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Entrevista aos Therion


Finalmente, a trilogia dos Therion está completa com o álbum Leviathan III, lançado em dezembro de 2023. O último álbum da banda de Symphonic Metal apresenta uma nova variedade de ocultismo, misticismo, assim como um panteão mundial de deuses. A Metal Imperium teve a oportunidade de conversar com o fundador dos Therion, Christofer Johnsson, e conhecer as suas novas inspirações desde o lançamento do primeiro álbum Leviathan, há três anos atrás. Sem dúvida, o som e a música dos Therion são bastante conhecidos pela experimentação, combinação novos estilos e acima de tudo conseguir dar um passo em frente na conceção de um novo álbum. Inicialmente uma banda de Death Metal, as letras e riffs de Johnsson desde os inícios dos anos 90 são uma sólida evidência de que a banda conquistou o seu caminho até o estrelato e ainda preenche um estádio completo nos concertos tanto na Europa, como na América Latina.
No entanto, Christofer também partilhou connosco um pouco dos seus projetos paralelos, quais os próximos concertos deste ano e o que o futuro reserva para a banda. O músico sueco que ainda honra os seus clássicos como os ABBA, Pink Floyd e Celtic Frost deu-nos algumas indicações de empreendedorismo, para conhecermos o motivo dos Therion em saltarem para as plataformas de streaming digital, e como capitalizar a arte, mesmo que seja música.

M.I. - Vamos começar pelo início. Qual o motivo que levou a mudar o nome de Megatherion para Therion?

Estou um pouco confuso, mas as pessoas costumam trazer à tona o nome Megatherion, porque, quando fizemos uma biografia em 1990, o nome fazia parte da banda, mas só fomos chamados de Megatherion apenas durante dois ou três meses. Não gravamos nada com o nome, também nunca demos um concerto com o mesmo. Bastante teórico.
Tínhamos formado a banda chamada Blitzkrieg ou eu formei a banda, e percebi que havia outra banda com o nome Blitzkrieg e que tinham lançado um disco. Tive de encontrar outro nome, e nessa altura tinha descoberto os Celtic Frost, que eram um grande sucesso na época. Eu pensei para mim: devo chamar a minha banda de Pandemonium ou devo chamá-la de Megatherion? No final, achei que havia muitas parecenças com Megadeth. Vamos, então, resumir para Therion. Acho que foi até ideia do baixista Erik, que recentemente se tinha juntado a nós, talvez fosse melhor apenas Therion. Quero dizer, se eu não tivesse escrito isso na biografia inicial, ninguém sabia disto. Não fizemos nenhum alvoroço, porque ao criar as demos, não houve nada de gravações e nada de concertos.


M.I. - No final, Megatherion foi apenas o nome da banda durante alguns meses?

Sim. O problema é que separei os Blitzkrieg uns meses. Tivemos muitos problemas com o baterista da época, Oscar, que parecia muito desinteressado. Nós pensamos, se não podemos ensaiar, temos de separar a banda. No início, eu tocava baixo, e cheguei a tentar mudar para a guitarra. O nosso guitarrista, Peter, mostrou-me um acorde potente e foi isso. Vendi o meu baixo e comprei uma guitarra, e quando chegou o verão o calor, pudemos ensaiar na garagem dos meus pais. Não era um espaço isolado, não era aquecido de forma que fosse possível usar no inverno. Começamos a ensaiar lá e depois reformulamos a banda.
Mudamos um pouco o nosso rumo, porque eu tinha a influência dos Celtic Frost antes de tentarmos tocar alguma mistura entre Thrash e Heavy Metal, coisas muito barulhentas e com o baixo distorcido. No início soávamos como os Venom. Os Therion são a minha primeira banda, nunca tive uma banda antes. Formei os Blitzkrieg quando já tocava baixo há três meses, quando era apenas um iniciante, e o guitarrista que tínhamos tocava guitarra há um ano. Éramos todos iniciantes, exceto o Oscar, o baterista, que tocava já há dez anos, que toca bateria desde criança. No entanto, ele não tocava esse estilo de música. Ele costumava tocar com o seu pai, que era trompetista.
Ele não gostava deste tipo de música, era mais do género do punk, esse tipo de coisas, e um pouco de metal, mas não muito. E ele foi perdendo o interesse. Nós reunimo-nos com outro baterista, mas ele nunca apareceu e deixou lá a sua bateria. Comecei a tocar bateria dessa vez. Eu tocava bateria e fazíamos algumas covers de Celtic Frost com a guitarra. Por um tempo, pensamos se eu deveria tocar bateria, mas convenci o Oscar a regressar. Ele convenceu os pais de que poderíamos ensaiar na garagem dele, que era isolada e aquecida no inverno. Fizemos algumas mudanças e acabámos por mudar-nos para lá. Subitamente, estávamos juntos novamente com o lineup que começamos, exceto na guitarra e no baixista. O estilo estava a mudar mais para o Death Metal devido aos Celtic Frost serem a grande novidade e depois os Carcass, um pouco de Morbid Angel, um pouco de Autopsy, o género punk do Death Metal dos anos 80.


