Com Ian Gillings na guitarra, voz, sintetizadores e eletrónica, Richard Page na guitarra, Paul Lloyd no baixo e a lenda australiana na bateria, Dan Presland, eu arriscaria a dizer que estamos perante a obra-prima de Rannoch. Sendo os responsáveis pela produção e mixagem, Ian Gillings e James Stephenson, respetivamente, ficam claras as suas preferências por um toque nítido e prático. O álbum está preenchido o suficiente como está, e o seu trabalho mostra a tecnicidade que os Rannoch praticam. Igualmente clara é a evolução vocal de Ian – se os álbuns anteriores deixavam dúvidas quanto ao empenho e encaixe nas passagens de voz limpa, Conflagrations desafia essa ideia, facto que também se deve ao amadurecimento em termos de composição, que definitivamente proporciona um melhor “flow” entre passagens e faixas, relativamente ao “Reflections Upon Darkness”.
Riffs de 8 cordas, pesados como se quer, blast beats divinais e impiedosos, e a fusão de ciclos de melodia e shredding de Gillings entre tantas técnicas e expressões reduzem o cérebro a papa cinzenta ao tentar acompanhar.
Com “Degenerate Era” a abrir com sintetizadores atmosféricos, melancolia, shredding e vozes limpas distorcidas que relembram ao de leve o estilo de Devin Townsend, rapidamente nos encontramos com as atenções voltadas para “Prism Black” que tal como a homónima do álbum, nos ataca com marteladas de Death Metal vibrante e cordas eletrizantes. Conflagrations é indubitavelmente a minha perdição no álbum; uma catarse com um início emotivo, carregado lentamente, numa projeção astral cintilante que se liberta com Dan Presland a conduzir o compasso até nos entregar ao domínio da distorção e voz rasgada de Gillings, passagens bem colocadas de voz limpa e shredding desolador a construir um ambiente sinistro ao lado de sintetizadores melancólicos. Sublime.
Mas calma! “Threads” também tem muito que se lhe diga… imaginando uma criatura à imagem da terceira faixa de Conflagrations, sairia algo tecnicamente distorcido, rígido, munido de picos de eletricidade que nos injeta diretamente na corrente sanguínea sem piedade, ao longo de mais de 18 minutos. Uma faixa refinada, densa e sólida, cuja métrica e riffs recordam Meshuggah - de todo algo que esperaria de uma peça de uma banda de Prog Death.
Quase tão ambiciosa, “Daguerreotype” exibe na perfeição a capacidade de expansão vs contração da banda do UK, logo ao lado da gigante colossal de quase 17 minutos, “Threnody to a Dying Star”. Com um interlúdio ominoso, galáctico, de baixo proeminente, a faixa que fecha Conflagrations evidencia no seu auge a polaridade entre a melodia e a progressão nos seus pontos mais extremos, com um final grandioso: evidentes, mas inesperados elos que ligam “Threnody” à introdução “Degenerate Era” oferecem uma bela cereja no topo do bolo e obrigam automaticamente a que se faça todo o percurso outra vez e, posso confirmar, sabe ainda melhor!
Este terceiro álbum de Rannoch, lançado pela Willowtip Records, pode surpreender muita gente tendo em conta o low-profile da banda. Muito rico, aborda várias técnicas e explora vertentes sem medo, encaixando tudo de forma coesa e bem trabalhada. Recomendo vivamente a quem ainda não explorou a possível obra-prima do trio a fazê-lo o quanto antes – uma viagem vos espera.
Nota: 8.6/10
Review por Alexandra Crimson