About Me

Reportagem: Alpha Warhead, Dercetius e Klatter @ RCA Club, Lisboa – 20.10.2023


Um pouco antes das 21:00h e já se viam à distância o aglomerado de vestes negras em torno do RCA – vaticinando auspiciosamente que seria uma enorme noite de Metal.

22:00h e começavam os Klatter. A banda é muito jovem, mas teve uma atitude em palco que não se vê em bandas experientes. Entraram com tudo! São 6 artistas vindos de Santarém com um som complexo (ouviu-se a velocidade do Thrash e agressividade do Death, mas também melodia do Heavy mais clássico, e claro uma chapada brutal com os breakdowns retirados do Metalcore moderno ou do Deathcore), apesar de serem catalogados na prateleira do Metal Alternativo. Destaca-se o facto de terem 3 guitarras, Guilherme Madeira, Rui Brito e Rafael Lima, que preencheram muito bem o som, sem qualquer sobreposição extemporânea, relembrando os Iron Maiden nesse aspeto. E a presença em palco, retirada dos anos áureos do Hardcore, por parte do vocalista Tiago Mendes, e a execução muito cuidada do binómio rítmico baixo-bateria, pela palheta de Tomás Morgado e baquetas de João Madeira. Deixaram 2 temas novos “Utopia” e “Uncertainty”. E talvez o melhor tema da noite “Dead Weight”, onde ficou bem patente a sonoridade complexa e bem trabalhada da banda, começou numa balada que rapidamente se adensou para algo mais Black/Death, passando para algo mais do Heavy Clássico ou Melódico. Muita atitude em palco, bastante convidativos para a festa e interagiram imenso com a sala de Alvalade, que por sua vez respondeu com muitos circle pits.

Pelas 23:17h era momento dos Dercetius. Tocaram 8 dos temas do seu álbum de estreia ‘Withered’, ficando de fora apenas “Memories to Ashes” e “Call of Despair”. Destaque para o novo tema “Oizys”, nome da Deusa do Panteão Grego para a angústia, depressão e dor. A música mostra amadurecimento da banda, um rigor bem lapidado na sua composição e na execução em termos de técnica. O som relembra Children of Bodom e em palco viu-se uma tremenda sinergia entre a dupla de guitarras da Mariana Luís e do Ricardo Pato, um tapping maravilhoso no baixo do Rodrigo Silva e claro os blast beats do Ricardo Tito que nos partem a coluna da Sacro à Atlas, todavia que casa na perfeição com o sublime som produzido pelos restantes membros. A banda trouxe um Death Metal Melódico que é talvez o melhor a ser feito no país, que mostra uma evolução na composição e na refinação do som. A presença em palco do quarteto é formidável e mostram uma atitude que parece que já fazem isto há muito tempo, e que existe um sentimento de companheirismo muito forte entre todos, refletindo-se na forma descontraída que demonstraram ao tocar para o público. A forma como combinaram as 3 vozes (Mariana, Ricardo e Rodrigo) ao longo das canções demonstrou confiança e conhecimento nas suas habilidades artísticas, o gutural do Ricardo com os clean vocals da Mariana e do Rodrigo. E claro ver o Ricardo Pato a tocar e cantar como um Alexi Laiho ou um Peter Tägtgren mostra que existe muito talento musical no nosso país. A música “The Curse and The Cure” é um tema que vale sempre a pena, onde foi possível testemunhar o que cada um consegue fazer individualmente com o seu instrumento, mas acima de tudo o que resulta como um conjunto, sendo a prova viva que estes 4 músicos são a encarnação do Deus Lusitano da Montanha. A audiência não escondeu a sua emoção e brindou diversas vezes a banda, com uns fortíssimos e célebres “Oi!Oi!”.

00:13h e com os Alpha Warhead sabia-se que seria tempo de Thrash Metal à moda antiga, e foi isso mesmo. Com um som que nos remeteu diretamente para a época de ‘Killing is my Business… And Business is Good!’ dos Megadeth. A decoração do palco antevia em parte as temáticas das suas canções, em torno de temas ligados ao militarismo e guerra. Dois bonecos mascarados com biohazard suits, pirilambros vermelhos e um botão para ativar a sequência de lançamento das ogivas nucleares (ou neste caso a campainha) – estamos na War Room e são os Alpha Warhead que comandam aqui. E é com a instrumental “Detonation Sequence” que estes entram em palco, o baixista Pedro Silva clica no botão que faz soar uma campainha e arrancam para o single de 2020 “Code Red”. A energia da banda é contagiante, e assim que o riff se condensa abre imediatamente um tenebroso circle pit, onde as dezenas que assistem sabem a letra e não o escodem. São músicos tecnicamente formidáveis e com uma poderosa sinergia entre si, onde foi possível atestar em temas como “Fuel to the Fire” (o outro single da banda) e “Backfire”. A sua energia e atitude em palco (e fora deste) foi verificada no tema “Paranoia”, onde o Pedro Silva e o guitarrista Diogo Garcia saltaram para junto do público para penetrarem o circle pit e alojaram-se no seu centro enquanto continuaram a tocar fantasticamente, o furacão de metaleiros não abrandou girando em torno dos músicos.

Destaque para a nova música “Apollyon”, com uma intro sombria que rapidamente se transmutou naquilo que a banda faz melhor: Puro Thrash Metal! E o momento alto foi sem sombra de dúvida a cover dos Slayer, "Angel of Death", que foi cantada em uníssono por todo o RCA. Antes de terminar, e fora do setlist, deram ainda um encore com mais uma cover, desta vez dos Sepultura “Troops of Doom”, cantado por um amigo que se encontrava entre o público. Foram solos de baixo, foram guitarras tecnicamente perfeitas, uma presença de palco do vocalista Diogo Pereira e uma bateria que não se ouvia assim tão viva há tanto tempo pelas baquetas do Pedro Peralta. Cerca de 50 minutos recheados de muito Thrash Metal Clássico, onde a plateia vibrou em moshes intermináveis, brevemente pausados para se tocar na campainha do palco.

Foi mais um incrível concerto de metal, onde ficou atestado o enorme talento que prolifera no nosso país. Existe toda uma nova geração de bandas da música pesada que querem mostrar a sua música, e do que se viu até agora só nos resta pedir por mais sessões como esta. Ficou ainda provado que a idade não é um fator determinante de sucesso, pois estas bandas são jovens seja na sua existência como conjunto, seja na idade individual, porém quem os tivesse visto em palco diria que andam nestas andanças há tantos anos como os que têm no seu cartão de cidadão. A profecia foi concretizada, se há metaleiros à porta é porque a música vale a pena!

(ver mais fotografias do evento aqui)

Texto por Marco Santos Candeias
Fotografias por Sabena Costa

Agradecimentos: Xapada Fest