Com a saída de Kiko Loureiro para os Megadeth em 2015, Rafael Bittencourt assumiu a preponderância nas composições e explica-nos que este disco sai da dor da morte do seu pai e da morte prematura de André Matos – primeiro vocalista e membro fundador dos Angra. Assim, o ponto de partida deste disco é os ciclos da dor, da vida, da morte… e do recomeço. É, também, de certa forma, uma metáfora dos próprios Angra que, ao longo da sua história, já tiveram que se reinventar por diversas vezes, enfrentar desafios, superar adversidades e prosseguir.
Musicalmente, é um disco alicerçado no power metal com elementos sinfónicos e influências da música popular brasileira, como de costume. Contudo, as composições têm vindo gradualmente a ficar mais complexas e a banda sulca agora águas mais típicas do metal progressivo. É o segundo disco com esta formação e o terceiro com Fabio Lione – o experiente vocalista italiano, conhecido por ter sido o vocalista de Rhapsody/Rhapsody of Fire até 2016.
A execução técnica é, como era de esperar, irrepreensível. Se as guitarras e a voz assumem naturalmente a preponderância no género, é digno salientar o trabalho da secção rítmica, a cargo de Felipe Andreoli e Bruno Valverde, que conferem dinâmicas muito interessantes e se apresentam de forma muito competente e coesa. Bruno é um baterista muito jovem – tinha apenas 3 anos de idade quando saiu o primeiro disco de Angra – mas ombreia já com os melhores do mundo na sua posição. Entre outras prestações, substituiu Eloy Casagrande no posto mais recuado dos Sepultura na tournée americana de 2022 e tocou com Adrian Smith (Iron Maiden) e Richie Kotzen (Mr. Big/The Winery Dogs), no seu projeto Smith/Kotzen.
A juntar a este naipe de talentosos músicos, a banda trouxe, como de costume, alguns convidados – Lenine em Vida Seca, Vanessa Moreno em Tide of Changes – Part II e Here in the Now, Amanda Sommerville e Juliana D’Agostini em Tears of Blood e Fernanda Lira (Crypta) nos coros em Ride Into de Storm, que emprestam o seu talento e ajudam a elevar a qualidade geral do álbum.
A produção, a cargo de Dennis Ward (Pink Cream 69/Place Vendôme/Unisonic) é sublime. Não é propriamente uma escolha nova; o experiente produtor já tinha trabalhado com a banda entre 2000 e 2006, quando produziu Rebirth, o aclamado Temple of Shadows e Aurora Consurgens.
Trata-se, portanto, de mais um excelente disco, ao nível daquilo a que os Angra já nos habituaram, e que nos traz paisagens sonoras épicas, riffs fortíssimos, solos virtuosos e coros memoráveis. É um conjunto de doze canções, com perto de uma hora de duração, que se posiciona entre os melhores discos da banda. Bem sei que os die-hard fans da banda prestam tributo à fase André Matos, mas – acreditem em mim – o melhor dos Angra ainda está por vir.
Nota: 8/10
Review por Renato Conteiro