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Entrevista aos Firemage


Em Novembro, as canecas de cerveja serão erguidas, as tabernas abrirão as suas portas para o novo EP dos Firemage.
Uma banda portuguesa que conta com membros com um histórico musical já sólido a nível nacional. A partir de um simples videojogo de computador, com a influência musical do folk metal escandinavo, os Firemage prontificam-se a lançar o disco Ignis que combina não só elementos de folk, como também de death e thrash metal.
A Metal Imperium teve a oportunidade de conversar com o mentor da banda, Tiago Costa, também músico de profissão, para sabermos quais as inspirações históricas e fantásticas que tanto bebem os Firemage, assim como perspectivas de concertos para o próximo ano.

M.I. - Quais as origens do nome Firemage?

Eu tive a ideia para o nome. Firemage advém do jogo online World of Wacraft, no qual eu e a Ana (baixista) jogávamos bastante há muitos anos. A personagem da Ana era um mago com especialização no elemento fogo.
Mais tarde, quando surgiu a ideia de fazermos uma banda de folk metal, havia uma série de nomes em cima da mesa, mas Firemage foi o que encaixou melhor pela componente de magia e fantasia. A parte fantástica que as pessoas tanto gostam e nós também, assentou bem, em conjunto com o fogo. Foi um pouco como os Rhapsody que mudaram o nome para Raphsody of Fire. Firemage era a personagem que a Ana jogava e pareceu-nos apropriado para uma banda de folk metal. Nós não pretendíamos ser uma banda que falasse apenas da parte histórica e do folclore português. Queríamos abordar também a componente de fantasia, inventamos a nossa história e personagens, de forma a termos a liberdade de explorar estas temáticas.


M.I. - Uma autêntica mescla do fantástico e sobrenatural com a mitologia e história portuguesa. 

Sim. A parte do imaginário português e até mesmo pré-cristão do Reino de Portugal é algo que consideramos necessário. Infelizmente, é algo pouco documentado e o que temos hoje em dia consistem em meras lendas que nos chegam séculos mais tarde e adaptadas ao nosso imaginário.


M.I. - Uma formação interessante, desde 2014, cujos membros vêm de outras bandas como Xeque-Mate e Moonshade. Finalmente, em 2024 é que temos o vosso fantástico EP, Ignis.

Os Firemage apareceram em 2014. Apesar de ter tocado vários estilos de música, eu e a Ana estávamos numa banda de blues rock nessa altura. Em Novembro de 2014, fomos ao Hard Club ver Sabaton, onde os finlandeses Korpiklaani e Finntroll eram as duas bandas de abertura. Porém, vimos também os Týr que não conhecíamos. Duas guitarras, um baixo e uma bateria com uma temática nórdica. Chegámos ao final do dia, tiramos fotografias com o guitarrista e baterista dos Týr, juntamente com o vocalista dos Korpiklaani. Adoramos Sabaton, mas quando fomos embora ia a trautear a “By the Sword in My Hand”, dos Týr e deixou uma marca em mim. Falei com a Ana e apesar de gostarmos de blues rock, decidimos tocar folk metal. Andámos assim durante uns anos, onde fizemos umas músicas e reestruturação da banda até à pandemia. Lançamos a primeira música, “The Brewess”, uma personagem baseada no The Witcher, no Halloween. Enquanto banda, mesmo com alguns ensaios, ainda não tínhamos a oportunidade de tocar ao vivo.
No Natal lançamos a faixa “Krampus Night” que visava toda a temática natalícia e, em 2021, seguiu-se a “The Grove”, baseada no grupo de Facebook The Folk Metal Grove. Um grupo no qual eu sou administrador e que já existe há tantos anos como o próprio Facebook com malta dos Finntroll, Ensiferum, Korpiklaani, etc. Somos uma comunidade e as pessoas perguntavam e se este grupo fosse uma comunidade real, daí a escolha do nome “The Grove”. Queríamos ser uma banda similar aos Týr, mas hoje em dia somos seis membros e já é bastante diferente da sonoridade inicial. Primamos também pela variedade, senão as pessoas aborrecem-se com o mesmo tipo de sonoridade e, apesar da ideia ter nascido em 2014, só no ano seguinte é que lançamos a primeira música.


