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Reportagem: Enterro Prematuro - Capela Mortuária, Killdozer, Cavilha @ Associação Rock da Baixamar, Tavira – 01.06.2024


Enterro Prematuro é o nome do mais recente evento de música extrema no Algarve (Tavira). Para sua estreia contou com 3 bandas poderosíssimas.

Às 22:19H ouviu-se "Em nome do pai, do filho e do Rock'n'Roll, oremos irmãos" e começava então o espetáculo, com os Cavilha. A banda de Silves trouxe aquilo que se propõe sempre a fazer: Muito Rock’n’Roll! Foram 9 canções tocadas sempre com uma vivacidade que lhes é tão natural como o ar que respiram, e esse ar é de puro Rock. Tocaram músicas do primeiro e do novo EP. A primeira da noite “Fugir” que abriu imediatamente a época do Mosh Pit, de forma muito enérgica. No segundo tema “Mais uma Granada” onde o público auxiliou diligentemente a banda a cantar o refrão. Na terceira do setlist “Não”, houve tempo para um fã e amigo, muito próximo da banda, cantar em conjunto com o grupo, numa canção que é talvez a mais pesada, roçando subtilmente o Thrash Metal (tanto na velocidade como na agressividade). As restantes faixas concentraram todas muita energia de puro Rock e uma vibe contagiante que se viu na cara de todos os presentes - era impossível não dançar.

O melhor solo de guitarra foi encontrado em “Gatilho”, e a melhor da noite foi “Speed Rock” com uma intro de baixo que nos remete para um misto de primeira onda de Punk com a banda Motorhead, e esta malha para além disso resume aquilo que a banda representa e apresenta em palco, bastava olhar para o seu título. Deram ainda uma amostra do que será o seu futuro álbum, com a última da noite “Noite Adentro”, tema esse que demonstra um amadurecimento bastante vincado na composição e som, sem nunca perder a verdadeira essência da banda, é caso para dizer que os Cavilha ‘melhoram com a idade, como o vinho do porto, só que neste caso é medronho, ou não fossem eles Algarvios’. Terminaram às 23:07H e não fizeram reféns, deram tudo o que tinham. Com um som que pode ser descrito como Motorhead meets Queen com uma pitada de Elvis Presley, no fundo é muito Rock com NWOBHM, com enfoque no Speed e alguns laivos de Rockability; a sua interação, ao longo da atuação, com o público cativa fortemente; a energia e presença em palco é demiúrgica, e parece que nasceram para isso mesmo: tocar Rock’n’Roll para o mundo!

Pelas 23:32H era o momento dos Killdozer, que realizavam assim a sua estreia em solo lusitano. Entre a sua prestação e a dos Cavilha fomos bombardeados com clássicos dos Slayer, vaticinando auspiciosamente que o Thrash Metal seria forte nesta banda Sevilhana. Primeiros acordes do primeiro tema e não dá para não ouvir Slayer nas entrelinhas, é sombrio, é profano e é de certa forma nostálgico, que rapidamente se transfigurou naquilo que todos vieram à procura: Puro Thrash Metal! 
Tocaram todos as faixas do seu álbum de 2021 “Seeds of Vengence”, enaltecendo-se os temas: “Deserve to Die” com um groove de bateria que nos faz lembrar dos tempos de Dave Lombardo; “Released from Suffering” com uma intro clássica de Thrash dos anos 80, e com um ‘Blah’ proferido pelo vocalista, que libertou um sorriso no semblante de todos os presentes, servindo concomitantemente como faísca no enorme bidão de gasolina, que era a vibe vivida em Tavira, e aquele solo de guitarra que encarna Thrash Californiano até ao tutano; “Left to Die” com 2 solos seguidos pela parte de cada um dos guitarristas evidenciando a sua mestria no instrumento de 6 cordas, bem como a sinergia entre si, e claro o momento chave em que os fãs foram invocados para cantar junto da primeira fila, com o vocalista – foi caso para dizer que esta malta de Tavira não desiludiu; “Komatsu” uma canção puramente instrumental, onde todos puderam mostrar a seu talento musical, e o vocalista foi para junto do público, saboreando a música como de um espetador se trata-se.

