Tal como há bons filmes e outros não tão bons num determinado franchise, também na discografia de uma banda há trabalhos mais apreciados, outros menos e até alguns que na altura em que foram editados, foram praticamente remetidos ao esquecimento e que só mais tarde é que são apreciados pelos fãs. Mas tudo isso faz parte do que nos motiva a ouvir um determinado disco de uma banda da qual gostamos. Há sempre um misto de saudosismo, mesclado com a esperança de voltar a ouvir um clássico do nível de Tooth And Nail (álbum que tem um tema chamado When Heaven Comes Down) ou Back for the Attack (que contém o supracitado Dreams Warriors no seu alinhamento).
Por variadíssimas razões é óbvio que isso não vai acontecer, entre elas o facto que da formação clássica que era constituída por “Wild” Mick Down na Bateria, Jeff Pilson no Baixo e George Lynch nas guitarras, só resta mesmo Don Dokken nas vozes. É universalmente aceite que as melhores criações destes senhores surgiram fruto da tensão entre Don e George Lynch nos anos 80. Entretanto tem havido reuniões esporádicas e tentativas goradas para gravar álbuns com essa formação, tal como o trabalho homónimo Tooth and Nail de 2012, que era para ser um disco de Dokken, mas há ultima da hora Don desistiu de participar no mesmo, ou o trabalho homónimo dos The End Machine de 2019, no qual temos Robert Mason a preencher a vaga de vocalista. A última reunião significativa deste quarteto aconteceu em 2016, quando gravaram um concerto no Japão, onde os artistas ainda são bem pagos para tocar, a banda ainda é muito popular e o público em geral, encara a música com uma seriedade e paixão, que infelizmente não são sentidos noutras partes do mundo.
Neste álbum Don é acompanhado pelo guitarrista de longa data Jon Levin (Ex-Doro, Ex-Warlock), por Chris McCarvill (Ex-House of Lords) no baixo e B.J. Tampa na bateria (Ex-House of Lords, Ex-Yngwie Malsteen (ao vivo).
A primeira coisa que é bem patente é a manifesta perda de capacidade da voz de Don Dokken que atualmente deambula por tons bastante abaixo do seu registo clássico, mas fora talvez Glenn Hughes, não me lembro de um vocalista proeminente nos anos 80, que ainda tenha a mesma potência na voz. O músico tem sofrido de vários problemas de saúde, sendo que no mais recente episódio de doença, perdeu quase toda a sua mobilidade no braço direito, e Don já disse em entrevistas que não vai voltar a poder tocar guitarra. Essa falta de robustez na voz é menos patente num ambiente de estúdio, mas ao vivo torna-se algo triste de ouvir nos temas clássicos, que são cantados com extrema dificuldade, mas como diz o próprio, “se não quiserem não venham aos concertos”. Ainda assim é melhor ouvir este senhor que tentar perceber o que Dave Mustaine está a tentar fazer nas atuações ao vivo. O guitarrista Jon Levin figura-se como um excelente substituto para George Lynch, apresentando ao longo do disco fabulosos solos, de uma fluidez e clarividência técnica muito acima da média. Pode ser uma cópia do original, mas mesmo assim é muito mais personalizado do que Al Pitrelli, quando esteve nos Megadeth. A secção rítmica é competente, mas não faz esquecer o trabalho de bateria de Mick Brown e também da sua voz nos coros e melodias, pois este senhor era uma espécie de Michael Anthony dos Dokken. Além disso para um trabalho que é misturado por Kevin Shirley, o som da bateria deixa um bocadinho a desejar, pois está demasiado escondido, e não tem a nitidez ou o dinamismo das guitarras ou do baixo.
Mesmo não sendo um dos seus melhores trabalhos, é indubitavelmente melhor do que o anterior trabalho de estúdio Broken Bones de 2012 e há aqui muito para descobrir e apreciar para quem gosta de Rockin’ with Dokken.
Nota: 7/10
Review por Nuno Babo