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Entrevista aos Odd Switch


Se o metal na cidade do Porto afigura-se com bandas como os Blame Zeus, Sonneillon, Pitch Black, entre outros, cidades satélites à “capital do norte de Portugal” também são emergentes na cena do Heavy Metal português.
Os vimaranenses Oddswitch fazem parte do que é considerado o Nu Metal/ Progressivo, bebendo um pouco das influências musicais de Deftones, Rammstein, Nirvana e até mesmo de Lamb of God. É esta a receita primordial que compõe a banda de António, João, Nelson, Duarte e Nuno. 
Atualmente com um EP, e com sonhos e projetos em desenvolvimento a serem apresentados no futuro, os Oddswitch conversaram com a Metal Imperium, de forma a podermos conhecer um pouco sobre esta promissora banda que não receia apostar na experimentação musical e lançar-se com novas sonoridades.

M.I. - Onde e quando nasceram os Odd Switch?

João: Tudo começou em 2009. Começou tudo apenas na brincadeira em Lordelo, Guimarães num espaço só nosso. Começámos a criar músicas, a aprender a tocar e a cantar, enquanto nos divertíamos. Um pouco mais tarde, chegou o momento de levarmos o nosso projeto mais adiante e criarmos os Odd Switch. Já tínhamos criado duas ou três bandas, mas ainda sem algo concreto.
No início, o nome da banda, éramos para ser os On Switch, mas visto o nosso som ser esquisito, alteramos para Odd Switch.
António: Só para acrescentar. Era um espaço do João, para malta amiga, onde íamos para lá tocar, sem qualquer compromisso. Havia um baterista, outro guitarrista e veio o Nelson. Precisavam de um baixista e como o João já me conhece há mais de 20 anos, precisavam de um, embora eu inicialmente quisesse tocar guitarra. Deixei-me seduzir pelo novo projeto.
Já existia um projeto algures chamado On Switch. Ensaiávamos sempre à sexta-feira, onde havia sempre malta a assistir aos nossos ensaios e um amigo nosso, chamado Hugo, sugeriu-nos o nome, Odd Switch/ Botão Bizarro que se adequava mais ao que tentamos fazer.


M.I. - O vosso estilo musical está intrinsecamente ligado ao Nu Metal. No entanto, quais as vossas influências a nível de bandas e músicos?

