Uma decisão que no papel até parecia ser boa. Uma vez livre, faria sentido que o músico pegasse no curto legado deixado pelos October Tide e que lhe imprimisse nova vida, trazendo para cima da mesa tudo aquilo que aprendera com a experiência Katatonia até então. Afinal de contas, a sonoridade de ambas as bandas no final dos anos 90 não era assim tão diferente, não fosse Jonas Renkse também ele parte integrante dos coletivos.
Mas embora esta nova experiência não tenha sido propriamente um fracasso, a verdade é que a receção parece ter ficado um pouco aquém das expetativas. Afinal é preciso lembrar que Rain Without End e sobretudo Brave Murder Day, inspiraram um respeitável número de bandas com as quais, ironicamente, os October Tide têm vindo a competir nos últimos anos. Caso para dizer que do culto para normalidade foi um salto bem curto e de repente, um novo álbum dos October Tide passou a ser apenas mais um no mar de lançamentos do género.
Consequência disso ou não, ao escutar os primeiros minutos de Peaceful, Quiet, Safe deste novo The Cancer Pledge percebe-se que algo mudou. A base continua a ser o Doom Death que o coletivo nos tem vindo a habituar desde o início, porém desta vez bem mais apimentada com Death Metal melódico. Ou seja, uma sonoridade mais próxima de uns In Mourning ou Insomnium do que propriamente dos Daylight Dies ou Rapture, que é como dizer, menos hipnotizante, mas mais dinâmica. Resta saber se esta mudança foi ou não benéfica ao coletivo. Numa primeira abordagem a resposta será afirmativa. Afinal estas novas ambiências encaixam que nem uma luva na música dos October Tide. As mudanças de ritmos são feitas de forma bastante natural e profissional, o suficiente para tornar a música interessante e fluida, ao passo de que as guitarras mostram uns quantos truques novos que permitem acentuar o cariz melódico das composições, cortesia dos irmãos Norrman. Talvez se pedisse mais dinamismo ao nível vocal, pois a prestação ríspida de Alexander Högbom longe de ser má, parece insuficiente tendo em conta todas as novas ambiências recém-descobertas.
E com isso temos aqui um feliz imprevisto que acabou por se tornar num bom disco de Deah Metal melódico, que certamente trará novos fãs aos October Tide. Em jeito de finalização coloca-se, no entanto, uma questão. Uma vez ultrapassada a surpresa inicial e tendo em conta a cada vez maior saturação do género, será que os October Tide conseguirão incidir sobre eles novamente os holofotes do mundo metaleiro como em 1997? As dúvidas são bastantes, mais que não seja porque The Cancer Pledge embora bom, não é desprovido de muitos clichés que contribuíram para essa mesma saturação do estilo. Veremos se tem personalidade suficiente para tal.
Nota: 7.7/10
Review por António Salazar Antunes