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Reportagem: UV Almost Fest II @ Grupo Recreativo Mocidade Corveirense, Grijó - 25.11.2023


Grijó, uma das freguesias de Vila Nova de Gaia, foi palco de um dos melhores festivais deste ano, que apoiou o Metal Underground português. Esta já é a segunda edição: a primeira aconteceu em fevereiro passado, mais propriamente, no dia 11, com duas bandas: Blame Zeus e Wave Flow. O cartaz para esta edição contou com cinco bandas muito bem escolhidas, para tocarem num espaço diferente do evento de fevereiro. Christophe Correia e Bia Ramos, anfitriões do evento, asseguraram que nada faltasse, quer para os músicos, quer para os fãs. A organização ainda teve tempo para conceder uma breve entrevista à Metal Imperium, de modo a explicarem o conceito por detrás do festival, como este surgiu, como escolheram as bandas para o cartaz, etc...

As portas para o evento abriram às 17:30 e a primeira banda que subiu ao palco foi All Kingdoms Fall, grupo de Hardcore. Para começar o evento, ouviu-se uma música de fundo e que logo de seguida, a banda subiu ao palco para iniciar a sua atuação. José Soares, baterista, deu início à festa, com as suas batidas explosivas, seguido da voz de Márcio Pinto. As guitarras de Jorge Lopes e Filipe Vilela acompanharam a voz do cantor, mostrando uma grande química em palco. Super ativo, o cantor, caminhava entre o palco e o público. Os coros ficaram a cargo do baixista Marcos Silva e do guitarrista Filipe. A dinâmica fez com que os fãs se rendessem. O vocalista cumprimentou os presentes e perguntou se estava tudo bem, tendo sido recebido com palmas. Seguiu-se “Street Dogs”, onde o cantor veio novamente junto da audiência. Esta foi uma música que valeu a pena ouvir. No fim, o vocalista disse que, após ter “exorcizado os demónios” que havia dentro dele, estava pronto para as próximas músicas. “Grey Eyes”, foi uma das músicas em que o solo de guitarra se destacou. O músico pediu à audiência que se aproximasse mais, e aos poucos, tanto ele quanto o público começaram a fazer headbanging juntos. Acabaram em beleza com “Faust”, do EP de 2020: “Vanuatu’s Tumble”. O vocalista agradeceu o convite aos anfitriões por tornarem o festival possível, estendeu os seus agradecimentos a toda a equipa envolvida e a todos os presentes, destacando que sem eles, nada disso seria possível. Este pediu para os espectadores seguirem a banda nas redes sociais e revelou que revelou que haverá novidades muito brevemente. Esta foi uma boa maneira de começar o festival, com uma banda da própria cidade de Vila Nova de Gaia.

Oriundos de São João da Madeira, os Bong Kong autointitularam-se como pioneiros do Bongcore. Esta banda também é uma grande promessa a nível nacional. “Boo Boo Bee Boo” foi o aperitivo para apresentar a banda. Diogo Pardal, vocalista, sempre ativo em palco, puxou o público para fazer headbanging com ele. Alexandre Bastos, baterista, foi responsável por apresentar as músicas, com batidas de impor respeito. Os guitarristas Paulo Pinho e Zé Bahey, com a sua versatilidade, não deixaram ninguém indiferente, o que pôde ser evidenciado por exemplo em “Hot Dogtor”, faixa do álbum de 2019: “It’s Just A Phase”. Diogo possui uma voz camaleónica, capaz de demonstrar aos presentes a sua versatilidade, o que se tornou evidente durante a interpretação de 'F.G.S.F.D.S.', junto aos restantes membros da banda. A diversão seguiu-se com “Bloodinger”, uma música onde o vocalista mostrou como se faz um bom headbanging. Este foi um tema que deixou os espectadores ainda mais soltos.  O vocalista questionou se o público queria Rock e entregou exatamente isso: a banda encerrou este concerto grandioso com as faixas “What Is This” e “Black Temple”, deixando uma mensagem de LONG LIVE BONG KONG! No final, expressou gratidão a Christophe e Bia pelo convite e por apoiarem a cena underground nacional, às bandas por aceitarem participar da iniciativa e, é claro, aos fãs, pela presença e apoio durante o evento.