Nelson: Uma das minhas referências e que até acaba por ser notório na minha performance nos nossos concertos ao vivo é, sem dúvida, o Chino Moreno, dos Deftones. No entanto, Deftones sempre tentaram demarcar-se um bocadinho do Nu Metal, mas as referências estão lá. Admiro o Chino Moreno na forma como canta, como coloca a sua voz deslocada, mas que combina muito bem com o género instrumental. Tenho outros vocalistas e vozes que são referências para mim, quer pela sua performance ao vivo, quer pela grandeza da voz, tais como o vocalista dos Rammstein. Os Rammstein são a minha banda favorita, a minha banda de infância e, claro, estamos a falar de estilos completamente diferentes entre Deftones e Rammstein, mas identifico-me com ambos os frontman. Um completamente ativo ou hiperativo, enquanto o outro quase nem se mexe ou é tudo coordenado em palco. Também aprecio imenso Lamb of God, algumas vozes do Grunge como por exemplo o Eddie Vedder, Kurt Cobain, o próprio vocalista dos Queen também.
Gosto imenso de música, embora o Metal não seja um estilo que, hoje em dia, consuma com frequência, como o fazia na minha adolescência. Porém estas vozes icónicas, também como por exemplo o Chester Bennington, são todas grandes vozes para mim, que adoro ouvir. Sei distinguir a qualidade e a técnica quando estão lá, do que é totalmente programado.
António: Como o Nelson referiu, uma das nossas grandes referências são, sem dúvida, os Deftones. Mesmo no início da banda, até mesmo com outros elementos, notava-se muito esse estilo. (In)felizmente até já nos compararam com os Deftones, pois acredito que o Nelson tem uma voz muito idêntica à do Chino.
Contudo, os Odd Switch não ficaram por aqui. O Nu Metal, sem dúvida, uma referência da banda. Antes ouvíamos mais Nu Metal do que hoje em dia. Atualmente, não ouço tanto este estilo musical, mas sim mais Metalcore, um som mais corrente, moderno e que entra mais facilmente no ouvido das pessoas. Não creio que neste momento estejamos com material de Metalcore puro, mas também não acho que sejamos apenas uma banda de Nu Metal. Acredito que somos uma banda que está na transição destes dois estilos e o facto de os cinco elementos terem gostos muito diferentes trazem conteúdos diferentes. O nosso guitarrista, o Duarte, tem um background de Rock e Hard Rock e acaba por se refletir nos nossos riffs, o nosso baterista tem outra banda de Black Metal, sendo algo que nós adoramos no Nuno a sua energia pelas suas influências de Black e Thrash Metal. 
Assim, a súmula de Odd Switch é um conjunto destes géneros e estilos musicais. Até mesmo quando nos questionam que estilo tocámos, tenho alguma dificuldade em responder, por ser Nu Metal, Metalcore, Hard Rock, acabando por ser uma mistura musical que está no meio deste triângulo. Outras referências para nós, acrescento Bury Tomorrow, Architects, Northlane, Bad Omens, Polaris, Wage War e Sleep Token
João: Tudo começou na base do Nu Metal, como por exemplo Korn, System of a Down, Alter Bridge, Grunge e depois tentamos encontrar o nosso som, combinando os gostos de cada um e, assim, nasceram os Odd Switch.


M.I. - Infelizmente, há 3 anos, o mundo foi abalado por uma pandemia e fomos forçados a ficar confinados em casa. Conseguiram manter a cabeça erguida e continuar a lutar ou a banda sofreu algumas mudanças e transformações?

António: Foi complicado. Nos primeiros tempos não podíamos fazer nada. Pessoalmente, os medos e os receios eram existentes por questões pessoais de familiares ligados à área de saúde que nos fizeram ter medo. 
Hoje em dia, acho que nos fortaleceu, embora perdemos algum tempo, pois estivemos imenso tempo sem ensaiar e começou a provocar alguns danos físicos no nosso salão de ensaios. Aquilo começou a deteriorar-se, começamos a ter problemas de humidade e infiltrações, o que nos levou a abandonar o espaço. O facto de não estarmos tanto tempo juntos para ensaiar, acabámos por seguir alguns caminhos diferentes, embora os Odd Switch sempre existiram. Com o confinamento, alguns de nós ainda não se sentiam seguros para ensaiar; quando tudo começou a regressar à normalidade, a vontade em continuar foi difícil de existir.
Passado uns tempos, a malta juntou-se e conversou, no sentido de percebermos qual seria o nosso caminho e decidimos avançar com o um novo estúdio. Creio que no fundo foi uma experiência que, mesmo não tendo ensaiado, no fundo uniu-nos bastante. Atualmente, com este novo espaço, estamos motivos, temos vontade de ensaiar e de fazer música.
Antes da pandemia, estávamos a gravar o nosso EP e decidimos fazer uma pausa. O dono do estúdio tinha uma banda, que estava em digressão. Entretanto, a banda voltou de digressão e o estúdio passou por um período de obras, o que acabou por atrasar o lançamento do nosso EP. Contudo, conseguimos chegar a acordo e finalizar o EP de quatro faixas. Neste momento, já temos as pistas do nosso lado, mas falta-nos a voz. O Nelson quer fazer o seu melhor e, se calhar, as suas ideias atuais não refletem o que ele fazia há cinco anos atrás.
João: O grande problema é sempre colmatar a música com o trabalho.
António: O problema é a indústria. A indústria musical não tem agenda, espaços para conseguir acumular estas bandas [portuguesas] todas. Torna-se difícil para todas estas bandas mais underground conseguirem viver da música.