M.I. - O álbum Cover Songs 1993-2007 (2020) demonstra que és um fã dos clássicos como Thin Lizzy, Motorhead, Venom e até mesmo ABBA. Além do rock, que outros géneros tens como inspiração quando crias música?

Gosto de todos os tipos de música, mas prefiro músicas que tenham um pouco de alma. Se for muito produzido em massa, não gosto.
Gosto de um pouco de música comercial como os ABBA, mas os álbuns dos ABBA são excecionalmente bem feitos. As pessoas por trás da banda são geniais, totalmente top, equipamentos de gravação muito bons e eram músicos da classe trabalhadora, e é por isso que gosto deles. Gosto muito dos Beatles, ABBA, Queen... Não gosto muito mais dos Queen dos anos 80, mas sim dos Queen dos anos 70. Os Queen dos anos 70 também me ensinaram a não ter medo de experimentar. Acho que devo isso aos Queen e provavelmente aos Celtic Frost. Eles construíram uma boa carreira com Into The Pandemonium (1987) experimentando e deitaram tudo pelo cano abaixo com Cold Lake (1988), que não gostei nada. Mesmo assim, eu respeitei-os e eles fizeram o que queriam, dantes não estávamos tão sensíveis como hoje em dia, chorar na internet se não gostam de uma música ou algo assim, grande coisa.
Acho que foram estes que me inspiraram a ser corajoso a nível musical, mas inspirei-me bastante ao longo dos anos, muitos dos anos 70, como os Pink Floyd, o álbum Atom Heart Mother (1970) e uma banda canadiana chamada Klaatu. Eles criaram alguns discos, mas eu não gostei da maioria deles. O primeiro é muito bom, o segundo é genial, chama-se Hope (1977), que é orquestra. Eu ouço muito metal e cresci com o metal dos anos 80. Eu diria que minha banda favorita, provavelmente são os Accept; Voivod também foram uma grande inspiração em como escrever na perspetiva de tocar guitarra com acordes. Também gosto muito de Rock clássico, como AC/DC, eles são grandes. Eu também gosto dos grandes êxitos do Jimi Hendrix e dos Judas Priest dos anos 70. Também podemos falar dos Deep Purple, Black Sabbath, Uriah Heep, que têm sido uma grande influência para mim. Basicamente tudo o que conheces dos anos 80, como por exemplo os primeiros álbuns dos Mötley Crüe, os primeiros álbuns dos Twisted Sister, os primeiros dos W.A.S.P., Manowar, Iron Maiden também e Girlschool.


M.I. - Já se passaram alguns anos desde nossa última entrevista, quando Leviathan (2021) foi lançado. A trilogia está completa com com Leviathan III (2023). Qual a razão da escolha deste título, que faz alusão à poderosa serpente marinha? Alguma relação com o Antigo Testamento ou até mesmo com Hobbes?

Bem, eu tive uma visão um pouco vaga do que os álbuns eram, do outro lado da colina naquela época, lembro-me de quando gravamos o álbum Vovin (1998). Eu tive uma ideia de fazer um álbum denominando-o de algo relacionado com dragão/serpente alada na altura. Leviathan significa dragão em hebraico, e Vovin o mesmo, mas em enoquiano. E quando estávamos prestes a tentar fazer um álbum de sucesso para os nossos fãs, eu não estava a tentar conquistar-vos, dar aos fãs o que eles querem. Um dia, lembrei-me, tenho de fazer outro Leviathan, e depois converter numa trilogia.


M.I. - Na última entrevista mencionaste que Leviathan seria mais sombrio e melancólico e o seguinte um pouco mais diversificado com músicas experimentais. Devemos esperar um novo som dos Therion?