Após uma bela comezaina, seguiu-se a segunda parte do festival. Coube aos Terror Empire, que substituíram os Revolution Within, a abertura da segunda parte do espetáculo. Iniciaram a noite saudando o público e logo os primeiros acordes de “Holy Greed” ecoaram. O seu Thrash Metal corrosivo não deu tréguas, não deixando espaço para descanso. O seu thrash metal poderoso de veia mais contemporânea e elementos death metal fez com que o headbanging fosse obrigatório, tal como o moshpit. Rui Puga, no baixo, e Nuno Oliveira, na guitarra, cativaram o público não apenas com seus riffs, mas também com a energia contagiante em palco. Em seguida, veio “Hunt the Traitor”, onde se pôde sentir toda a essência desta banda. Ricardo Martins, sempre no meio do palco saudou o público, com batidas no peito e o símbolo que o Ronnie James Dio popularizou. O momento mais marcante deste concerto ocorreu durante a música “The Servant”, quando Ricardo direcionou o seu microfone para um fã, concedendo-lhe a oportunidade de cantar parte da música. O entusiasmo foi tanto que o fã, nada mais, nada menos que Rui Alves, dos Revolution Within, acabou por subir ao palco e cantar o restante da música com todos os membros da banda, recebendo aplausos de todos os presentes. No fim desta faixa, a banda agradeceu pelo facto de estar presente naquele evento e por ter tido essa oportunidade. O headbanging foi notório em “The Route Of The Damned”, um tema bastante veloz e agressivo. A última música foi a mais poderosa de todas, onde a banda deu o seu melhor. O tema escolhido para finalizar a atuação foi “Black”. A banda frisou que o underground continua vivo graças a eventos como o Underground’s Voice Almost Fest II. Expressaram gratidão ao amigo Hugo Louro de Almeida, reconhecendo seu papel significativo no cenário do metal underground nacional (ele foi proprietário de uma das casas de concertos mais importantes dedicadas à cultura no Porto, o extinto Metal Point), e, é claro, a todas as bandas presentes.

Os Godark, que dispensam apresentações, foram os seguintes. Se o concerto desta banda no passado mês de outubro, no festival The Skull Room Rockfest, deixou os fãs maravilhados, no UV Almost Fest II conquistou ainda mais público, que se rendeu ao seu espetáculo e à sua música. Os nossos Dark Tranquility e Amon Amarth, vindos diretamente de Penafiel, souberam captar a atenção de toda a gente presente, com o seu Death Metal melódico. Com uma música de introdução digna desta banda, os músicos entraram em palco. A música que abriu o concerto foi “Wings Of Hope”, onde se pôde constatar a excelência da técnica dos guitarristas Diogo Ferreira, Rui Fernandes e Carlos Ferreira. “Freedom” é uma das músicas mais conhecidas, destacando-se pela excelência da sua composição. No final desta faixa, Vítor Costa, o vocalista, saudou a organização e os fãs, perguntando se estavam a gostar do festival, sendo recebido com aplausos. Seguiu-se uma música com fortes parecenças com Dark Tanquility : “Miserable Noise “. Vítor pediu ao público para fazer headbanging na próxima faixa e o seu pedido foi atendido em “Disorder’s Edge”. Esta é uma música em que se pode constatar a forte união entre banda e fãs, o que é espetacular de presenciar. De notar a excelência do baterista Fábio Silva e do baixista Daniel Silva em “Everything Is Gone”. “No Future No Mercy” e “Outbreak” foram as últimas músicas escolhidas para acabarem o concerto em beleza. Vítor agradeceu, em nome de toda a banda, ao Christophe e à Bia, por terem tido a oportunidade de participar no festival, aos fãs que, sem eles isso não teria sido possível e pediu que continuassem a apoiar iniciativas como estas, que são muito importantes para o Underground português. Esta banda foi uma bela escolha para este festival. Enquanto os Godark não lançam novo material, podem ouvir o álbum “Forward We March, de 2020 e o EP de 2015: “Reborn From Chaos”, onde encontram as músicas tocadas neste festival.

Os Pitch Black foram os escolhidos para encerrar o festival, e encheram as medidas do público fã de thrash metal old school. O público mostrou-se muito mais ativo, furioso e dinâmico, principalmente junto do palco. Após a música de fundo, começámos a ouvir “Built For The Kill”. Sem dúvida, uma ótima forma de começar o concerto, onde se pôde constatar a agressividade e ritmos rápidos das guitarras de Álvaro Fernandes e de Marco Silva. Nuno Quaresma, o vocalista, fez um gesto com a mão como se estivesse a representar uma roda, incentivando os fãs a juntarem-se para iniciar um moshpit. E assim aconteceu: o moshpit mais frenético do evento. Nuno perguntou se todos estavam bem e se estavam a gostar. Após a pergunta e a excelente receção, apresentou uma música de 2009, “Enemy Siege”, e não demorou muito para que se formasse um novo moshpit. O vocalista até fez parte dele por breves momentos. É sempre gratificante ver quando um cantor interage com os seus fãs. Em “Devine Not Human” coube à audiência cantar o coro desta faixa. Brutalidade pura, do princípio ao fim! Após esse tema, o vocalista agradeceu aos presentes por estarem ali, às bandas com quem partilharam o palco, que apesar pertencerem a outros subgéneros, uniram-se  não só em prol do underground, mas também em prol da amizade, união e respeito mútuo... E, o mais importante, os fãs, pois sem eles nada disto seria possível. Palmas calorosas foram ouvidas em sinal de aprovação pelas palavras do músico. “Lost In Words e “Standards Of Perfection” foram as seguintes músicas. Nuno perguntou uma vez mais se o público estava a gostar do espetáculo, pois isso era o mais importante. E se era Metal que queriam, seria Metal que teriam. As hostilidades continuaram e terminaram com “Unleash The Hate”, “Pitch Black”, “Third World Puppeteeres”, “And The Killing Ends” e “Disturbing The Peace”.