M.I. - Com 4 faixas já lançadas, quem é o compositor das letras e quais os temas de inspiração?

António: Sim, do EP físico. Fora umas três já tocadas, temos as quatro do novo EP. Temos uma que ainda está totalmente fechada e mais duas ou três que ainda estão na forja.
Nelson: A composição das letras tem sido feita por mim, embora não seja perentório. Se alguém trouxer uma nova ideia, é sempre bem-vinda. Tentamos sempre ver se essa ideia se enquadra na banda ou se até mesmo dessa nova ideia possam surgir outras.
A própria inspiração depende do mood em que estás, de alguma experiência passada, momentos mais delicados ou menos fáceis.


M.I. - A faixa “Until the Night Ends” tem um toque de Grunge, similar a Alice in Chains e Soundgarden. Além do Nu Metal, podemos afirmar que o grupo cresceu a ouvir Grunge e Rock quando eram mais novos?

Todos: Totalmente.
Nelson: Somos todos da década de 80 e quando éramos adolescentes, passamos pela década de 90 do Grunge. Éramos jovens em crescimento, queríamos enquadrar-nos em determinados contextos sociais e acabámos por beber um pouco dessa rebeldia, e no meu caso, em particular, foi o Grunge o Nu Metal, sem sombra de dúvida. Essa música é, para mim, a que tem mais sentimento a nível emocional.
António: Eu cresci a ouvir Grunge. As quatro mais conhecidas são Pearl Jam, Alice in Chains, Soundgarden e Nirvana. Só depois, é que começou a aparecer Pantera, Sepultura, Cradle of Filth, Deicide, etc. 
Foi com o Grunge que tive vontade de aprender a tocar guitarra, apesar de agora estar no baixo. A nossa faixa “Until the Night Ends” é, sem dúvida, a nossa música mais longa, que não acho que seja a música que nos define, mas é a que as pessoas mais gostam de ouvir. Acho que a “Drift Through My Head” equipara-se ao que atualmente estamos a fazer.
João: Para mim, foram os Pink Floyd, Queen e ZZ Top também fizeram parte da nossa adolescência. 


M.I. - As letras e a sonoridade são bastante importantes, mas o artwork do vosso EP é também deveras único. Quem teve a ideia de conceber o design da capa do vosso EP e por que razão a escolha desta imagem?

João: Quando ouvimos música, seja qualquer estilo ou género, parece que ligamos um odd switch, o que nos transporta para uma memória ou um momento, daí o conceito desse desenho da nossa capa. Depois, juntámos as ideias de todos e, num dos dias enquanto estávamos no estúdio a gravar, estava lá um cd com uma capa interessante e decidimos ir atrás do designer que fez a capa desse cd. Acabámos por encontrá-lo no Centro Comercial STOP e foi ele que concebeu o artwork dos Odd Switch.
António: Chama-se Aros Arte, cujo nome do artista é Carlos. O símbolo da capa consiste num portal que nos transporta para o outro mundo. Temos outros elementos, como por exemplo as pessoas a saírem do portal e entrarem numa floresta, numa nova dimensão.


M.I. - Atualmente, se pudessem descrever o ponto alto da vossa carreira, qual seria?

António: Talvez tenha sido em Vale de Cambra. A malta gostou de nós e também gostamos de ir lá tocar. Surgiu num concurso de bandas em Vale de Cambra, que acabámos por não ganhar, mas tivemos uma boa reação. Partimos aquilo tudo, à nossa maneira. 
Se foi o ponto mais alto da nossa carreira, não sei. Foi algo memorável e que desfrutámos bastante, onde fomos bem recebidos.


M.I. - Ainda se recordam do vosso primeiro concerto? 

Nelson: Sim, foi um concerto em Vizela memorável por várias razões. Ficámos com a sensação de que podíamos continuar com os Odd Switch, independentemente do resultado. Não tivemos grandes palcos ou concertos, mas o primeiro concerto acaba sempre por ser especial.
As próprias condições desse concerto foram mesmo boas. O sistema de som era o mesmo que era colocado quando iam bandas da cidade tocar. Sendo o primeiro concerto, estávamos nervosos e ansiosos, erámos pouco experientes, mas deu para aproveitar ao máximo. Se fosse hoje, com as mesmas condições de palco, o concerto tinha sido diferente.
João: Também chegamos a tocar duas vezes no Hard Club, em Vila Nova de Gaia.
António: Houve um concerto onde ficamos em segundo ou terceiro lugar, cujo prémio era a gravação de um EP e um concerto no estúdio Fábrica de Som, junto ao Centro Comercial STOP. Tocámos numa cave, escura e isso permitiu-nos adquirir mais visibilidade.
Fomos tocar ao Metalpoint, mas nessa altura estávamos numa bem diferente. Não tínhamos o nosso atual baterista e guitarrista, sem menosprezo pelas pessoas que nos ajudaram a crescer e contribuíram para o crescimento dos Odd Switch. Porém, estamos à espera de um grande palco para atuar.


M.I. - Têm concertos agendados para o ano de 2024?

António: Para já, nada. Retomamos os ensaios apenas há um mês.
Nelson: Como o António já referiu, foi uma fase em que estivemos bastante tempo parados. Após a pandemia ainda houve uma adaptação da nossa parte a um pós-momento pandémico e ainda trazíamos algumas ruturas, o que acabou cada um a seguir um caminho diferente.
António: Posteriormente, perdemos o estúdio e só agora é que estamos a arrancar com as engrenagens.
Nelson: Pretendemos terminar as quatro faixas e vamos recomeçar, com a certeza daquilo que queremos fazer. Atualmente, já não vejo as quatro músicas como via há uns anos. 
António: Gostava de lançar as quatro músicas e depois ter um reportório de mais dez músicas. No entanto, se nos chamarem para tocar amanhã, estamos prontos.


M.I. - Se pudessem escolher um festival onde desejariam tocar, qual seria?

Nelson: No NOS Alive.
António: Algo como o Ressurection, na Galiza, era brutal. À nossa escala e olhando ao nosso país, talvez o Laurus Nobilis Metal Fest, pois parece-me um festival em crescimento, numa boa localização e com um som que não está a monopolizar estilos musicais. Acredito que este festival permite a oportunidade de o público conhecer bandas mais pequenas.
João: Talvez no NOS Alive também ou, então, no Vilar de Mouros.


M.I. - Gostariam de deixar alguma mensagem para os nossos leitores e vossos fãs?

Nelson: Eu sinto muito esta fase como um recomeço. Esperamos continuar a fazer aquilo que mais gostamos e esperamos, também, a continuar a agradar o nosso público. Continuem a ajudar-nos, indo aos nossos concertos, comprar o nosso merchandise, de forma a que possamos continuar a trabalhar com novidades. Acaba por ser um pouco uma bola de neve: se fizermos um bom investimento financeiro, conseguimos pagar despesas, deslocações, material de som, produção de um novo álbum e todos os custos que sejam inerentes a isso, tendo por fim uma fonte de rendimento para dar continuidade aos Odd Switch. Estejam atentos às nossas novidades!
António: Espero quem leia esta entrevista e se tiverem curiosidade, vão ouvir um trabalho nosso já relativamente antigo. Como disse, a pandemia roubou-nos anos de evolução. Atualmente, estamos e somos diferentes do que éramos há dez anos atrás, mas a essência dos Odd Switch estão naquelas músicas, sobretudo na “Until the Night Ends”. Se gostaram do que encontraram no YouTube e Spotify, estejam atentos aos novos lançamentos. 

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Entrevista por André Neves