O Leviathan II ficou um pouco sombrio, comparando com o primeiro, e o Leviathan III é mais experimental. Definitivamente muito mais experimental, porque queríamos fazer um Leviathan para diferentes categorias de fãs. Eu gosto do streaming de uma certa forma, pois consegues obter resultados reais, caso contrário, toda a gente apenas diz o que pensa e fala na sua opinião. Na verdade, antigamente era muito difícil dizer quais as músicas eram as mais populares. Quer dizer, os grandes êxitos foram fáceis de definir, mas se não vais tocar os êxitos, então quais músicas? Ou mesmo aquelas pessoas que menos gostam das músicas do disco, quais então? É muito difícil, porque vês a reação nos concertos, e agora estamos a transmitir online. Consegues obter um número exato. Posso dizer-te quantos ouvem essa música, o género, em que cidade vivem, quais os grandes êxitos. Queremos fazer isso, para que as músicas do disco, porque quando estávamos a escrer as músicas, pensamos em fazer uma música de sucesso, para quem não gosta dos êxitos, para os mais aventureiros e mais experimentais, porque se pegares nos comentários da Internet, tens a impressão, quanto mais experimentais as músicas dos Therion são, mais populares elas se tornam. Se vires os números em streaming, verás que esses fãs, quanto mais experimentais, são um pouco mais ativos online. Eles são muito ativos, mas acho que merecem ter a sua própria opinião, e como escrevemos tantas músicas, temos músicas suficientes para um terceiro disco. 
Do Leviathan II são basicamente as músicas que não cabiam no primeiro ou terceiro álbum. Então, simplesmente aconteceu, mas ficou mais sombrio, como referiste. Não sei porquê ou se é só coincidência, mas isso também foi bom, porque os fãs também não gostaram, era uma categoria de fãs que preferia também essas coisas. Então, a questão que se colocou será que podemos fazer um Leviathan para a maioria dos nossos fãs. Claro, vais ter sempre pessoas que dizem que só gostam dos discos de Death Metal, ou pessoas que só gostam dos discos antigos, porque não gostamos do novo som ou algo assim. Tu nunca consegues agradar a todos, mas se consegues agradar a maioria dos fãs ou pegar nas melhores músicas da trilogia e fazeres o teu próprio Leviathan, já é bom o suficiente. Portanto, missão cumprida. Muito bom até agora. Leviathan I ficou acima de qualquer uma das nossas tabelas anteriores na Alemanha, e o streaming tem sido muito bom. Nunca fomos uma banda de streaming. Transmitíamos muito, muito mal e agora quase duplicamos a quantidade de pessoas via stream. É como se tivéssemos encontrado novos fãs e o mais interessante é que os novos fãs começaram a transmitir o material antigo. Sim, recuperei a coleção antiga dos Therion, quase todo o histórico do início de 2020. Tenho todas as estatísticas, todas as plataformas. Além disso, streaming para as mulheres duplicou, por causa do Leviathan II, havendo novos fãs, mas elas concordam com os fãs antigos que aparentemente gostam de 60% ou algo assim. Os discos que eram mais populares naquela época, como Lemuria, também são os mais populares entre os fãs mais jovens ou os novos fãs, o que acaba por ser interessante.


M.I. - No início, tinhas planeado escrever uma trilogia ou aconteceu espontaneamente?

Apenas aconteceu. Tivemos muita inspiração.


M.I. - A pandemia ajudou-te a escrever as faixas ou, como muitos músicos sentiram, foi uma barreira que impediu a tua criatividade?

