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Entrevista - Comendatio Music Fest (Organização)


AC – Arlindo Cardoso  |  DC – Daniel Cardoso

O Comendatio Music Fest, que acontece os arredores de Tomar, é um festival dedicado à música progressiva moderna e ambiental. Depois das aclamadas edições de 2019, 2022 e 2023, a edição de 2024, a decorrer nos dias 15 e 16 de junho, irá dar palco ao universo prog/ambient/post-rock nacional e internacional com a presença dos Leprous, Textures, Ne Obliviscaris, Persefone, entre outros. A Metal Imperium teve o prazer de conversar com Daniel Cardoso e Arlindo Cardoso, organizadores deste festival em ascensão, que partilharam informações muito pertinentes connosco. Leiam a entrevista e aproveitem para comprar bilhete para este festival!

M.I. - Como surgiu a ideia de organizar o Comendatio Music Fest? Qual o objetivo principal que pretendem atingir com o festival?

DC - O Comendatio começou por ser o Comendatio Metal Fest, mais virado para a música pesada. Agora é Music Fest e, no fundo, continua a flirtar com a música pesada, mas já temos margem de manobra para ter bandas que não sejam propriamente de metal sem que ninguém nos aponte o dedo tipo “Esses gajos não são metal!”. Acima de tudo, queremos que o festival seja um festival de boa música, talvez seja esse o grande objetivo. 


M.I. - Os responsáveis pela organização do festival são indivíduos fãs de música ou é uma empresa? Como começaram a vossa trajetória na organização de eventos? Porque decidiram abraçar um desafio desta envergadura, que cresce a cada nova edição?

AC – Somos músicos apaixonados por música e fãs deste nicho no qual nos propusemos focar. Tudo é feito com essa paixão em comum e o crescimento é consequência dessa envolvência. 


M.I. - Quão complicado ou fácil é organizar este evento? Que obstáculos enfrentam? Tendo em consideração que este ano se realiza a quarta edição, assumo que os obstáculos não foram suficientes para vos demover ou vocês adoram um bom desafio?!

DC - Umas das lutas do Comendatio tem sido conseguir respostas de algumas bandas. Ao início percebíamos claramente que éramos postos de lado por sermos um festival pequeno, agora já começamos a perceber que ou já nos conhecem ou já querem vir cá tocar. Ainda assim temos bandas que tentamos trazer todos os anos e nunca conseguimos. Mas vamos continuar a tentar.


M.I. - Como é feita a programação artística, a seleção das bandas para o cartaz de cada edição?  

DC - Acima de tudo tentamos escolher bandas que gostamos de ouvir, esse é o primeiro critério de seleção, e o segundo é aquilo que achamos que o público também gostará de ouvir. Se conseguirmos conjugar esses dois fatores é “GRREAT SUCCESSS”, como diz o Borat (risos).


M.I. - Que tipo de exigências fazem as bandas? Qual foi a exigência mais estranha com que foram confrontados? Costumam fazer-lhes as vontades ou chegam a acordo quanto a determinados pedidos?

DC - Felizmente ainda não nos cruzámos nem com divas nem com rock stars, acho que o estilo de música em que nos movemos não é tão propício a isso. Vamos para a quarta edição e nunca tivemos nenhuma exigência que nos fizesse torcer o nariz, muitas vezes somos nós a oferecer mais do que nos pedem, lembro-me que uma vez achámos pouco o que nos estavam a pedir e decidimos acrescentar umas tábuas de enchidos, de queijos, vinho, no fundo dar um pouco da boa hospitalidade portuguesa.


M.I. - Em termos logísticos, qual a parte mais complicada de organizar? Sendo que o festival tem algumas valências disponíveis, tais como parque de estacionamento, food court, merchandise, wcs, área para campismo, etc, têm uma equipa própria para gerir este lado mais comercial do festival?

DC - Manter o festival financeiramente sustentável é a parte mais difícil. Lá vamos conseguindo subsistir, de breakeven em breakeven, também muito graças ao facto de termos a gestão dos bares. Por sermos um festival ainda pequeno, as bandas e tudo o que isso implica dão-nos muitos custos e pouco retorno, mas no fim do dia pomos as aspirações e preocupações financeiras de parte, porque na verdade gostamos é de música.


M.I. - O festival decorrerá nos dias 15 e 16 de junho. O Combo pass já se encontra esgotado, por ficar mais em conta. Mas, no geral, como tem corrido a venda de bilhetes? Que bandas destacariam do cartaz deste ano?

AC – O Combo Pass foi uma agradável surpresa, as vendas têm tido um pouco mais de fluxo que nas edições anteriores, mas ainda um pouco distante do que almejamos. Esperamos ter uma boa surpresa na reta final das pré-vendas, como costuma acontecer. Ainda assim, estamos satisfeitos. O nosso curador, Daniel Cardoso, prima por trazer sempre bandas de enorme qualidade, mesmo que não sejam tão conhecidas do público em geral.
DC - É impossível não destacar Leprous, é uma banda que temos visto crescer e que adoramos. Ter o regresso dos Textures no nosso palco também é algo digno de destaque, estamos muito curiosos para ver este regresso. Quanto aos bilhetes, o Combo Pass realmente esgotou, mas isso não quer dizer que o recinto tenha esgotado, simplesmente quer dizer que já vendemos todos os bilhetes a preço “especial”. Em termos de números estamos aproximadamente no dobro das vendas da edição anterior, o que é bastante bom, mas se fosse o dobro do dobro ainda estávamos melhor.


M.I. - Há algum tipo de apoios locais com que possam contar para a realização do festival?

AC – Para além do apoio ao associativismo da Câmara e da Junta de Freguesia, é difícil ter outro tipo de apoios locais. Os empresários locais ainda não reconhecem o potencial do festival.