A organização ainda teve tempo para conceder uma breve entrevista à Metal Imperium, de modo a explicarem o conceito por detrás do festival, como este surgiu, como escolheram as bandas para o cartaz, etc...

Christophe Correia e Bia Ramos, os organizadores do festival, super disponíveis, ainda arranjaram tempo na sua agenda, para darem a conhecer um pouco sobre este festival: como começou, como aconteceu a escolha do espaço e das bandas. Vamos conhecer um pouco da sua história.

A Underground’s Voice é uma webzine criada por Christophe Correia, que surgiu em 2011, com o intuito de apoiar o metal underground, com a realização de entrevistas. Doze anos depois, este projeto evoluiu e Christophe decidiu estender e reforçar este apoio através da organização de eventos. Também tiveram experiência de entrevistar bandas de renome internacional, mas o objetivo primordial é dar espaço e notoriedade a bandas mais underground e portuguesas, sobretudo dar voz ao nosso underground nacional, com maior foco no metal do Norte do país. Esse foi o objetivo do UV II, por ser numa zona mais remota e não numa metrópole central, como a cidade do Porto. Um bocado mais à margem de Gaia, numa freguesia mais remota. 

A segunda edição do festival começou a ser idealizada em fevereiro, logo após o término da primeira edição. Três a quatro meses, foi esse o tempo que precisaram para conseguirem organizar tudo. Foi uma coisa que levou o seu tempo. São pessoas que gostam de música e que estão a tentar organizar alguma coisa. A aprender, a ganhar experiência. São só os dois, basicamente. Há muita coisa a aprender, muita coisa a evoluir e melhorar. Como resultado do seu bom trabalho, conseguiram 5 excelentes bandas num espaço bastante interessante. Foi um trabalho compensador e que deu frutos.

Desde a primeira edição, que Christophe tinha uma ideia: ser em Gaia, porque não acontece nada em Gaia, basicamente, e no Porto seria apenas mais um concerto. Seria apenas mais uma noite de concertos. Em Gaia não é bem assim, porque apesar de ser uma idade na qual há tudo: há turismo, praia, rio, mar shopping, cultura, igrejas… há tudo, depois não há um espaço onde se possa haver eventos de música mais alternativa. Essa foi a principal dificuldade de arranjar espaço. Fazer um festival em Gaia, foi um desafio maior do que fazer um festival no Porto, apesar da proximidade. A mentalidade é diferente, arranjar o sítio, é diferente. Tudo é diferente! Mas quando resulta, também sabe melhor.

O Grupo Recreativo é uma coletividade de Grijó, que existe há mais de 70 anos. A Bia faz parte deste Grupo desde miúda (fez teatro amador, pois é com o teatro que é conhecido). Em conversa sobre arranjarmos o espaço para o evento, porque não este local? Têm um grande palco, sala, bar, boa comida, cerveja (risos). Nunca se fez nada do género naquele sítio, nem em Grijó. No espaço faz-se teatro, concertos de fado e música popular. A direção recebeu a proposta de braços abertos. Foi uma aventura para eles também e deram-lhes uma oportunidade (fizeram valer a pena, sem dúvida!) e quiçá, farão mais edições lá.

O cartaz que pensaram inicialmente era um bocado diferente. Tinham 3, 4 bandas alinhavadas inicialmente. Tiveram um ou outro imprevisto e tiveram que mudar a ideia do lineup. A ideia inicial era ter 3 bandas, mas não foi possível, por isso passou depois para 5 bandas, com 2 headliners. Como é que escolheram as bandas? Primeiro que tudo porque são bandas que gostam. Exceptuando os Terror Empire, são bandas que são mais ou menos da zona norte. Não existiram grandes deslocações para eles e chamaram à terra quem é da terra. Houve uma mistura interessante de bandas: com mais de 30 anos, como são os Pitch Black; bandas recentes, como os Bong Kong... Tiveram a velha guarda misturada com o sangue novo. A ideia foi terem variedade, vários subgéneros e várias bandas. Não era este o cartaz que estava previsto inicialmente, mas a organização ficou satisfeita com o resultado.

São, sem dúvida, os pioneiros do principal festival de metal underground criado na cidade de Gaia e que tem apoiado a cultura e a música. O apoio e amizade entre a velha guarda e a nova geração sentiu-se neste evento. O espaço para este espetáculo foi muito bem escolhido para a ocasião e esteve à altura do acontecimento. Tudo correu bem e nada faltou para os fãs, bandas, pessoas que ajudaram com o palco e afins. É caso para dizer: que venha a terceira edição deste festival!

Texto por Raquel Miranda
Agradecimentos: Organização UV Almost Fest