Bem, nós estamos numa boa fase de composição e escrita. Para nós, não fez muita diferença no processo criativo. No que respeita à gravação, houve uma grande diferença, porque eu tinha acabado de me mudar para Malta, e todos deveriam voar para cá e gravar tudo e, de repente, fecharam o aeroporto. Eu não posso sair, eles não podem vir até cá e tens de encontrar uma maneira diferente de trabalhar. Gravamos tudo remotamente, o que era uma nova forma de trabalhar e tinha lados bons e maus. Quer dizer, com alguns membros acho que vai ser ainda remotamente, porque adquiriram mais responsabilidades. Alguns deles ficaram moles, mas eles realmente precisavam de um fogo lá para incentivar a trabalhar ou alguma motivação. Seria um desperdício de dinheiro, porque eles fariam algumas gravações e eu diria “Ok, não vale a pena”, “novamente desta vez” e outra versão. Algumas das gravações creio que vou aplicar no futuro. Acho que continuarei a gravar, para realmente funcionar bem. Por exemplo, e eu sempre odiei gravar, um dia e depois outro, outro dia e depois outro dia. Já ficas cansado repetitivamente, e depois ficas dois dias a ouvir o baixo, depois são as guitarras. Com bateria e baixo, eles realmente fizeram um ótimo trabalho sozinhos. Dou algumas orientações se há alguma coisa que não estou satisfeito, eles refazem. Com a guitarra, nós fomos aos poucos, como se estivéssemos apenas a testar as coisas, é esta a direção que quero seguir. Acho que para guitarra era melhor quando estávamos sentados na mesma sala, porque geralmente fazíamos isso sozinhos e depois compúnhamos juntos. Para escrever, não preciso de ficar sentado a ouvir durante o tempo todo, mesmo que eu toque um pouco. Ele é um guitarrista muito melhor do que eu, então porque é que eu deveria gravar a parte instrumental da guitarra para as músicas principais? Gravámos com uma guitarra limpa, então posso escrever o meu nome nela, mas o meu grande trabalho é ser um produtor de alguma forma que seja mais do que um músculo, de qualquer maneira.


M.I. - Tenho a sensação de que vês os Therion como uma “empresa”. Consideras-te um empreendedor?

Costumo brincar com os meus amigos. Trabalho no escritório e ocasionalmente também faço um pouco de música. Sim, fiz a gestão da banda durante 18 anos. Se não fizeres o trabalho, não recebes nenhum dinheiro. Acho que ganho muito mais dinheiro do que outros artistas do mesmo nível que eu, porque sou um bom empreendedor, porque preocupo-me com os detalhes e isso consome muito tempo. Precisas de entender economia, as questões jurídicas e assim por diante, mas é a única forma de vender alguma coisa. Mesmo que seja arte e tu gostas da tua arte, ainda estás a vendê-la. Tens de ter em conta a parte comercial. Se não ganhar dinheiro, alguém o fará. Muitos músicos têm essa atitude hippie: não me importo com dinheiro nem nada, mas é isto é o que se diz quando temos 20 anos, e depois temos 40 e percebemos que não estamos a ganhar nenhum dinheiro. Tenho tocado em toda a minha vida e, quando percebes, é tarde demais. Cometi um erro ao assinar coisas que não entendia. Percebi que para o próximo contrato era o inglês de negócios era muito difícil, e eu não era muito bom a inglês na escola, porque não me importava com a escola, mas aprendi muito inglês ao realizar entrevistas. Recebia muitas entrevistas escritas na área de ciências e não entendia o que estava escrito. Mais tarde, levei para casa um dicionário Sueco-Inglês e aprendia as palavras. Quando estás neste patamar, lidas com um inglês de negócios bastante difícil, mesmo ainda atualmente. É muito complicado, porque não entendes, mas se não aprenderes, eles vão lixar-te e esse é o objetivo, de ser difícil.


M.I. - Para já, Ruler of Tamag é a minha música favorita. Novamente, o Ocultismo bastante presente e uma referência ao próprio Inferno e ao Médio Oriente. Podemos esperar mais destes temas no próximo álbum?

Todas as coisas são como sempre fomos desde 1989. Diferentes mitologias, diferentes cenas ocultas, diferentes ensinamentos e essas coisas são sempre um interesse para mim. Uma gama muito ampla de mitologias. Por exemplo Nummo, que representa a tribo Dogon, onde existe uma divindade parecida com um peixe. Tens a música Midsommarblot, que significa sacrifício de verão. Isto é algo neopagão, neste caso. Depois temos a Ayahuasca, que é um alucinogénico na América do Sul, na verdade feito de algumas folhas, usado para fins religiosos. Temos o Twilight of the Gods/ Crepúsculo dos Deuses, novamente a mitologia nórdica, Ruler of Tamag, que governo o submundo na mitologia turca. É difícil de explicar, é como o Diabo na música, especialmente na tradição musical do sul de Espanha. É como algo que pode possuir-te, principalmente dentro do flamenco, que é uma performance incrivelmente espetacular, mas não é deste mundo. Depois disto, temos a Duende quase no final do álbum.


