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Therion - "Leviathan III" Review


Therion é grego para “Besta”, mas já há muito tempo que esta “besta” é mansinha. Depois de um início de carreira alicerçado no Death/Doom Metal, rapidamente começaram a integrar elementos líricos e sinfónicos nas músicas e a cunhar um estilo muito próprio que mais não é do que verdadeira metal opera. 

Em 2020, no meio da pandemia, Christofer Johnsson, agora a viver em Malta, anunciou que tinha escrito material suficiente para fazer três álbuns e que iria dividir as canções por estilo. As canções mais épicas e bombásticas iriam ficar no primeiro disco, intitulado “Leviathan”, que foi lançado em 2021. As canções mais negras e melancólicas ficariam no “Leviathan II”, lançado em 2022. Em 2023, chegou a vez de “Leviathan III”, com as canções mais aventureiras e progressivas, bem como canções folk e tudo o que não coube nos dois primeiros álbuns da trilogia. Assim, é fácil de antever que este último álbum é o mais heterogéneo dos três.

O primeiro tema, “Ninkigal”, tem a primeira vocalização gutural da banda desde há muitos anos, que ficou a cargo, não de um vocalista, mas de um death metal choir. Inicialmente, esta faixa foi pensada para a segunda posição do disco, mas a primeira acabou por cair e esta passou a ser a primeira. Acaba por ser um começo pouco ortodoxo, já que esta faixa não tem a típica vibe de opener de disco, com uma introdução instrumental mais longa. Vai logo straight to the point.

A segunda faixa, “Ruler of Tamag”, tem partes cantadas em turco por um coro masculino e foi o segundo single. De seguida, temos “An Unsung Lament”, que é entendida por Christofer Johnsson como “uma aventura musical”, isto é, uma composição longa de várias partes, que não se consegue antecipar como vai evoluir – um pouco como a Via Nocturna e Land of Canaan, de discos anteriores. A quarta faixa é “Maleficium”. É um tema curto, com um compasso 7/4, que a torna progressiva, mas que alterna com partes mais imediatas. 

De seguida temos “Ayahuasca”, o terceiro single. Foi esta canção, escrita a meias entre Christofer Johnsson e Thomas Vikström, que espoletou todo o processo que veio a culminar na composição da trilogia “Leviathan”. É a faixa mais longa do disco. Começa com uma parte rápida – que Christofer descreve como a colheita das folhas e lianas para fazer a bebida de origem inca que dá nome à faixa – mas depois evolui para uma segunda parte lenta, que é descrita como os efeitos alucinogéneos da bebida – o chá dos mortos.

O tema seguinte, “Baccanale”, é o mais rápido do disco e inclui uma pequena batalha de solos de guitarra entre Christian Vidal e Kristian Niemann, que volta a colaborar com a banda na qual tocou vários anos. “Midsommarblot” é a faixa 7, mas inicialmente estava prevista ficar de fora. É uma cancão midtempo que fala sobre os sacrifícios humanos nos rituais ancestrais nos países nórdicos. De seguida, vem “What Was Lost Shall Be No More”, uma canção cujo ponto alto é a batalha entre quatro linhas vocais, a cantar letras diferentes em simultâneo, numa batalha vocal de complexidade e harmonia.

Começamos a chegar ao fim do disco, onde nos é apresentado “Duende”, um tema quem começa com uma viola de flamenco e que tem partes cantadas em espanhol. A junção do flamenco com o metal soa inesperada e inusitada. A faixa seguinte é “Nummo”, dedicada às criaturas anfíbias da mitologia Dogon. É a canção mais pequena do disco e é uma canção uptempo, cantada em dueto por Chiara Malvestiti e Thomas, com o apoio de um coro. “Twilight Of The Gods” foi o primeiro single e é a faixa que encerra o disco.

Como nos dois álbuns anteriores, existe uma versão regular publicada pela editora e uma Producer’s Edition em digibook publicada pela banda, com versões alternativas de algumas faixas do disco.

“Leviathan III” é um disco que não destoa da restante discografia da banda mas que, em bom rigor, acrescenta pouco. É certo que tem elementos nunca antes vistos, mas que acabam por ser detetáveis apenas pelos estudiosos da banda e não pelo ouvinte comum.

A produção é boa, dado que Christofer Johnnson é muito exigente e a complexidade da construção musical e das vocalizações assim o exige. 

A banda vai estar no Hard Club, no Porto, no dia 1 de Março. No dia seguinte, ruma a Lisboa, para tocar no LAV. Será, provavelmente, uma das últimas oportunidades para ver a banda ao vivo, dado que Christofer Johnnson anunciou que ia ser muito mais seletivo quanto a futuros concertos da banda e que Portugal e Espanha ficavam muito longe do centro da Europa para ser financeiramente viável voltar a tocar nesses países. É uma boa oportunidade para ver esta banda que, não sendo uma banda de primeira linha, tem já um legado importante e é uma referência magna no metal sinfónico e lírico. 

Podem também seguir o Christofer no Facebook, que publica regularmente e responde diretamente aos fãs – não raras vezes de forma rude. Christofer Johnsson é conhecido pelas suas posições far right e próximas do negacionismo e das teorias da conspiração mas enfim, é um sujeito inteligente que discorre longamente sobre o método de composição, a indústria da música e a promoção digital de conteúdos. Acaba por ser interessante ver esta malta que nós ouvimos há muitos anos estar ali, à distância de um clique.

Nota: 7/10

Review por Renato Conteiro