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Oomph! - "Richter und Henker" Review


Wolfsburg é uma pequena cidade industrial alemã próxima de Hannover, mais conhecida pelo seu clube de futebol e por ser o local da maior fábrica de automóveis do mundo – a sede da Volkswagen. 

Em 1989, surgiu nesta cidade um grupo inovador, a praticar uma mescla de rock gótico-industrial e EBM, na linha daquilo que vinham fazendo bandas como Nitzer Ebb, Front 242, KMFDM ou Skinny Puppy. Progressivamente, as guitarras foram-se tornando mais densas e dominantes sem, no entanto, se perder a raiz industrial. Após a publicação do primeiro álbum de Rammstein, em 1995, a imprensa alemã cunhou um novo termo para designar esse género musical emergente: NDH – Neue Deutsche Härte, a nova dureza alemã. Os Oomph! foram sempre largamente citados como precursores do género e como influências maiores do sexteto liderado por Till Lindemann.

Apesar de cantarem maioritariamente em alemão, os Oomph! tinham sempre dois ou três temas em inglês em cada disco, para tentar a internacionalização. Não foram, no entanto, particularmente felizes nesse campo, já que a sua legião de fãs está concentrada sobretudo na Alemanha e países vizinhos. Em Portugal, tocaram apenas duas vezes, já no longínquo ano de 2001, a abrir para os HIM.

Durante 32 anos e 13 álbuns, a formação da banda manteve-se inalterada no formato trio: Dero (voz e bateria), Crap (guitarra e teclas) e Flux (guitarra e samples). Ao vivo, a banda faz-se sempre acompanhar por músicos convidados para o baixo, bateria, teclas e percussões. Durante a pandemia veio a primeira alteração de formação. O vocalista Dero Goi converteu-se ao cristianismo e disse aos restantes membros que já não era capaz de cantar certos temas do repertório da banda. A par com isso, aderiu ao negacionismo e a todo o tipo de teorias da conspiração, o que fez com que se abrisse um fosso inultrapassável entre ele e os restantes membros do grupo. Também Chris Harms, líder dos Lord of the Lost (representantes da Alemanha na Eurovisão de 2023) e parceiro de Dero nos Die Kreatur, disse que a parceria estava terminada, com apenas um (bom) álbum editado.

É preciso dizer que os Oomph! estavam no seu melhor momento de sempre. Os últimos cinco álbuns, todos cantados em alemão, eram muito consistentes e muito bons. Posto isto, a expetativa era grande para a futuro da banda. Iria terminar? Se continuasse, quem seria o vocalista? E o rumo da banda, manter-se-ia ou alterar-se-ia? E a qualidade da banda, como seria? 

As respostas estão todas dadas em Richter und Henker. O novo vocalista é Der Schulz, conhecido por ser o vocalista dos Unzucht – banda de NDH, com dez anos de existência e seis álbuns já publicados. Não é, portanto, um estreante nem um desconhecido nestas andanças. Dessa forma, a química entre todos só tinha era que funcionar bem. O novo disco não difere muito dos anteriores. É NDH na sua essência, com guitarras fortes, uma cama de teclas, batidas marciais e voz rouca, que não é muito diferente daquela a que estávamos habituados. Estreou em sétimo lugar nas paradas alemãs, sendo dessa forma a quarto melhor estreia da banda. O nome do disco – Juiz e Carrasco – parece ser uma referência à saída de Dero Goi; Crap e Flux foram juízes e carrascos nessa sentença. 

Nos primeiros quatro temas estão os três singles libertados antecipadamente, o que demonstra bem a urgência com que a banda pretende demonstrar que está tudo bem com eles. E de facto está. Os temas são bons cartões de visita ao disco – versos contidos, com refrões cheios de peso equilibrado por melodias vocais marcantes. Os fãs antigos não vão ficar desapontados. Para um não-falante de alemão, como eu, as letras não são tão relevantes. Contudo, deve referir-se que, à primeira vista, as letras não parecem tão elaboradas nem provocativas como anteriormente. Há tempo ainda para uma participação de Joachim Witt – veterano cantor de 74 anos, muito associado ao género nos últimos anos, que também não desaponta.

Em resumo, parafraseando Mark Twain, notícias sobre a morte dos Oomph! foram manifestamente exageradas. Eles estão bem e recomendam-se.  

Nota: 8/10 

Review por Renato Conteiro