M.I. - Parece que temos novamente diferentes Leviatãs/ referências históricas neste novo álbum: Ninkigal (babilónico), Tamag (turco), Midsommarblot (nórdico) e Nummo (africano). Culturas diferentes com mitos diferentes?

Sim, é como os álbuns anteriores da trilogia Leviathan, muito variados.


M.I. - A música dos Therion está sempre a evoluir. Do Death ao Symphonic Metal, a banda sempre foi reconhecida por experimentar diferentes estilos musicais. Considerarias trazer novamente as raízes do Death Metal dos Therion em álbuns futuros?

Podemos fazer partes de Death Metal nas faixas de abertura, como no Leviathan. Havia um coro de Death Metal, na verdade. Não tenho nada contra isso, mas parece-me que já não há muito a explorar ali. Foi feito, e não vou puxar pela minha voz e de mim mesmo para desistir. Não sei, o Death Metal era algo muito recente e muito emocionante quando surgiu, mas não é apenas Death Metal. Em geral, nada mais parece novo e fresco. Tudo foi feito e tudo se resume a fazer diferentes tipos de combinações e tentar fazer uma mistura que ninguém mais fez e está agora a falhar. Quero dizer, ainda podes fazer música pioneira, mas é muito difícil, e a última vez que ouvi um som completamente novo, foi há cinco anos ou algo assim. Não estou a descurar o Death Metal, mas é como os AC/DC, praticamente os mesmos três acordes ao longo de 40 anos, e eu gosto bastante. Eu acho que o Lost Recordings deles é um dos melhores álbuns. Então, se tu és completamente Death Metal, efetivamente, não precisa de ser novo para alguém gostar. Sem desrespeitar o que as bandas de metal extremas continuam a fazer, fico contente por elas, mas para mim, não sei. Eu sinto que levei o Death Metal o mais longe que pude com aqueles quatro primeiros álbuns.


M.I. - Tens 51 anos. Algum projeto futuro que queiras partilhar connosco?

Há muitas coisas interessantes na música e nunca fui tão produtivo na minha vida. Com este trabalho de mega trilogia, gravamos, escrevemos e fizemos demos para mais de 40 músicas, e acho que gravamos umas 37 músicas ou algo assim. Eu agora preciso de uma pequena pausa criativa dos Therion, provavelmente alguns anos, para ter novamente inspiração para regressar. Enquanto isso, farei 1 ou talvez até 2 discos com o meu projeto paralelo, Luciferian Light Orchestra. Fizemos um disco antes, que é muito inspirado em Jimi Hendrix, também com muito de Ritchie Blackmore na guitarra.
É algo como Ritchie Blackmore e Jimi Hendrix, onde realizo uma homenagem ao Bebé de Rosemary, o filme de terror satânico, feito por eles. Eu gostaria de fazer mais 2 discos neste projeto antes de terminar. Se o primeiro álbum é uma tentativa de obter o som do final dos anos 60, início dos anos 70, o segundo seria mais para meados dos anos 70 e o terceiro seria o final dos anos 70. Acho que devia ser isto. Não pensamos em mais de 2 discos que gravamos. Sem dúvida, eles podem tornar-se num, e também quero fazer um álbum de Heavy Metal dos anos 80 como um baixo clássico de metal.
Devo ao Christofer de 11 anos o álbum de Heavy Metal, quando descobri o metal por volta dos 10 ou 11 anos com os Judas Priest e Accept. De certa forma, fizemos esse tipo de música, mas não tínhamos roupas de cabedal e espinhos, e não nos tornamos uma banda de arena como essas bandas, mas praticamente realizamos o meu sonho de uma maneira diferente. Seria porreiro fazer um disco exatamente como eu imaginei, mas, claro, não vai ser muito original, porque como podes ser original? São tantos discos feitos e nem mesmo as bandas clássicas dos anos 80 conseguem mais concretizar discos que sejam considerados da mesma qualidade dos anos 80. Eu não tenho nenhuma aspiração comercial para isso, só quero fazer o disco, e posso até mesmo lançá-lo, porque parece que estou a dedicar ao meu alter ego de 11 anos e para mim mesmo. Agora, eu só quero fazer um álbum de metal. Isto surgiu quando o K.K. Downing deixou os Judas Priest e oferecemos os nossos serviços através do seu manager. Pareceu um pouco profissional por parte de seu gerente / assistente. Então pensamos que podíamos escrever algumas coisas comerciais. Acabei de escrever o disco em duas semanas, toda a música já estava escrita. Só precisávamos de tempo para gravá-lo. Agora, tínhamos a data para divulgar que vamos fazer uma tour, demoraria um pouco, mas quando terminado chamaremos a banda de Luciferian Light Orchestra.


