Os Downfall of Minkind escolheram duas datas, em duas cidades, para celebrar o lançamento do seu novo trabalho ‘Purgatory’. E para o fazer, em Lisboa, escolheram o RCA Club e as bandas Moon Presence, Fonte, The Year e os franceses Benighted para os auxiliar na celebração. Som totalmente eclético o que agradou a muitos ouvidos, e isso foi bem testemunhado na sala de Alvalade.
Houve algum atraso no arranque da noite, contudo os fãs perdoam tudo, pois a espera compensou (e muito). Às 21:52H os Moon Presence dirigiram-se ao RCA com um Death Metal estrondoso que deixou mossas nos tímpanos de todos. Destacam-se os temas “Selenophobia” onde o vocalista Roger quase que deu um mortal em palco, “Burial” com o melhor solo da sua atuação e “My Mercy my Demise” que encapsula tudo o que se quer no Death Metal, onde a banda mostrou a sua verdadeira personalidade. Banda jovem com muita vontade de tocar, com uma energia demiúrgica e com um potencial colossal. A guitarra de 7 cordas poderá vaticinar um futuro mais progressivo, quem sabe.
Às 22:33H subiram os Fonte e em mais ou menos 40 minutos deixaram todos de boca aberta. Tocaram: os temas mais recentes, que irão integrar o futuro álbum, tais como “Ego” o single mais recente, e “Dissolução”; e as malhas clássicas entre os quais “Já Dizia o Outro”, “5 Tiros”, “Liberdade” “Verdadeiro Mandamento” e “Teoria do Caos”. Naquela sonoridade que mescla com mestria o binómio energia-atitude do Hardcore com a agressividade sonora do Metal. A banda foi tão bem recebida, que a plateia sem mais demoras decidiu inaugurar a época do mosh pit. Todas as músicas apresentaram um groove potentão, e foi bastante evidente o sentimento de cumplicidade e sinergia entre todos os membros. O último tema “Agarra-te à Vida!” foi aquele que demonstrou tudo o que esta banda representa – energia! Os metaleiros responderam entregando-se por completo ao furacão metálico que se designa usualmente por circle pit.
Uma hora depois foi a vez dos The Year. A banda carregou consigo uma sonoridade que está claramente alicerçada no Metalcore mais moderno, com enfoque na parte melódica e alguns elementos industriais. Interagiram imenso com a assistência e entregaram boas malhas tais como “Bastion”, “Death by Media”, “Suck My Teeth”, bem como as mais recentes, do novo EP, “Loud Dream”, “Overthinker” e “Release Me”. O tema “F.O.M.O” continha o melhor e maior breakdown do setlist da banda. “Full Damage” foi a melhor de toda a atuação, com uma agressividade exacerbada e um groove alienígena, que obrigou à audiência a render-se ao mega mosh pit. Uma excelente companhia para o headbanging, com uns breakdowns de bradar aos céus. A banda foi ganhando tração ao longo da sua atuação, e a multidão foi-se convertendo ao seu som, pelo que no final todos atingiram o nirvana da excentricidade musical, numa completa fusão entre banda e todos os que assistiam.
Uma ligeira troca na ordem das atuações, às 00:43H e um dos momentos altos da noite tinha começado: Benighted. Os grandes porta-estandarte do Death/Grind e Brutal Death Metal francês subiam ao palco, e não deixaram pedra sobre pedra. Com uma prestação brutalíssima em que 5 das 12 canções (uma delas uma intro) tocadas pertenciam ao mais recente trabalho ‘Ekbom’, e as restantes consistiram em clássicos. Para a plateia foi indiferente, porque todos entraram em loucura total durante os cerca de 40 minutos da sua atuação, sem qualquer tipo de pausa.
Mosh pit e headbanging foram uma constante durante toda a atuação. A vitalidade do público foi escalando, à medida que a vibe da banda ia contagiando progressivamente os presentes, ao ponto de até um fotografo largar a sua máquina e entregar-se ao stage diving, durante o tema “Ekbom” – é pura festa e insanidade. E para adensar, ainda mais, malhas como “Metastasis” e “The Starving Beast” trouxeram consigo uns breakdowns que assombrou todos na sala, para o resto da vida.