M.I. - A Câmara Municipal de Tomar é solidária para convosco e facilita-vos a vida, tendo em consideração que o festival atrai muitas pessoas à região? Qual é o impacto do Comendatio na região?

AC - Tanto a CMT como a União das Freguesias de Madalena e Beselga têm dado o seu apoio em tudo o que está ao seu alcance. 


M.I. - Quais as principais dificuldades na organização e preparação de um festival fora dos grandes centros urbanos?

AC – A logística é toda um pouco mais complicada, tem de haver uma organização muito cuidada devido ao número de deslocações Tomar - Lisboa (aeroporto) que temos de fazer, por exemplo. Creio que também faz com que o público tenha alguma preguiça de vir em maior número, mas, ainda assim, estamos bastante contentes com o crescimento progressivo que o festival tem tido.


M.I. - A cultura em Portugal é muito subvalorizada e não há investimento na mesma. Muda o governo, muda o ministro, mas o investimento mantém-se inalterado. Um festival como o Comendatio tem algum tipo de incentivo ou apoio por parte do nosso governo? 

AC – Do poder local apenas, como mencionei na outra questão. Todas as câmaras têm um orçamento anual para a cultura e parte desse orçamento é distribuído pelas associações locais que elaborem eventos de interesse público para o concelho. Após uma cuidada avaliação dos gastos, é atribuída uma pequena ajuda para eventos de pequena/média dimensão, que nos ajuda a manter “à tona”.


M.I. - O público do festival é fã de sonoridades mais pesadas. Que nacionalidades é possível encontrar entre a audiência? 

AC – De tudo um pouco. Já tivemos desde espanhóis, ingleses, franceses, mexicanos, australianos, russos, israelitas, alemães, finlandeses. A música é isto, une as pessoas. Recebemos todos de braços abertos.


M.I. - O Comendatio é financeiramente sustentável, ou seja, a venda de bilhetes cobre os gastos efetuados na organização? 

DC - É a tal questão de que já falei há umas perguntas atrás, o Comendatio é financeiramente sustentável com muito jogo de cintura.
AC – Fazendo uma gestão muito cuidada de tudo, como também já mencionei lá atrás, tem dado para nos irmos mantendo “vivos”.


M.I. - Como fazem a divulgação do Comendatio? A tecnologia é uma aliada neste processo? Admito que não é habitual ver publicidade ao mesmo. 

AC – Por norma quem começou a vir ao festival, tem-se mantido fiel ao mesmo e tem trazido sempre mais pessoal nos anos seguintes. Temos, de momento, um departamento de Comunicação que começou mais ativamente no ano passado, a cargo da nossa amiga Mónica Moreira, que tem ajudado a que o festival comece a aparecer e a ser falado em muitos mais sítios do que era o nosso habitual. Exemplo disso, foi o ano passado termos feito entrevistas na televisão, coisa que seria impensável sem a sua ajuda.


M.I. - Já houve alguma edição que teve resultados menos positivos e vos fez ponderar sobre a continuidade deste projeto?

DC - A primeira edição do festival como Comendatio Music Fest em 2019 deu-nos um prejuízo considerável. Inocentemente achámos que a forma de chamar público a um festival novo era ter preços baixos. Acabámos por chegar ao fim e ter o público, mas não ter dinheiro para pagar as contas. Mas não ficámos a dever dinheiro a ninguém, a não ser ao banco.
AC – Todos os anos temos esse receio, mas felizmente temos conseguido gerir muito bem as contas do festival e ultimamente não temos tidos percalços inesperados. Este ano será o ano em que arriscamos um pouco mais e esperamos que seja positivo.


M.I. - O que é que eventos musicais como o Comendatio representam para o cenário musical underground português?

AC – Representa concentrar no mesmo festival um nicho que por vezes era um pouco esquecido. Estamos a falar do som mais progressivo no geral. 


M.I. - O que distingue o Comendatio dos outros festivais de sonoridades pesadas em terras lusas?

DC - O público costuma dizer que é o ambiente familiar do festival. O Comendatio é um festival feliz, tanto o staff como o público andam sempre de sorriso na cara. Depois temos trunfos que mais ninguém tem, como a sopa da Tinita (risos). 
AC – Basicamente, foi o que mencionei na questão anterior. Estamos focados em trazer bandas pertencentes a um nicho que não é muito explorado por cá.


M.I. - Vocês costumam ir a outros festivais para “tirar” ideias para o vosso? Qual o festival nacional que mais “concorrência” faz ao Comendatio?

DC - Pessoalmente não costumo ir espiar outros festivais nem acho que tenhamos propriamente concorrência em Portugal uma vez que estamos dentro de um nicho musical muito próprio. Este ano a concorrência que temos são uns 5 ou 6 eventos exatamente em cima das nossas datas, nomeadamente o dia mais pesado do Rock In Rio, mas enfim, a Roberta Medina não deve ter recebido o memo com as datas do Comendatio antes de ter marcado as do RIR!
AC – Parte da produção, toca ou tocou em bandas que já tocaram em vários festivais, por isso este meio não nos é de todo estranho (risos).


M.I. - O Comendatio regressará em 2025? Já estão a fazer planos?

DC - Esperamos que sim e planos já temos. Ainda não temos é resposta de algumas bandas que gostaríamos de ter cá.


M.I. - Muito obrigada pela vossa disponibilidade. Tudo de bom para o festival e que continue por muitos anos! Querem deixar um apelo aos portugueses?

AC - Sejam felizes, espalhem amor e apareçam nos festivais portugueses, principalmente no Comendatio, no Paço da Comenda - Tomar, já nos próximos dias 15 e 16 de Junho!


Entrevista por Sónia Fonseca