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Reportagem: The Messthetics e The Rite of Trio @ Tokyo, Lisboa – 21.10.2023


Os nomes de Joe Lally e Brendan Canty poderão não dizer nada a muitos de vocês, mas aos apreciadores dos míticos Fugazi diz certamente muito. Eles foram, nada mais, nada menos, do que a secção rítmica do famoso grupo musical de Washington. Foi com a sua nova banda, The Messthetics - a quem se junta o guitarrista Anthony Pirog -, que os pudemos ver ao vivo em Portugal, numa data única no nosso país. Para abrir a noite estiveram os The Rite of Trio.

A organização prometia um verdadeiro ataque sonoro por parte dos The Rite of Trio para esta noite e não se enganou. A música desta banda não é certamente para todos os ouvidos e a forma como exploram os seus instrumentos tem o seu quê de original. Um contrabaixo, uma bateria e uma guitarra elétrica são os instrumentos usados, mas são apenas o ponto de partida para uma viagem cheia de surpresas. Começamos pela indumentaria, essa não é habitual em músicos que tocam jazz. Depois, tivemos temas alimentados pelo clique de um relógio, sons retirados dos pratos da bateria através de um arco de violino e um discurso feito em inglês por parte do guitarrista. Não sei se tocaram muitas músicas, ou se tudo não passou apenas de um tema imenso. O estilo musical intitula-se jazz jambacore (segundo a banda) e parece ser uma mistura de tudo, mesmo tudo. Surpreenderam muitos dos presentes e foram fortemente aplaudidos no final da atuação.

É um espaço muito acolhedor, o desta sala do Tokyo. Palco sem separação com o público, bom som, o ideal para a estreia dos Messthetics. Muitos fãs dos Fugazi entre quem assistia, mas esta era uma noite para apresentar a música deste recente trio. Música instrumental, diga-se desde já. As poucas vozes que ouvimos foram as de Joe Lally e Brendan Canty (principalmente deste último), que fizeram questão de agradecer a presença de todos nesta sua passagem pelo nosso país. Os destaques desta noite foram mesmo o álbum de estreia homónimo de 2018 e Anthropocosmic Nest, de 2019. Quem veio à procura de algo mais enganou-se, mas não foi para casa defraudado. É que a música dos Messthetics é realmente fabulosa. Experimental - não passou despercebido o sino na bateria de Canty -, com a guitarra de Pirog a levar-nos para outra dimensão, sempre suportada por uma secção rítmica de respeito. Dava gosto olhar para cada um dos três músicos, como se cada um estivesse a oferecer o seu próprio espetáculo. Essa soma das três partes resulta em algo magnifico. “The Inner Ocean”, com o seu início mais calmo, transformou-se numa viagem onde os ritmos se alternavam de forma incrível e foi uma das mais aplaudidas da noite. De salientar que este foi um concerto verdadeiramente intimista, onde por diversas vezes se estabelecia diálogo entre os músicos e a assistência. Também não houve encore, houve algo parecido a isso, com Canty a dizer mais ou menos isto: “esta era para ser a última, mas vamos tocar mais uma ou duas”, não saindo ninguém do palco. Foi, contudo, mais de uma hora de música, muito bem passada, na companhia de três simpáticos e igualmente excelentes músicos.


Texto por António Rodrigues
Fotografias por João Paulo Neves
Agradecimentos: Infected Records