Um cartaz muito diversificado o desta noite, que trouxe muito público à sala lisboeta. A juntar aos Murro, projeto que conta com mais de dez anos, estavam os Wells Valley, - que até têm um álbum lançado recentemente - e também os Process Of Guilt, que eram a atração principal para este evento.
Os Murro começaram a sua atuação pontualmente às 21h30 e em bom português. O vocalista Hugo surgiu em tronco nu, segurando folhas onde constavam as letras dos temas que tinha para cantar e, fazendo uso de uma voz agressiva, como que as declamava. Muita critica social em cima de um instrumental que se torna difícil de rotular, tal a diferença de estilos que compõe a música deste trio, mas onde se consegue identificar punk e mesmo hardcore, tudo feito apenas com uma guitarra e uma bateria. Com exceção de “Pá Modi Bó”, o álbum Misantropo de 2021 foi praticamente ignorado, havendo lugar a músicas que se podem considerar de intervenção, bastando para isso atentar nos seus nomes: “Tanques” e “Bastonada”, foram apenas algumas delas. “Força de Cavalo” foi a última, ficando o conselho de que para a frente é que é o caminho.
Seguiu-se o doom dos Wells Valley. Com pouco mais de um mês, o álbum Achamoth poderia até ter sido o mote principal para o concerto da banda lisboeta, mas a opção foi passar “ao de leve” por ele, incluindo na sua setlist apenas dois dos seis temas que interpretaram nesta noite. Muitas luzes vermelhas no palco e também muito fumo, criaram o ambiente ideal para o espetáculo da banda lisboeta que agarrou o público logo à primeira música, “Pleroma”. Os dois temas novos, “Princeps” e “Vessel Possessor” encaixaram perfeitamente no alinhamento, pois estão inseridos na sonoridade a que a banda já nos habituou. Encerraram brilhantemente o seu espetáculo com o tema “Forty Days”.
Já com mais de um ano, Slaves Beneath the Sun, o mais recente trabalho dos Process Of Guilt ainda tem muito para dar. Trata-se de um álbum muito bom e aquando do seu concerto de apresentação dissemos logo aqui que muitos daqueles temas iriam ser obrigatórios em futuros concertos dados pela banda de Évora, o que se veio a confirmar. O mote para esta série de concertos que se preparam para dar assenta, é não apenas em continuar a divulgar o mais recente trabalho, mas também em comemorar os vinte anos de existência enquanto banda. Era, pois, expetável que os Process Of Guilt passassem em revista os anteriores trabalhos, no entanto, apenas houve espaço para “Faemin” e “Hoax”, pois todo o restante alinhamento assentou em Slaves Beneath the Sun. Poucas luzes no palco, tal como eles gostam, sem que também houvesse uma única palavra para o público, como é habitual. O quarteto está ali para nos dar a sua música e de forma sucinta foi isso mesmo que fez, ao longo de sessenta minutos. Uma hora de doom/sludge onde imperou o negro, quer seja nas vestes, na luz em palco ou mesmo na sonoridade do quarteto de Évora, para contentamento de um R.C.A. muito bem composto.
Mais uma muito boa noite de música apenas com conjuntos portugueses, com qualidade suficiente para fazer muita gente sair de casa, nesta noite de sexta-feira.
Texto por António Rodrigues
Agradecimentos: Notredame Productions