para eles. Entre temas dos seus dois álbuns como "Abyss", "Eternal Spiral", "Drifting Beyond Reality" e "Ship Of Fools" tocaram um tema recente, intitulado "Perish", que Nuno afirmou ter sido lançado porque queriam uma saída digna e em grande. O público, que nesta altura já se encontrava em maior número do que o que assistiu na noite anterior a Kerry King, aderiu bem ao concerto dos W.A.K.O. e ainda teve oportunidade de gritar pelo nome da banda. Foi um final feliz para uma banda que vai deixar saudades.

Se uns infelizmente terminam, outros começam e os Empire State Bastard lançaram o seu disco de estreia, "Rivers Of Heresy", em 2023. Desde então, fizeram duas tours para apresentá-lo ao vivo. Este foi um dos concertos da segunda digressão formada pela dupla Simon Neil, dos Biffy Clyro e Mike Vennart, dos Oceansize e guitarrista ao vivo dos Biffy Clyro. É pena que este projeto não tenha trazido o baterista com o qual gravaram esse álbum, nada mais nada menos que o mítico Dave Lombardo, teria sido bom para o público vê-lo tocar ao vivo. Não que a sonoridade deste grupo tenha algo de similar do que Dave Lombardo fez nos Slayer, mas teria sido agradável. Apesar deste álbum de estreia ter sido relativamente bem recebido pela crítica, a música do projeto não tinha o apelo que os outros nomes presentes no cartaz, por isso o público revelou-se algo apático perante a descarga de energia de Empire State Bastard. De referir que Simon Neil praticamente não comunicou com os espectadores, tendo o grupo aproveitado o pouco tempo disponível para apresentar a sua proposta musical.

Quem disse que a música pesada tem que ser sempre séria? Os Electric Callboy provaram no palco do Evil Live que o metal, neste caso Metalcore misturado com EDM, com letras bem humoradas e festivas, pode ser uma receita para o sucesso, até porque esta banda germânica fá-lo muito bem e compôs um conjunto de temas capaz de meter o público a mexer e tornar um concerto num festival numa autêntica festa. De facto esta banda é um fenómeno de popularidade, basta ver os 4 milhões de streams por mês no Spotify ou os largos milhões de visualizações que alguns dos seus vídeos têm no YouTube, "We Got the Moves" (52 milhões), "Hypa Hypa" (42 milhões) e "Pump It" (29 milhões), entre muitas outras. Os mais puristas provavelmente não gostarão da sonoridade dos Electric Callboy mas é um facto que as músicas deste grupo são apelativas para aqueles que têm já a tendência para ouvir música pesada mais moderna e para as gerações mais jovens. Tal ficou bem patente nesta atuação no Evil Live, na qual se notou que esta banda em ascensão já tem um considerável número de fãs que cantaram os seus temas e que não pararam durante a atuação e mesmo muitos dos que não conheciam ficaram agradados e participaram nas festividades. Tanto as músicas supracitadas como outras como "Ratatata", que os Electric Callboy gravaram com as Babymetal, "Tekkno Train", "Spaceman" e "Everytime We Touch" aqueceram e de que maneira o público para o que viria em seguida durante aquele que foi um dos grandes concertos do segundo dia do festival.

Quem não pareceu apreciar a sonoridade dos Electric Callboy foi Mike Muir, que por duas vezes, durante a forte atuação dos Suicidal Tendencies, mandou aparentes indiretas à banda germânica. Mas brincadeiras à parte, os Suicidal Tendencies são uma verdadeira instituição da música pesada, nomeadamente no Crossover Thrash, e também fizeram a festa junto do público do Evil Live, à sua maneira. Mike Muir, com os seus 61 anos, demonstrou uma energia impressionante durante todo o espetáculo e nunca parou quieto. O vocalista fez-se acompanhar por uma formação de luxo, o guitarrista Dean Pleasants que já faz parte do grupo desde meados dos anos 90, o excelente Jay Weinberg (ex-Slipknot) que injeta o seu poderio à bateria, o guitarrista Ben Weinman (The Dillinger Escape Plan) e um miúdo de 19 anos que dá por nome Tye Trujillo, filho do ilustre Robert Trujillo que tocou nos Suicidal Tendencies durante tempos áureos da banda. Durante cerca de uma hora, os Suicidal Tendencies presentearam os fãs e espectadores com um desfilar de clássicos tocados com convicção e atitude, tendo começado com uma versão alargada "You Can't Bring Me Down" para iniciar as hostilidades. Em "War Inside My Head" colocaram o público a cantar e contagiaram-no com o groove de "Send Me Your Money". Em "Subliminal" e "Cyco Vision" foram chamados vários espectadores para o palco para fazerem a festa com a banda. O concerto terminou em grande estilo com "How Will I Laugh Tomorrow" e depois com "Pledge Your Allegiance" na qual os fãs tiveram a oportunidade de vociferar "ST".

