Os Sullen são um coletivo portuense e banda que navega no ambiente da música progressiva instrumental. Composto por André Ribeiro na guitarra, Kevin Mota no baixo, Marcelo Rúben Aires na bateria, Pedro Favas na guitarra e Ricardo Pinto no teclado, trouxaram-nos, neste passado dia 28 de outubro, a Carcavelos, no CriArte, o seu novo espetáculo “Caronte”.
A primeira parte esteve a cargo de Dullmea, nome artístico e projeto de música a solo de Sofia Fernandes que predominantemente faz uso da sua voz e de um equipamento eletrónico instalado na sua frente. Assim iniciou o concerto, sentada no chão, num palco enorme, vestida de cor escura e auscultadores nos ouvidos. Estavam 4 enormes focos de luz apontados para a artista, com um ambiente bem escuro e silencioso em volta dela, restando-nos somente focar a nossa atenção na sua performance.
Foi um mergulhar numa experiência única, que, aliada à sua sonoridade simples, mas intrínseca e muito experimental, nos levou a outros “lugares”. Com vocalizações intensas, sons eletrónicos, e ainda os seus gestos e expressões, que mantêm o nosso interesse. No final da sua atuação apresentou-se e ao seu projeto e deu os seus agradecimentos tanto à organização como aos presentes.
Graças à cortesia e gentileza da artista em me receber no intervalo, ainda pude apurar que a mesma define a sua sonoridade como a de um género que mescla a eletrónica, o ambiente e música neoclássica. Os seus concertos têm geralmente uma preparação prévia, em estrutura e sequência de temas, mas que mesmo assim dão espaço para a improvisação. Trouxe consigo nesta noite temas do seu último álbum “Ephemeroptera”.
Chegara então a premissa da noite. As luzes apagaram-se e os Sullen foram entrando e ocupando as suas respetivas posições. Sem uma palavra começaram a tocar o seu primeiro tema da noite, "Moognoise", tema este que foi lançado recentemente. O espetáculo “Caronte” faz uma abordagem ao mito do barqueiro de Hades, que leva as almas penadas até à porta do submundo ou inferno, através de um rio. Está também orientado de forma a obter o máximo de ganho numa experiência que se quer, tanto visual, como sonora, e que faça o público se sentir parte da atuação.
E isso foi plenamente alcançado nessa noite. Uma imersão em sons e luzes, que nos faziam passar por várias emoções, e sem que uma palavra fosse proferida ou cantada. Foram os instrumentos que cantaram e falaram para nós nessa noite. As luzes dançavam e iluminavam tanto a banda como o público, associando cada cor a uma emoção ou momento. Estávamos na terra de ninguém ou talvez quem sabe, dentro do barco de Caronte, quando de repente o tema seguinte nos fazia sentir isso.
Muito movimento no teclado, por parte de Ricardo Pinto, as emoções nas expressões faciais e corporais de Pedro Favas, a destreza na guitarra de André Ribeiro, a serenidade de Kevin Mota no baixo e a entrega de Marcelo Rúben Aires na bateria. O concerto assim que arrancou não mais parou e cada tema foi tocado em sequência, sem espaços mortos e de forma que não se perdesse o andamento. Tudo ali está programado ao minuto. Tivemos muitos solos de guitarra, das teclas, um solo de baixo, solo este que foi anunciado por Ricardo, sendo essa a única vez que pararam por um momento o concerto.
Tocaram temas dos álbuns “Post Human” e “Nodus Tollens ACT II Ascension” e ainda “Observer”, “Contact” e “Pentagruel”, que a par de “Moognoise” são temas novos e ainda não lançados. No final da noite, a banda apresentou-se juntamente com o projeto, e deram a informação que a esquemática das luzes é da autoria de Fernando Maia e que o técnico de som responsável era Rui Barreiros, que, apesar de não serem membros da banda fazem também parte da arquitetura de todo o espetáculo.
Foi uma noite muito bem passada. Tanto com Dullmea, como com Sullen, deu para vivenciar e experienciar a música de uma forma que não pode ser descrita com facilidade, mas sim sentida e vivida ao vivo.
Texto e fotografias por Sabena Costa
Agradecimentos: Sullen e CriArte