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Green Lung - "This Heathen Land" Review



Há certos momentos em que estamos a ouvir um disco e a sonoridade do mesmo nos remete quase de forma instintiva para outros artistas. Eu não consigo ouvir nada dos Green Day, que não me faça lembrar e incentivar a audição de trabalhos dos Bad Religion, acredito que haja pessoas que prefiram cópias, eu prefiro os originais. Ou pior, haver pessoas que pensem que o trio liderado por Billie Joe Armstrong é alguma coisa de original e refrescante no panorama da música de caris marcadamente interventivo. 

Ao escutar este álbum ouço influxos de Black Sabbath, mais especificamente da fase com Ronnie James Dio, com floreados de Hammond que impreterivelmente nos fazem lembrar de Deep Purple e de Uriah Heep, complementados com influências melódicas da New Wave of British Heavy Metal. 

Isso para mim acaba por ser tanto um fator detrator como chamativo para a audição mais atenta deste álbum, pois embora seja um trabalho bem composto, com uma temática pagã muito personalizada das letras e a parte instrumental seja indubitavelmente competente, não deixo de ter a distinta sensação que se trata de algo que já foi feito antes, provavelmente com maiores predicados. 

Este trabalho é irrefutavelmente melhor do que o primeiro trabalho dos celebrados (em excesso, quase a abeirar o ridículo) Ghost, mas ao mesmo tempo na humilde opinião deste escriba os Green Lung não se aproximam da beleza melódica e do frenesim composicional dos Spiritual Beggars ou mesmo de alguns trabalhos dos Firebird, projeto de Bill Steer dos Carcass (Os SB também têm um ex-Carcass na sua formação, na pessoa de Michael Amott) . Lembro-me dos fabulosos Cathedral que também são britânicos, e que são continuamente esquecidos quando se fala em Stoner Rock, da mesma forma que quando se pensa em Tapping só se fala em Eddie Van Halen e não se fala em Steve Hackett. 

Assumo esta posição mais prepotente (que nem é meu apanágio), porque embora não tenha por hábito ler apreciações de outros autores, acabei com ter que consultar algumas, uma vez que este disco é considerado como um dos melhores do ano, por várias plataformas, no que ao Heavy Metal diz respeito. Falam nas melodias acutilantes e nos solos de guitarra capazes de descascar a tinta de uma parede, dos ambientes soturnos, da celebração do paganismo e eu não posso deixar de encarar este tipo de dissertações quase como uma injustiça para o que já foi feito antes, e apenas por falta de oportunidade, falta de promoção ou desconhecimento aliado a desinteresse do público, remeteram os verdadeiros pioneiros de uma determinada sonoridade para o esquecimento.         

Eu acredito que todos, com exceção dos Bon Jovi ou dos Nickelback, merecem sempre uma oportunidade, para nos apresentarem um trabalho relevante. Também não estou a dizer que as bandas não podem fazer sonoridades parecidas, já estabelecemos que podem, mas sinto que em muitos casos estamos a bajular demasiado o influenciado e a esquecer o influenciador. Para operacionalizar esta questão deixo o exemplo dos Soen em relação aos Tool, para vossa consideração.

O disco e inquestionavelmente bom dentro do género e o melhor que a banda nos apresentou até à data e vai com certeza agradar aos fãs dos Corrosion of Conformity, Kyuss, Orange Goblin, et al., mas isso não o transforma miraculosamente num clássico incontestável.  

Nota: 6/10

Review por Nuno Babo