Dois anos após terem dado um espetáculo não tão bem conseguido, no VOA no Estádio Nacional, no qual Dave Mustaine pareceu ter perdido algum fulgor, a banda regressou a Portugal para tocar no Evil Live e em boa hora o fez porque não há concertos iguais e, desta feita, o mítico e influente vocalista/guitarrista apresentou-se em topo de forma a nível vocal e instrumental, bem coadjuvado por excelentes companheiros de banda. Dirk Verbeuren é um dos melhores bateristas que passou pela banda e apresentou, uma vez mais, uma prestação de grande nível, o guitarrista finlandês, Teemu Mäntysaari, é um virtuoso já conhecido pelo seu trabalho nos Wintersun, e não tem quaisquer dificuldades em tocar os solos e riffs dos Megadeth, e James LoMenzo é o eterno substituto de David Ellefson no baixo, por isso conhece o posto como ninguém. O alinhamento nunca será perfeito e ficarão sempre algumas músicas a faltar, porque os Megadeth raramente tocam mais de uma hora e mais do que doze, treze músicas. A banda tocou treze, desta feita, e tendo esta tocado duas músicas do último disco, o tema título "The Sick, the Dying… and the Dead!" e a rapidíssima "We'll Be Back", sobrou tempo para nove clássicos do grupo: as habituais "Angry Again", "Hangar 18", "Sweating Bullets", "Skin o' My Teeth", "Trust", "Symphony of Destruction", "Peace Sells", que infelizmente cortada a meio devido a Vic Rattlehead ter levado o bolo de aniversário ao guitarrista Teemu Mäntysaari. Depois já não voltaram à música e passaram de rompante para "Holy Wars... The Punishment Due" que terminou um concerto que primou pela mestria instrumental. Pelo meio houve "Dread and the Fugitive Mind", tema que já tem sido tocado ao vivo noutras ocasiões, e a boa surpresa "Kick the Chair", faixa do álbum "The System Has Failed" que é um ótimo exemplo das excelentes músicas que os Megadeth têm espalhadas pela discografia. Uma noite memorável para os fãs da banda de Dave Mustaine que só peca por escassa, porque o que é bom termina rápido.

Avenged Sevenfold não é um nome consensual entre os apreciadores de música pesada mas uma coisa é certa: é uma das poucas bandas formadas nas últimas décadas, capaz de angariar um número enormíssimo de fãs que lhes permite encabeçar um festival com a dimensão do Evil Live. Pode ter sido surpresa para alguns que esta banda tenha sido cabeça de cartaz, em vez dos Megadeth, mas já em 2013, na anterior passagem por Portugal, o grupo de M. Shadows já havia enchido o Campo Pequeno, e desde então naturalmente que a sua base de fãs cresceu. Se há algo do qual os Avenged Sevenfold não podem ser acusados é de fazerem sempre o mesmo álbum. Desde os primeiros álbuns de metalcore, o grupo foi evoluindo de álbum para álbum, injetando heavy metal, hard rock e até metal progressivo na soa música. Para não variar a banda esticou a corda no mais recente trabalho, "Life Is But a Dream…", um álbum mais experimental que não é tão apelativo para as massas como os anteriores trabalhos, mas ainda assim arrancaram este concerto com dois temas do novo disco, "Game Over" e "Mattel" que ainda assim foram bem recebidos por uma boa parte dos fãs. Aliás, é impressionante ver que houve fãs que cantaram todos os temas, do princípio ao fim, mesmo estes menos consensuais. Mas o concerto arrancou a sério com "Afterlife". A partir daí "Hail to the King", "Almost Easy", "Seize the Day" (a balada para os casais se juntarem), "Shepherd of Fire" e "Unholy Confessions" levaram os incansáveis fãs ao rubro, cantando os temas juntamente com M. Shadows e aplaudindo como nunca a música tocada com excelência por parte do grupo. Depois de "Nobody", mais um tema do último álbum, e o mais morno da atuação, foi tempo para os fãs escutarem um dos temas mais emblemáticos, "Nightmare". "A Little Piece of Heaven" e "Save Me" continuaram a levar o público ao rubro e até, nalguns casos, às lágrimas. Com "Cosmic", outra faixa do último álbum, alguns (poucos) fãs, ao preverem que esta seria a última música, abandonaram a MEO Arena. Ficou claro neste concerto que os Avenged Sevenfold solidificaram o estatuto de banda de grande dimensão no nosso país e que de facto as músicas do mais recente trabalho do grupo não estão ao pé de igualdade das músicas que deram nome à banda. Depois desta demonstração de qualidade e popularidade dificilmente a banda estará mais 10 anos sem pisar solo português. Aliás, M. Shadows prometeu que o grupo voltará em 2025.


Texto por Mário Santos Rodrigues
Fotografias por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists