A sensação que tenho com os Worm é que cada álbum que lançam consegue inexplicavelmente ser melhor que o anterior, que por si só já é de uma qualidade musical que muitos nem sonham alcançar. As bandas costumam ter altos e baixos ao longo da carreira, no entanto estes apenas sobem sem parar. Portanto, quando soube que a banda de Phantom Slaughter ia lançar um novo álbum, pensei para mim mesmo que nada poderia bater o EP de 2022. E, de certa forma, estava enganado.
Este álbum é um split. As duas primeiras músicas são dos Dream Unending. Tocam um death/doom atmosférico que se encontra estilisticamente bastante longe dos Worm. No entanto, ao contrário do que seria tendência pensar, enquadram-se perfeitamente neste álbum, complementando a abordagem mais explosiva dos mencionados tanto com momentos mais pesados como também calmos e ambientes, chegando a incluir vocais limpos nas suas duas músicas que passam dos 10 minutos cada.
Para quem não conhece, Worm é a banda do vocalista e multi instrumentalista Phantom Slaughter. Desde o seu surgimento em 2012, lançou dois demos, um EP, três álbuns e o split desta review, inovando constantemente o seu som e passando por uma variedade enorme de subgéneros. Começando por fazer raw black metal, notou-se uma grande mudança estilística no segundo álbum “Gloomlord” que pode ser caracterizado como funeral death/doom ou, como a banda lhe costuma chamar, “floridian funeral doom”. Até que em 2022 a banda nos apresentou o EP “Bluenothing”, que retornou às origens de black metal, sem nunca perder a influência doom e acrescentando uns toques sinfónicos. Mais uma vez, talvez “necromantic black doom” dê uma melhor ideia do que os Worm são. Neste split, recebemos três músicas novas da banda, que vêm dar continuidade ao som do EP anterior, mergulhando ainda mais no black metal sinfónico. As influências de bandas como Limbonic Art, Obtained Enslavement, Cradle Of Filth e (antigos) Dimmu Borgir, Arcturus, Abigor e Covenant tanto em termos de som e abordagem como esteticamente são evidentes; a homenagem a este estilo que teve o seu apogeu no final dos anos 90 é notável. Os teclados estão mais presentes que nunca, ora evocando uma atmosfera sinistra, ora criando melodias saídas de um castelo em ruínas. Os vocais alternam entre aterrorizantes shrieks e monstruosos death growls, sendo provavelmente uma das melhores performances do vocalista até à data. Os solos de guitarra são bastante variados, passando tão depressa de ecoantes e melancólicos para rápidos e destrutivos, salientando-se o trabalho do guitarrista Wroth Septentrion (Philippe Tougas) que também toca nos VoidCeremony e First Fragment. A bateria é mais rápida e o double bass está bem presente ao longo das três músicas. Como é usual nos Worm, as músicas apresentam estruturas complexas e as influências são muito diversas, culminando na soundtrack metálica perfeita para um filme de terror. A música ecoa das profundezas de uma catedral, é assombrosa e sinistra mas nunca perde a sua epicidade.
Os Dream Unending formaram-se em 2019 e têm dois álbuns lançados sem contar com este split. Não os conhecendo tão bem como à banda anterior, a minha impressão é apenas na base destas duas músicas. Ambos os tracks têm momentos de puro death/doom, com death growls profundos e cavernosos. No entanto a melodia está sempre presente e a atmosfera misteriosa e algo cinemática nunca desaparece, sendo provavelmente por isso que resulta tão bem com os Worm. Porém, o que realmente sobressai são as passagens calmas e os vocais limpos, numa abordagem de post rock que roça o progressivo. De certa forma, é como se os Pink Floyd se fundissem no meio do peso arrastado do death/doom, criando a sensação melancólica que costuma estar presente no post black metal.
Seria esperado que estas duas bandas, tão diferentes na sua essência, fizessem um álbum juntas? Definitivamente não. Se resulta? Sim, não devido à semelhança estilística mas sim ao ambiente e sensação que a música de ambas evoca. O contraste de sons e estéticas é enorme, com “If Not Now When” terminando com um raio de luz a sair do meio da tempestade, para logo ser tapado por uma relampejante nuvem negra com o início de “Ravenblood”. Impressionante também é a ilustração da capa deste álbum, sendo a primeira pintura do prestigiado ilustrador Mark Riddick em 20 anos, e a óbvia homenagem a Dimmu Borgir e Odium do logo que os Worm adotaram para esta nova etapa musical. Aliás, toda a estética dos Worm remete para a cena do black metal sinfónico da Escandinávia dos 90’s; desde capas de álbuns, merchandising e até fotografias a preto e branco da banda que não poupam na utilização dos clichês da mesma: picos, espadas, velas, mantos pretos, corpse paint e muito contraste.
Nota: 8.8/10
Review por Simão Madeira