Mas que estrondosa noite de música a que marcou o regresso dos Greta Van Fleet a Portugal. Quis o destino que a Starcatcher World Tour terminasse no nosso país e, talvez por isso, quem marcou presença na Praça de Touros do Campo Pequeno teve a possibilidade de assistir a um espetáculo de encher o olho. Olho, ouvidos e até a alma, pois houve de tudo aquilo que um concerto de rock necessita para deixar a assistência de alma cheia.
Foi Hannah Wicklund a primeira artista a subir ao palco nesta noite e se alguém pensou que a razão para a sua presença nesta tour se deve à sua relação com Sam Kiszka, desengane-se. Estivemos na presença de uma excecional cantora, grande guitarrista e também compositora. Junto com o trio que a acompanha, ofereceu a todos os que iam enchendo o recinto cerca de 25 minutos de um rock com muita qualidade. Deu para ouvir um tema que ainda não foi lançado e também um par de músicas do seu projeto Hannah Wicklund & The Stepping Stones. Delicioso.
Seguiram-se os Black Honey com o seu indie rock. A banda britânica que conta com Izzy Phillips nas vocais teve direito a uma atuação de 40 minutos, que percorreu os seus 3 álbuns e nos presenteou também com um tema novo, “Lemonade”, que irá figurar no próximo trabalho. A vocalista mostrou-se muito agradada por estar a atuar em Portugal, mais precisamente naquela “arena”, como ela lhe chamou. Continuando o que Hannah Wicklund tinha feito momentos antes, também os Black Honey deram um concerto muito seguro a que o público respondeu de forma muito positiva.
Esta era a noite dos Greta Van Fleet, desse lá por onde desse. A banda parecia apostada em dar um concerto digno de assinalar o final desta tour e conseguiu fazê-lo. Apontados por muitos de terem uma sonoridade muito semelhante à dos Led Zeppelin, há também quem prefira pensar que eles apenas continuaram onde os gigantes britânicos pararam. O espetáculo desta noite esteve muito bem montado de forma a ser muito mais que um simples concerto. Os jogos de luzes, a pirotecnia, a indumentária dos 4 músicos, tudo foi pensado ao pormenor para tornar esta noite ainda mais agradável para quem estava a assistir. O motivo para esta tour era o álbum Starcatcher e foi por aí precisamente que a banda começou. “The Falling Sky” mostrou desde logo os dotes vocais de Josh e eles são impressionantes, tal como dos restantes membros da banda de Michigan. Sam ia saltando entre o baixo e as teclas e Jake encantava com os seus solos de guitarra. “Meeting the Master” acalmou um pouco o andamento do concerto que até aí tinha estado em alta rotação, mas logo depois chegou um dos temas mais aguardados, “Highway Tune”, com aquele riff orelhudo que colou todo o recinto a saltar (ainda mais). Faltava falar de Danny Wagner. Ele proporcionou um solo de bateria que funcionou como que um separador no concerto dos Greta Van Fleet, pois foi após ele que a banda tocou um set acústico composto por “Unchained Melody” - sim, Josh cantou este exigente tema na perfeição -, “Waited All Your Life” e “Black Smoke Rising” que foi um dos momentos mais marcantes do espetáculo pois sem que fosse pedido, o público iluminou o recinto fazendo uso de isqueiros e das luzes dos telemóveis enquanto Josh ia distribuindo flores. Removido o equipamento acústico a banda tocou mais um set de 3 temas que se concluiu com “The Archer”, após o qual abandonou o palco. O espetáculo ia longo, mas ninguém parecia estar cansado e por isso o quarteto regressou para o tradicional encore. O último tema da noite foi “Farewell For Now”, apropriado para pôr fim a 2 horas e 30 minutos de música.
Seria difícil encontrar algo de negativo ou menos bom neste evento. Desde as bandas de abertura - muito boas, ambas - até tudo aquilo que foi o concerto dos Greta Van Fleet, um espetáculo, no verdadeiro sentido da palavra, que se prolongou por 150 minutos, algo capaz de fazer inveja até aos Dream Theater quando se encontravam nos seus tempos áureos.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Everything Is New