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Entrevista aos OAK



Dos confins da terra ecoa um bradar indefinido e pesado, anunciando o nascimento de uma entidade que emerge do solo. Essa entidade tem o nome de OAK. Depois de Lone (2019), o duo português volta a presentear os fãs de death doom com mais uma viagem atmosférica, num novo álbum intitulado Disintegrate, lançado pela Season of Mist. Ao longo de 45 minutos de vocais extremos e de um peso sónico inigualável, Disintegrate tornou-se rapidamente numa das viagens mais arrebatadoras de 2023, guiando o ouvinte por um labirinto fúnebre e desesperante.

M.I. - Sabemos que os OAK atribuem um valor profundo à criação de uma história que envolve o ouvinte, que paisagens quiseram evocar neste álbum?

Imagina um colosso ajoelhado numa escarpa, derretendo lentamente debaixo do sol e, envolto nos vapores do seu sangue, vê a sua alma separar-se do seu corpo e elevar-se no céu, revendo cada momento da sua vida em breves momentos.


M.I. - Quais foram as principais mudanças na identidade criativa dos OAK nestes quatro anos desde o Lone até ao Disintegrate?

Artisticamente assentamos nas mesmas bases, mas mudamos a abordagem visual, tornando-a um pouco abstrata, como se pode ver na capa. Desta vez, o álbum foi composto por apenas uma faixa, algo que já tínhamos equacionado para o primeiro lançamento, mas que nessa altura optamos por descartar.


M.I. - A tracklist do Disintegrate em vinil é composta por duas faixas: Disintegrate I (Lado A) e Disintegrate II (Lado B), porquê a decisão de o lançar como uma faixa única em formato digital?

A ideia sempre foi lançar o disco como uma faixa única, porque queremos proporcionar a experiência de uma viagem, sem interrupções, no imaginário descrito na letra. Como no vinil existe limite de tempo em cada lado do disco, fizemos a separação em duas faixas cortando pelo sítio onde achamos que fazia mais sentido. Também fizemos dois excertos do álbum para produzir vídeos para a promoção do disco.


M.I. - Tive o prazer de vos ver abrir para Gaerea no Side B em 2020 e foi aí que tive o meu primeiro contacto com OAK, quais são os maiores desafios em replicar a atmosfera criada em estúdio quando tocam ao vivo?

Quando damos concertos, mais do que tentar reproduzir a 100% a atmosfera desenvolvida em estúdio, o nosso objetivo é envolver o público o mais possível. Muitas vezes alteramos certas partes, encurtamos ou alongamos consoante o que estivermos a sentir e muitas destas coisas acontecem mesmo durante a própria performance, tal é a nossa química a tocar juntos.


M.I. - Como funciona o vosso processo de composição enquanto duo? O processo de criação do álbum começa pela composição do instrumental, pela idealização da conceito ou ambos ocorrem simultaneamente?

Sempre gostamos de nos juntar e fazer jam sessions bastante prolongadas e até foi de uma destas jam sessions que fizemos quando ainda estávamos ambos em Gaerea, que surgiu a ideia de criar esta banda. Por norma é dessas sessões que saem as ideias principais para a composição das músicas. As letras por vezes são desenvolvidas antes e servem como inspiração para os ambientes que depois vamos criar. A partir daí, cada um vai estudando as suas ideias e vamos experimentando até ter uma base sólida, sendo que por norma só fechamos tudo já mesmo em estúdio.


M.I. - OAK toma a liberdade de trazer sons variados, sejam growls, sussurros, riffs limpos ou com distorção, blast beats, tudo parece fazer sentido quando se funde no vosso instrumental, como conseguem manter a identidade de OAK tão inconfundível?

Nós partilhamos uma base sólida de influências que acabam por ser o pilar da sonoridade que temos em OAK, que deambula entre o funeral doom, o death metal, o black metal mais atmosférico e ainda outros géneros que até se afastam do espectro do metal. Pela diversidade inerente a estas influências acabamos por ter momentos em que recorremos a variadas técnicas destes diferentes universos, mas sempre mantendo o foco na atmosfera que pretendemos criar, de uma forma quase minimalista.


M.I. - A narrativa lírica do álbum é também digna de nota: o ouvinte acompanha a jornada de um gigante condenado a carregar todo o peso do mundo ao longo do seu caminho, para no final se desintegrar pelo sol. A capa vem acompanhar o tema com a sua representação da “passagem para o mundo imaterial”. O que vos fez enveredar por esse tema?

A narrativa deste álbum segue a história iniciada no “Lone”, que é sobre a caminhada de um gigante e foca-se sobretudo no sufoco e peso que ele carrega nas suas costas. No álbum “Disintegrate” o foco é a libertação e elevação do ser a um estado superior, acabando este álbum por ter um pouco mais de luz e transmitindo mais a sensação de alívio em certos momentos no meio de toda a tensão.


M.I. - Formados pelo atual vocalista e antigo baterista de Gaerea, OAK emergiu pela vossa vontade individual de criar um som mais atmosférico e arrastado. Surge por vezes a dúvida em distinguir que riffs trazer para cada um dos projetos? 

Sempre soubemos bem o que queríamos para os projetos e, por isso mesmo, quando num ensaio durante a composição do álbum “Unsettling Whispers” de Gaerea, surgiram essas ideias mais atmosféricas e arrastadas, tomamos logo a decisão de as colocar de parte para posteriormente as explorarmos num projeto à parte. 


M.I. - Podemos contar com a presença de OAK ao vivo num futuro próximo? 

Não temos nada idealizado nesse sentido.


M.I. - Muito obrigada pelo vosso tempo, gostariam de deixar uma última mensagem para os leitores da Metal Imperium?

A história não acaba aqui, mantenham-se atentos.

Ouvir OAK, no Bandcamp

Entrevista por Beatriz Cadete