O range vocal de Julien Truchan é absurdamente gigante, e a variedade de sons guturais só é ultrapassada pela qualidade com que os executa. Pierre Arnoux é um baixista fenomenal, e aquele tapping na canção “X2y” foi o mote perfeito para os moshes do resto da noite. Kevin Paradis é um baterista com uma estamina invejável e uma técnica insuperável, e os grooves são do mais puro Death Metal que existe, como no tema “Implore the Negative”. Emmanuel Dalle deixa a própria luz invejosa, devido à sua velocidade transcendente, bastava ter-se visto aqueles tremolos no tema “Nothing Left to Fear”, música essa nos 200BPM.
Destaca-se o seu último tema da noite, o tão conhecido “Let the Blood Spill Between My Broken Teeth”, em que a banda e a assistência entraram em perfeita simbiose: a banda cantava ‘Let The Blood Spill…” e os presentes entoavam o resto do refrão, ao longo de todo o tema. Para além disso este tema concentra si uma brutalidade que quase que serve de carta de apresentação da banda, e claro um dos melhores solos de guitarra da noite. A banda apresentou uma técnica sobre-humana, uma energia inesgotável e uma felicidade no rosto de cada um dos seus 4 elementos. A banda nasceu para transmitir este tipo de sentimentos em palco, e o ambiente na sala foi dos melhores que já se viveu, repleto de circle pits contínuos, moshes intermináveis, crowd surfing memorável e stage diving complexos.
01:50H começava então a razão de toda a noite, ouviu-se uma canção retirada do Hip-Hop dos anos 90, para criar uma certa tensão de festa. Após uma breve intro a banda entrou em palco para nos deixar com um novo tema “Weard of Hell”, e que começo com um ‘filthy breakdown’ que nos levou à montanha de perdição, para voltarmos à realidade com a qualidade técnica, e versatilidade na produção de ‘sons’, da parte do vocalista Lucas Bishop. Nesse tema presenciou-se um momento épico com o canto lírico da parte do Sérgio Páscoa em completa harmonia com os pig squeals do Lucas – sublime. Os que tinham ido ao exterior apanhar ar, após a atuação anterior, foram compelidos a voltar para mais um round, pois a cascata magnética de som era tal que puxou todos para o interior.
Exploraram as músicas dos seus anteriores trabalhos, tais como “Altered State of Consciousness”, “For I am Terror”, “Oblivion” e “God of Nothingness”. Houve tempo para partilhar a voz com o Roger dos Moon Presence, e em “Ville Birth” com os Julien Truchan dos Benighted, este último um dos pontos altos de toda a noite. A melhor forma de descrever este tema é com a palavra: Bujarda. Brutal e rápida, com uns elementos sinfónicos característicos da banda, mas para além disso é a partilha harmoniosa de duas das melhores vozes na música extrema – maravilhoso. O outro destaque foi o novo single da banda “Purgatory”, em que Lucas começou por desafiar todos os presentes se sabiam a letra. Pois bem, a multidão que se congregou para assistir à noite belíssima mostrou que tinha a lição bem estudada, e todo o RCA (ênfase no todo) cantou o refrão, em plenos pulmões “Is this the End of Purgatory?” – foi de arrepiar! O micro foi circulando por entre os fãs das primeiras filas, sem nunca desapontar a banda – tal era o êxtase de todos os presentes.
Terminaram a sua passagem com um tema do primeiro EP de 2020, “Bow to the Crown”, onde todos permaneceram agachados no início, para se levantarem e saltarem desenfreadamente ao rebentar a música. Tema tão potente que roça o Slam e que pede inevitavelmente headbanging violento - individualmente mergulharam assim numa experiência coletiva de veneração musical. Noite incrível onde a banda Downfall of Mankind, com a ajuda do público sempre fiel, ainda cantaram os parabéns a um fã: o Orlando. Houve outro fã que largou, inclusive, as muletas e subiu para o palco para se agarrar ao microfone e partilhar os seus guturais com a sala de Alvalade. A banda apresentou um deathcore muito potente, com uns breakdowns anti-gravíticos que desafiam as leis da física do nosso universo, partindo os pescoços à malta. Os elementos sinfónicos vieram adicionar uma certa harmonia e sabor ao som, e encaixam que nem uma luva. E depois claro, isto é, deathcore pelo que os sons, rugidos e pig squeals são um must, e Lucas cumpre e eleva a fasquia às demais bandas do género. A sinergia e alegria entre os membros é das coisas mais belas, de se ver em palco.
Terminou um pouco antes das 3 da manhã, e todos saíram do RCA cansados, porém cheios de felicidade – pois este foi sem dúvida um dos melhores concertos do ano (até à data).
Texto por Marco Santos Candeias
Fotografia por Tânia Fidalgo
Fotografia por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: Xapada Fest