22:30H os Black Hill Cove abriram a sala ADAO com a sua fusão de Metal com Hardcore. A sua atuação incidiu principalmente no seu álbum de 2021 ‘Broken’ ficando apenas de fora os temas “Standing Alone” e “In The Shadows”. Destaque para as músicas: “Become the Fire”, primeiro tema criado pela banda onde era notório o à-vontade do quarteto a tocar o tema, e concomitantemente a nostalgia de o fazer; “Another Step in The Sun” o tema mais atual do conjunto lançado já no presente ano, onde se nota uma evolução sonora e uma grande maturação na forma de compor. A sinergia da banda é invejável e evidente durante as 10 músicas tocadas.
A banda foi a melhor escolha possível para começar a noite de espetáculos, pois a sua energia contagiante disseminou-se rapidamente pela sala, veiculada pelo seu som que bebeu vitalidade no Thrash e Groove, com elementos de Metalcore e com muita (enfâse no muita) atitude Hardcore. É frenético como o Thrash e que pede circle pit, e depois é tempo de headbang com uns breakdowns que nos partem o pescoço e o groove mantém-se. Fomos invadidos por aquela bateria fenomenal que nos guiou durante os 45 minutos da prestação da banda, com umas alternâncias rítmicas desumanas que nos fazem querer mais. E claro umas intrusões melódicas que nos arrepiam dos pés à cabeça. É caso para dizer que partiram a loiça toda.
23:50H seria tempo para os Besta, ou seja, grindcore do mais puro. Ouve-se o habitual “Bem-vindos ao Ritual da Besta” da parte de Paulo Rui, e assim começa o concerto (ritual). E durante pouco menos de 40 minutos a banda tocou 22 músicas. Um ritual (concerto) dos Besta é de facto o melhor remédio para expulsar demónios, é sem dúvida o melhor exorcismo para curar maleitas. Do início ao fim as canções são tocadas de enfiada, com breves pausas para agradecimentos calorosos, com uma energia demiúrgica que simplesmente teima a não abrandar. Os riffs clássicos do grind e muitos, mas mesmo muitos blast beats. E claro, Paulo Rui que passou quase tanto tempo a cantar no palco, como fora deste, junto do público, a atiçar ainda mais o ambiente que estava bastante quente. Os presentes por sua vez entregaram-se ao feitiço dos moshes, que e só terminou quando o ritual estaria oficialmente completado - tal era a energia da sala.
É sempre uma honra escutar e saborear os temas clássicos como “A Cidade dos Malditos”, “A Coisa” e “Nas Garras do Mandarim”, e também a sempre bem recebida “Social Sterility” cover dos reis Napalm Death. Passagem marcada ainda pelo single deste ano “Olhar Serráfico” que pertence ao tão bem recebido álbum ‘Terra em Desapego’. Em suma uma atuação intensa e memorável, que aqueceu não só o Barreiro, mas toda a Margem Sul.
Ás 00:45H subiam ao palco os Thormenthor. 13 músicas constavam no seu setlist (a primeira seria apenas uma intro) e deram um concerto do caraças durante um pouco mais de uma hora. Com o seu Death Metal aliado cirurgicamente com Black Metal mostraram ao Barreiro como se faz à moda antiga, contudo, de uma forma tão atual. Nos temas tocados fizeram um périplo pela sua discografia desde a primeira demo ‘Corpus Dissectus’ de 1988 até ao single lançado antes da pandemia em 2019 “Large Hadron Collider”. Destacou-se a cover dos Kreator “Tormentor” que após uma breve explicação por Miguel Fonseca, soube-se o porquê do nome da banda, pois as bandas Slayer, Kreator e W.A.S.P lançaram uma música “Tormentor” nos seus álbuns de estreia, tendo um impacto na banda. Assim que se tocaram as primeiras notas do riff a sala transformou-se num mega tornado devido aos mosh pits incontroláveis.
A sua performance culminou com “Large Hadron Collider”, com um som mais atual da banda, passando por “Karma’s Retribution”, com uma sonoridade que se senta bem no Doom, e seguindo em direção a “Pulverising” que levou a que todos absorvessem a musicalidade contemplativamente, com os pés pregados ao som – sublime. Finalizaram a sua passagem pela sala da ADAO com a aquela que foi a primeira música criada pela banda “Cynical Hypocrisy” fechando assim um ciclo na sua atuação voltando às origens. Em todas as faixas os metaleiros ficaram de boca aberta com a perícia e técnica dos músicos, tocando os seus instrumentos de forma tão natural como respirar – assustador, contudo relaxante. A sua prestação foi acompanhada com muita atenção da parte da plateia, que se antes se tinham entregado de corpo e alma aos moshes, aqui quiseram beber o som, de forma bastante introspectiva, peregrinando com a banda.
Mestres da música pesada, o seu Death Metal tem filões de Black Metal o que lhe confere uma tonalidade atmosférica, e realça-se os tremolos vibrantes que iluminam toda a escuridão existente. Somos depois invadidos por efeitos psicadélicos que nos fazem viajar pela tecnicalidade magnifica dos 4 elementos. Temos ainda uns certos vislumbres de Doom e claro tem alma de Thrash Metal que lhe atribui uma “aura dançável”. No fundo é como se fizéssemos um batido musical com as bandas Death, Bathory, Kreator e Pink Floyd, e o resultado é música pesada, todavia, exótica, que nos faz sentir bem, e nos faz viajar tanto pela sonoridade rica da banda, como pela história da música. Uma banda carregada de história com 40 anos de existência, dos quais 30 foram com esta atual formação, o que demonstra uma incrível resiliência e quem sabe que possa servir de inspiração a outros projectos e bandas pelo nosso país.
Texto por Marco Santos Candeias
Fotografia por Hugo Andrade
Agradecimentos: ADAO Barreiro