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Entrevista aos Malignea



De um enriquecido e notável background, os Malignea são o renascimento dos Dogma com a excepção de Gonçalo Nascimento na voz. O marcante Metal sinfónico cantado em português não deixa ninguém indiferente. Ergueram-se a ferro e fogo em 2022, estrearam em palco a 6 de Maio no Side B em Alenquer com Beyond Carnage, lançaram o primeiro single Morte Vermelha em Dezembro do mesmo ano e, o tão esperado álbum, ainda morninho e com tanto por explorar, saiu no final de Fevereiro deste ano 2023. É sabido que ousadia e criatividade não lhes faltam, continuando a fazer história no Metal Português. Tomamo-los assim como exemplo de resiliência por se manterem unidos e focados na sua própria identidade e evolução independentemente dos desafios que surjam pelo caminho.

M.I. - O que consideram que se transformou a nível criativo de uma banda para a outra, tendo em conta a ausência do Gonçalo?

Dogma foi fundada em 1997, quando se está numa banda com um historial tão vasto acabamos por ficar de certo modo presos a um certo registo, a uma certa maneira de compor e de tocar ao qual não se pode fugir sem correr o risco de perder a ideia original do que a banda é ou pretende ser.
O nascimento de Malignea permitiu-nos absoluta liberdade criativa e enveredar por caminhos que com Dogma não seria possível precisamente por já não estarmos presos a um rótulo e a um historial que condicionasse o processo criativo.
Por outro lado, o facto de passarmos a contar só com a voz da Isabel também nos facilitou a tarefa, uma vez que é bastante mais fácil compor músicas para apenas uma voz. Daí resultaram músicas mais rápidas e fluídas e o processo de composição foi bastante rápido. Em menos de um ano já estávamos prontos para ir para estúdio e começarmos a dar os primeiros concertos.


M.I. - Agora com o vosso LP ao nosso alcance, como tem sido o feedback do público para vocês? Sentem que existe uma nova geração a seguir o vosso trabalho?

Estamos muito contentes com a receção do público a este álbum. De maneira geral o público que já nos seguia em Dogma continua a seguir-nos agora com Malignea e penso que o facto de sermos agora uma banda com uma front woman está a ser uma mais valia e que está a trazer-nos uma fatia de público jovem que começa agora a explorar estas sonoridades mais pesadas. 
Também nos deu muito gozo ver que estes temas resultam muito bem ao vivo o que era uma das nossas maiores pretensões. 


M.I. - Quais consideram ser as principais inspirações durante a produção deste álbum?

Quando começamos a compor este álbum quisemos diversificar ao máximo as nossas opções em termos tantos musicais como de escrita. Queríamos que cada música fosse diferente e tivesse o seu próprio cunho, carácter e personalidade. Também os assuntos que as letras abordam são diferentes. Há temas como por exemplo a “Morte Vermelha” que, apesar de ser baseada num conto do Edgar Alan Poe tem uma relação direta com os tempos da pandemia dos quais estávamos a acabar de sair. Também a “Cirenaica” que apesar de ter bases mais históricas é uma analogia à guerra da Ucrânia. Ou o “Universo 25” que é baseada numa experiência científica, mas que ao mesmo tempo reflete o caos social da atualidade. Existe sempre esta dualidade entre passado e presente e entre intemporalidade e atualidade que acho bastante interessante e que torna os temas mais ricos. 


M.I. - Agora olhando para trás, mudariam alguma coisa a nível conceptual?

Penso que não. Acho que todas as nossas ideias na altura foram plenamente concretizadas neste álbum. Se o fossemos gravar agora certamente que algo sairia de diferente, mas isso é normal. Há um constante processo de evolução ao qual todos nós estamos sujeitos tanto individual como coletivamente.


M.I. - Onde gravaram e com quem?

Gravámos nos estúdios da Pentagon Audio Manufacturers com o excelentíssimo Fernando Matias. A nossa relação com ele vem de longa data, foi ele que gravou quase todos os trabalhos de Dogma e Insaniae e agora o álbum de Malignea. É dos melhores produtores que temos por cá e a sua mestria, opinião e conselhos são sempre uma mais valia quando se quer ter um trabalho de qualidade.


M.I. - Quem é o responsável pelo artwork da banda? 

Sou eu. O meu objetivo era criar algo simples e com imediato impacto visual. O facto do álbum ser homónimo da banda ajudou a simplificar as coisas. 


M.I. - Como artistas nacionais e amantes do Metal, o que consideram que está diferente nesta comunidade? 

O que temos vindo a constatar com muito agrado é que cada vez há mais e melhores festivais pelo país inteiro. Isso é prova inequívoca que o meio está vivo e saudável e que o público adere em força a estes eventos. Também parece que nos últimos anos há mais camaradagem e união entre os media e as próprias bandas e que mesmo o criticismo é mais construtivo do que antes. 
Felizmente já lá vão os tempos em que quem ouvia e tocava metal era olhado de lado como se tivesse a peste. Penso que hoje em dia há uma maioria abertura e uma melhor aceitação dos sons mais extremos por parte tanto dos media, das organizações de eventos e do público em geral. Claro que ainda há muito a fazer e muito mais pode ser melhorado, mas tendo em conta que há alguns anos atrás se apregoava que o Metal estava morto e que ia desaparecer parece-me que o atestado de óbito que lhe passaram foi bastante prematuro.


M.I. - A nível individual, existem projetos paralelos entre vocês para além dos Malignea?

Eu e o Miguel Sampaio neste momento estamos só em Malignea. A Isabel já há alguns anos que tem participado nos álbuns de Gwydion e tem feito alguns concertos em ocasiões especiais com eles. Ocasionalmente é convidada para participar com outras bandas e músicos, por exemplo participou no concerto de lançamento do último álbum de Enchantya.
O Luís Abreu tem outro projeto neste momento que começa a dar os primeiros passos.
De todos nós o mais atarefado é sem dúvida o João Pedro Ribeiro, uma vez que para além de Malignea é também o guitarrista de My Enchantment e guitarrista convidado de Enchantya.


M.I. - O que há de novidades na vossa agenda que possam partilhar connosco?

Vamos continuar a apresentar o nosso álbum e a levar a nossa música a todo o lado que seja possível com a nossa Morte Vermelha Tour até ao final deste ano e possivelmente durante o ano que vem. Para já os próximos concertos vão ser em Novembro, dia 4 na Casa do Artista Amador em Famalicão, dia 11 no Hollywood Spot em Almada e dia 25 no X-Treme Bar em Castelo Branco.
Entretanto já começámos a trabalhar em novos temas que integrarão o nosso próximo álbum que, se tudo correr bem, sairá em 2025.


M.I. - Que mensagem podem deixar aos vossos seguidores que também perseguem uma carreira musical em Portugal, tendo em conta a vossa experiência?

O importante é fazer a música que se gosta e nunca desistir. Apontar sempre a novos objetivos, por mais pequenos que eles sejam. Pequenas oportunidades podem abrir grandes portas, nunca sabemos o dia de amanhã. Encarar sempre cada concerto como sendo um evento único, uma ocasião especial. Respeitar o público e as outras bandas e todos os que fazem parte deste meio. Afinal estamos todos juntos a lutar pelo mesmo.
E, acima de tudo, divertirmo-nos. Porque afinal sem alegria no que se faz nada disto vale a pena. 
Muito obrigado pela entrevista. Até breve.


Entrevista por Clara Nunes