Os momentos altos da noite foram o novo tema “Hell on Wheels” com um riff sombrio inicialmente, mas que se transfigurou em algo propício para o head banging, carregado de dissonância no seu maior esplendor. Contendo um breakdown demoníaco que desenterrou todos os presentes no Enterro Prematuro, providenciando em si uma cerimónia de ressuscitamento. E duas covers brutais: “Into the Pit” dos Testament e “Raining Blood” dos Slayer. No caso da primeira houve um êxodo dos presentes para a parte frontal do palco, para curtirem o som de perto. No caso da segunda todos foram teletransportados para outra dimensão, mergulhando num trance nostálgico, curtindo o som como se estivessem a ouvir a “Raining Blood” pela primeira vez – foi o momento mais bonito de todo o evento. 
Os mosh pits iniciaram na primeira nota, e só terminaram na última, os metaleiros abraçaram por completo a banda espanhola. Os que fugiram às tempestades ciclópicas dos moshes acabaram por se aventurar nas águas profundas do Stage Diving e Crowd Surfing. A energia estava ao rubro, e todos desde os elementos da banda, aos que se encontravam na plateia (sempre em movimento), curtiram à brava. A banda trouxe consigo uma energia divinal e inesgotável, e o seu amor pelo Thrash Metal é mais do que evidente, e as suas influências são claras, porém deixam bem vincada a sua própria identidade. Uma estreia em Portugal como se queria, e os Killdozer conquistaram fãs com esta sua impressionante atuação.

Às 00:54H subiram a palco os Capela Mortuária, imediatamente com um comunicado que o vocalista não poderia cantar por questões de saúde. Tendo sido substituído pela vocalista dos Necroactivos, Fernanda, uma amiga da banda. E diga-se que quem a viu cantar a primeira do set, e quem a viu cantar a último não terá visto certamente a mesma pessoa, pois a sua evolução foi colossal. Muito tímida no início, todavia foi ganhando tração ao longo dos temas, e a meio do setlist já se encontrava perfeitamente à vontade, evidenciando um enorme talento e potencial. A conversa que circulava entre os presentes é que tinha ensaiado apenas uma hora antes do concerto, com a banda, se assim foi ou não, na verdade pouco interessa, pois fez-se história e todos estão de parabéns. Foi uma tarefa hercúlea, que para quem está de fora poderá parecer nada demais, só que é algo assustadoramente difícil de se fazer, e os Capela Mortuária e a Fernanda (principalmente) conseguiram exceder qualquer tipo de expetativas.
A sua atuação foi muito em torno do álbum “Monstro”, como têm sido as últimas atuações ao vivo.  Faixas como “Morto” (ótimo para abrir o concerto), “Ordem” (com mega solo de guitarra), “Ego” (aquele hiper groove na bateria não é deste universo) e “Estranho” (o groove do baixo pôs os metaleiros a vibrar) preencheram a sua atuação carregada de energia clássica do Thrash Metal e uma atitude de quem parece fazer isto há décadas. As últimas músicas foram as de maior realce com: “Pornocultura” a melhor malha do festival onde o binómio guitarra-baixo criou uma atmosfera groovíca que pôs todos a orbitar o palco, e os mais aventureiros entregaram-se à seita do Crowd Surfing sem remorsos. A bateria foi o ponto alto, sempre a comandar todos os presentes, seja para mosh pits infernais, seja para respirar ar puro enquanto se abana a cabeça loucamente; “Thrash Faster” que é apenas um hino ao Thrash Metal, e por isso transportou consigo a agressividade e a onda cósmica energética que pôs todos em sintonia de festa. É a canção mais potente da banda, e a sua energia foi tão contagiante que o vocalista dos Capela Mortuária não resistiu em cantar a parte inicial do tema, ainda que por uns breves segundos.

Os Capela Mortuária têm mostrado que vieram para conquistar os tímpanos de Norte a Sul do país, e têm conseguido deixar fãs rendidos por todo o lado que passam. O seu Thrash é do mais enérgico que já se viu, os grooves da bateria desafiam as leis da física, o baixo serve de portal para o outro mundo, as guitarras duplas são bujarda do mais puro nível, e os vocais são perfeitos. O seu Thrash é agressivo, ousado e sombrio, mas em simultâneo é limpo e bonito. Terminaram às 01:23H, e apesar de não terem vindo com o seu vocalista, deixaram muito boa impressão, nesta formidável atuação. Como eles se autoproclamam são de facto Thrash F#$%?o do Poço!

Um evento magnifico que permitiu a congregação de metaleiros do Algarve e restante país. Enterro Prematuro é o seu nome e ficou claro que é demasiado prematuro enterrar esta iniciativa, pelo que se espera ansiosamente o seu regresso para breve. 

Texto por Marco Santos Candeias
Agradecimentos: Enterro Prematuro