Estivemos à conversa com os Music In Low Frequencies para falarmos um pouco sobre o novo álbum, Catharsis, mas também sobre a banda, passado, presente e futuro.
M.I. - Gostava de vos dar os parabéns desde já pelo vosso novo álbum, Catharsis. Porque decorreram nove anos entre este e o anterior lançamento de originais?
São vários os fatores que levaram a esse longo período entre “Sowing The Seed” e “Catharsis”. Primeiro a forma de trabalharmos. Somos muito orgânicos, as coisas fluem normalmente e gostamos que assim seja. Depois, também passamos por um processo de introspeção de forma a fazermos melhor música e que se identifique mais connosco e com a mensagem que pretendemos passar. Esse processo levou o seu tempo e esse é talvez o especto mais importante e que se reflete naquilo que é “Catharsis”. Pelo meio houve também um processo de produção que se revelou um pouco longo, juntamente com tempos de pandemia e um ou outro problema mais pessoal que de alguma forma interrompeu o nosso processo criativo.
M.I. - Vejo que vocês se mantêm fiéis à vossa formação original, o que revela amizade entre todos os elementos. Isso é importante para o processo de composição, por exemplo?
Sim, a amizade e frontalidade entre nós é talvez um dos factores mais importantes para a longevidade do projecto e de ele ser exactamente aquilo a que nos propusemos (numa mítica noite do SWR - Barroselas Metalfest). Não tencionamos que seja de outra forma. Já estamos acostumados ao feitio e às diferenças entre cada um de nós. Temos por hábito compor tudo em conjunto. Tudo começa com uma base rítmica simples e que vamos elaborando e colocando elementos que possam enriquecer os temas. Em relação à parte lírica, a Mariana assume quase a 100% sozinha essa função. É ela que interpreta, por isso só faz sentido ser ela a escrever.
M.I. - Como surgiu esta parceria com a Raging Planet?
Bem, o processo para editora não foi fácil. Nós temos por defeito um problema de comunicação, não somos assumidamente bons nisso. Estamos a tentar melhorar. Assim, decidimos contactar o Filipe Marta (Avantegarde Management), mostramos-lhe o disco, dissemos-lhe o que queríamos fazer e ele prontamente se ofereceu a ajudar-nos. Houve alguns avanços e recuos, negociações que ficaram pelo caminho, mas desde o momento que a Raging Planet demonstrou interesse em nos colocar no seu catálogo, nem hesitamos. Era mesmo o que procurávamos. Trabalhar com pessoas sérias, que conhecem estes caminhos como muito poucos e com as quais temos já química e empatia, a Raging Planet é tudo isso. A proposta tornou-se irrecusável. Até agora revela-se a escolha correcta e só estamos mais ansiosos por saber o que esta parceria ainda terá para oferecer. Temos a certeza que só coisas boas. Mas estamos muito gratos à Avantgarde Management, sem eles de certeza que não tínhamos chegado à Raging Planet.
M.I. - Voltando a Catharsis, falem-nos um pouco dos convidados que nele participam e da sua reação ao convite.
Temos algumas participações no disco de amigos e pessoas que em algum momento se cruzaram connosco e que por um ou outro motivo nos marcaram. Logo começando pelo Paulo Rui (Redemptus, Besta) em “Steel”, é uma amizade e sinergia que já vem de alguns bons anos. Ainda não sabíamos se íamos efetivamente ter “Catharsis” e ele já estava a trabalhar connosco neste tema. O Paulo Rui é facilmente um dos maiores (se não o maior) monstro do underground em Portugal, é uma honra ter a voz dele no nosso disco. Depois temos também o Pedro Mendes (Ramp) que como produtor o “obrigamos” também a participar em um pequeno, mas muito importante registo vocal no tema “This Corpse”. Tal como o Paulo Rui, o Pedro Mendes é só o melhor produtor em Portugal. Não dizemos isto por ter produzido “Catharsis” mas sim porque conseguiu extrair da banda o melhor de nós e isso, assumidamente, não é tarefa fácil. Tivemos também o piano no final do tema “Starving The Weak” composto exclusivamente para o tema pela nossa amiga Amaya López (Maud The Moth, Healthyliving) proveniente do nosso país vizinho. Se forem ouvir os projectos dela, vão perceber perfeitamente o porquê de a termos convidado para também ela fazer parte de “Catharsis”. Ela inspira-nos e é uma influência. Por fim atravessamos o oceano até ao Brasil para gravar bateria para o tema “surpresa” que podem ouvir no final do disco. O Friggi (Chaos Synopsis) é um baterista de excelência que tivemos o prazer de conhecer quando fizemos a nossa mini tour europeia de promoção a “Sowing The Seed” em 2014. Fizemos em conjunto uma dezena de datas aproximadamente. Todos aceitaram facilmente o convite e esperamos que tal como nós estejam agradados com o resultado.