M.I. - Como nas bandas de folk metal, vocês fazem jus à indumentária. Além da música e videojogos, partilham também referências cinematográficas?

Claro! Muitas bandas de folk metal baseiam-se na obra do Tolkien. Quase todo o metal europeu é influenciado por este autor. Contudo, nós tocamos folk metal, mas também introduzimos outros imaginários e universos, como por exemplo The Witcher. Por isso, é que lidamos mais com o fantástico e não tanto com o mitológico. Pessoalmente, gosto de bandas sonoras épicas de filmes e videojogos que são bastante visuais.
Quanto à indumentária que utilizamos, gostamos de encarnar personagens. Retiramos um pouco deste conceito das séries Vikings e Spartacus, dos filmes The Last Kingdom e Senhor dos Anéis. Tentamos não fazer algo que seja demasiado tipo Twlight Force, que cujas personagens são inteiramente retiradas do World of Warcraft. Nós preferimos fazer algo mais sóbrio, maduro e que incida no lado negro da fantasia, mas também não 100% histórico a nível da indumentária ou até mesmo comportamento de cada personagem.


M.I. - Infelizmente, não é um género muito tocado em ou até mesmo apreciado em Portugal como o death e o thrash. Contudo, vocês misturam alguns destes géneros em faixas como “Welcome to the Grove”.

Exatamente. É algo que as pessoas podem discordar e no grupo de Facebook The Folk Metal Grove se perguntares a cada fã para explicar o que é o folk metal, cada um vai dar uma resposta diferente. Inclusive, até há pessoas que têm dissertações sobre o folk metal.
Para mim, o folk metal é quase como os cafés e restaurantes no Porto. Todos têm um cachorro especial ou uma tosta mista especial e tu sabes que a palavra “especial” é, sem dúvida, o molho de francesinha. O folk metal é o molho de francesinha, os elementos folk assentam num género já existe. Ouvimos Moonsorrow, por exemplo, que é muito próximo do black metal; os Korpiklaani, uma banda que tem elementos de thrash; Ensiferum tem algo de power e death metal; Turisas exclusivamente muito power metal. Ou seja, o folk metal é o molho nestas bandas que têm partes e abordagens diferentes nas suas músicas e que fazem-nas soar mais épicas. Em Portugal, que eu tenha conhecimento e que estejam no ativo e a contar com os Firemage são apenas 3. Temos também os Dark Oath, que utilizam elementos de folk metal, mas no âmago são uma banda de death metal.
É muito estranho Portugal ter poucas bandas de folk metal. Como o thrash metal, o folk metal é festa, divertimento e dá para moshar. Nós temos muitas bandas de thrash, mas o que acredito mais difícil no folk metal é a introdução de novos instrumentos como gaita de foles e não é fácil arranjar músicos específicos que toquem estes instrumentos. Em Firemage, temos um flautim que entra bem em qualquer música, enquanto o resto são os instrumentos comuns em todos os estilos de metal.


M.I. - Quem é a mulher representada na capa do álbum?

A pessoa que está lá em um mage, mas não é a Ana. O design da capa, infelizmente, não posso divulgar. Achamos importante ter uma figura humana na capa. As pessoas são atraídas por pessoas e, mesmo sendo folk metal português com um fundo de paisagem e fogo, consideramos que faltava alguma coisa.


M.I. - Já têm concertos planeados para o próximo ano?

Temos algumas perspectivas, mas ainda nada agendado. Já fizemos concertos na minha escola, no qual sou músico. Testamos Firemage ao vivo para vermos como soariam os elementos sinfónicos. Estamos a marcar concertos para o ano, para dar a conhecer a banda, sobretudo com um concerto de lançamento no Porto. Curiosamente, temos mais ouvintes na Alemanha (10x) do que em Portugal e poderá ser algo a realizar-se lá fora.


M.I. - Obrigado pelo vosso tempo! Querem partilhar alguma mensagem com os nossos leitores?

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Entrevista por André Neves