M.I. - Vocês vêm atuar em Portugal e mal podemos esperar para ver-vos! Tens boas memórias do país?

Isso varia entre os países, mas eu lembro-me quando fizemos uma tour em 98 com os Moonspell. Essa foi a primeira vez que tocamos em Portugal, e o concerto que fizemos no Porto foi o penúltimo show da tour. Fizemos 48 com um dia de folga e o dia de folga foi o pior dia, porque era dia de viagem. O Porto foi de longe um dos melhores concertos na Europa, e também a banda estava bastante desgastada no final, mas conseguimos aquele brilho extra no final da tour. Sem dúvida, essa foi na verdade uma das melhores atuações da tour e um dos melhores concertos que tivemos.
Uma vez mais, devo referir a desistência ou desistência no futuro, porque temos outros interesses além de apenas fazer tours. Somos muito maiores na América Latina, na Rússia e na China. Então, se quisermos cortar algumas tours, serão na Europa. Não vamos cortar definitivamente os países, mas não vamos mais fazer tours bastante longas, como fizemos em 2018, onde fizemos 58 shows na Europa. Não vamos fazer mais nada assim. Provavelmente daremos aproximadamente 25 concertos ou algo parecido, e iremos depender do agente de reservas para determinar onde será no futuro. Já deixamos de lado o Reino Unido nesta tour, mas no futuro não vamos a todos os lugares da Europa. Teremos de ver. Quer dizer, os Therion cresceram muito para na América Latina. Demos 18 concertos apenas no México durante a tour, e metade deles esgotou. A maioria das bandas só dá três ou quatro concertos, não sei por que razão, mas somos muito grandes no México. O pior concerto que tivemos na tour foi um de transporte. Era um pouco longe viajar entre aquela cidade e aquela cidade. Atuamos lá, pois ninguém chegou a atuar em Villahermosa. Temos neste momento, penso eu, quase 73.000 mil fãs no México. É uma loucura. Não sei porquê, mas é uma loucura, e se eu der um concerto na Cidade do México, ganho mais dinheiro com esse concerto do que com toda a tour pela Europa.
Não é apenas pelo dinheiro, mas apenas basta colocarmos em contraste a grande diferença. Além disso, na Europa complicam muito. Tens impostos diferentes para diferentes tipos de artistas, como estavas a perguntar anteriormente acerca sobre ser empreendedor. É necessário pesquisar bastante antes de cada tour: quais são as regras fiscais mais recentes da FED? A União Europeia deveria unificar tudo, mas tudo é diferente em cada país da União Europeia e é muito, muito injusto. Além disso, se eu pagasse impostos, digamos, na França, eles têm lá uma das piores regras. Lá não recebo nenhum benefício, não conduzo nas estradas lá, nem vou aos hospitais lá. Se eu quiser evitar isso, tenho de preencher um formulário de dupla tributação com todas as fontes de rendimento que eu tiver numa tour, o que geralmente representa todos os promotores, o que geralmente significa todos os concertos. Se tu deres 30 concertos, provavelmente terás 25 fontes de rendimento diferentes, e então tens 7 pessoas na banda. São cerca de 10 formulários que precisas de preencher para cada concerto. Talvez isto possa funcionar para mim, visto que sou um pouco empreendedor, mas para todos os outros eles vão dizer: Não! Eu não faço isto. Se eu dirigisse a banda como se a empresa não gostasse, eu tinha de pagar os impostos de todos.
No futuro, podemos escolher com mais atenção o itinerário dos países que têm regras mais fáceis do que outros. No plano da última tour, demos 5 concertos na Polónia e acho que temos um agendado na França, sendo assim este o motivo.


M.I. - Muito obrigado por esta entrevista. Foi, sem dúvida, um grande prazer poder falar contigo. Gostarias de partilhar alguma mensagem final com os nossos leitores e os teus fãs?

Estamos ansiosos em voltar à estrada e esperemos que toda a gente desfrute do concerto, porque não sabemos quando iremos regressar novamente.

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Entrevista realizada por André Neves