M.I. - "This Corpse" vai ser o single de avanço a este álbum. Foi uma escolha natural, fácil?
“This Corpse” é um dos temas que mais nos define e provavelmente um dos primeiros a ser composto nesta nova fase da banda. Estamos extremamente satisfeitos com o resultado do mesmo e só esperamos que a mensagem passe exatamente como a tentamos passar.
M.I. - Eu gosto particularmente do primeiro tema do álbum, "Web Of Questions". Poderá ser o segundo single, ou vocês preferem manter em segredo?
“Web Of Questions” podemos confessar que foi o primeiro tema que pensamos para single, mas a força de “This Corpse” e o que pensamos para o tema, acabou por se sobrepor. Já temos o segundo single pensado e até o vídeo já finalizado (não sabemos quando será lançado ainda) mas podemos afirmar que não é “Web Of Questions”. Mas vamos anotar essa dica.
M.I. - Este trabalho conta ainda com uma faixa escondida. Foi uma surpresa que quiseram fazer a todos aqueles que seguem o vosso trabalho?
Bem, esse tema surgiu naturalmente. Não foi pensado para sair no disco, mas acabou por acontecer. Era uma ideia que ia surgindo e se ia trabalhando. O tema é incrível e a letra muito forte… aos poucos e conforme se trabalhava a ideia, mais sentido fazia a música fazer parte do disco. Estamos contentes com o resultado, esperamos que as pessoas gostem e que se um dia chegar aos ouvidos do autor original, não se sinta desapontado.
M.I. - Como estão os Music In Low Frequencies em relação a concertos de apresentação de Catharsis?
Sinceramente ainda não temos grandes planos para concertos. Ainda não nos sentamos para falar e planear a apresentação do disco. Iremos fazer isso nos próximos dias juntamente com Avantegarde Management e com a Raging Planet. No entanto, se alguém estiver a ler esta entrevista e tiver interesse em ter Music In Low Frequencies nos seus eventos, podem contactar connosco diretamente nas redes sociais ou através da Avantegarde ou da Raging Planet. Neste momento temos apenas assegurada a presença no DOOMED FEST (Viseu)
M.I. - Acredito que não sejam necessários outros nove anos para termos um novo álbum de M.I.L.F. Estou certo?
Como falamos anteriormente, a banda trabalha de forma muito orgânica e natural. A vida é muito incerta e de nada vale criarmos pressão sobre nós mesmos. Vamos saborear “Catharsis” e queremos que as pessoas possam saborear também. No entanto as ideias têm vindo a fluir e julgo podermos dizer que estamos numa boa fase de criatividade e até já comentamos como gostaríamos que fosse um ou outro detalhe de um próximo disco… o tempo o dirá.
M.I. - Querem deixar uma palavra aos nossos leitores?
Esperamos que “Catharsis” ajude cada um de vocês, tal como nós, a expurgar os vossos medos e ansiedades. Que possam através da nossa música encontrar uma forma de tomarem o controle sobre vocês, sobre o vosso corpo e mente. Obrigado a todos pelo carinho que temos vindo a sentir nestes últimos tempos, esperamos conseguir retribuir. Não hesitem em entrar em contacto conosco, seja pelo assunto que for, gostamos de nos sentir ligados. Nós somos apenas mais um de vocês e o melhor que podemos ter é que vocês sejam também mais um de nós. Gostaríamos também de deixar uma mensagem de força ao Francisco Carvalho que fez a masterização do disco e está a atravessar uma fase mais delicada desta sua caminhada que é a vida, todas as nossas forças estão contigo. Um agradecimento especial também a todas as pessoas que de alguma forma participaram naquilo que é “Catharsis” e ainda não foram referidos nesta entrevista, Pedro “Grave” Alves, André Gonçalves, Vânia Santos, Irís.
Entrevista por António Rodrigues