É cada vez mais uma referência dentro dos festivais de música mais pesada. O Almada Death Fest pauta-se por apresentar um cartaz onde reúne o melhor do que se vai fazendo, a nível nacional, dentro da música mais extrema. Este ano não foi exceção e entre bandas mais recentes, até às que já não precisam de provar nada a ninguém, houve de tudo.
Coube aos Malade o privilégio de dar o pontapé de saída a esta edição. Pouco passava das 17h30 e a banda de Odivelas tinha já à sua espera uma sala muito bem composta. A sua curta atuação foi, no entanto, suficiente para uma mão cheia de temas de black metal, por vezes cantado em português. Destaque para “Oculto”, que provou mais uma vez ser um grande tema.
Seguiram-se os Divine Ruin, que vieram da zona norte do país, mais concretamente da Covilhã e Castelo Branco.
Traziam consigo o seu EP de 2020, Visions of Mortality (que até teve recentemente direito a uma segunda edição) e começaram por presentear o público com alguns temas instrumentais, antes de o vocalista/baixista Prazeres nos dar a conhecer os seus dotes vocais, que aqui e ali até faziam lembrar Mille Petrozza. Meia hora de death metal com fusão thrash que teve o condão de criar bastante agitação entre o público.
Antes de uma pausa programada para o jantar, houve ainda tempo para os Neuropsy e o seu death metal mais técnico/progressivo.
Aquele baixo de sete cordas deixava antever que tinha um papel determinante nos temas da banda de Setúbal e isso ficou claro desde cedo. O vocalista F. Carvalho esteve sempre muito apoiado pelas vocais de um dos guitarrista e temas houve que foram mesmo cantados a duas vozes. Foi uma atuação em crescendo, que pareceu atingir o seu auge perto do fim e talvez por isso os Neuropsy tenham feito questão de tocar um último tema antes de se dar por concluída esta primeira parte do festival.
A banda lisboeta de death metal agarrou a assistência desde cedo e houve circle pit na zona mais perto do palco durante toda a sua atuação. O seu álbum do passado ano, Unveiling Pain foi o principal fornecedor dos temas interpretados nesta noite, mas a despedida foi feita com “Crawl to Die”, tema retirado do E.P: com o mesmo nome, que conta já com dez anos de existência.
Os Rageful surgem neste festival não apenas como banda participante, mas ainda como organizadores. Eles próprios não o escondem e fazem muito bem, pois é de enaltecer a promoção que têm feito à música underground neste e noutros eventos. Enquanto banda eles estão entre os melhores do género, tendo conseguido esse feito em apenas cinco anos. Ineptitude, de 2020, contribuiu muito para isso e o recente split, Misery, apenas reforça que a banda da casa sabe escrever bons temas. Os Rageful prepararam um set list para esta noite que visava apresentar esse novo trabalho e após três temas mais antigos, a banda tocou Misery na integra, com o vocalista Leonardo a anunciar que um desses temas estava a ser filmado para o próximo vídeo da banda. A atuação do quinteto terminou com um regresso a Ineptitude, com os temas “Feed the Pigs” e “Portugal the Torch”.
Os cabeças de cartaz para a edição deste ano foram os Holocausto Canibal. Com mais de 25 anos de existência, esta banda de brutal death metal, oriunda do Porto, reúne uma discografia impressionante. No passado mais recente editou Crueza Ferina, logo seguido da luxuosa box, Trilhos da Carnificina Inexorável e no passado ano, Patamares da crueldade, um E.P. A atuação desta noite foi, à semelhança do que é seu apanágio, uma brutal descarga de energia. Com temas curtos, raramente com mais de dois minutos, tudo muito direto e brutal. O vocalista R. Orca lembrou que eles eram a última banda da noite e se o público ainda tivesse alguma energia, esta era a sua última oportunidade de a libertar, o que aconteceu. Foram 24 temas em menos de uma hora, que resultaram num espetacular encerramento de festival.
É com bandas desta qualidade que se conquista o público para estes festivais. Estou certo de que muitos dos que estiveram presentes nesta noite, no Hollywood Spot, no Feijó, não iram querer perder a próxima edição do Almada Death Fest.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Tânia Fidalgo
Agradecimentos: Almada Death Fest