About Me

Alkaloid - "Numen" Review


A harmonia de Focus dos Cynic salta logo à vista nos primeiros segundos de “Qliphosis”, com o baixo de Linus Klaunitzer bem presente; depois segue-se a voz de Morean, com apontamentos de guitarra solo recheada de efeitos. E aos três minutos estamos noutra secção do tema, com a voz num registo limpo e a bateria de Hannes Grossman mais solta. Os Alkaloid continuam com a mesma atenção ao pormenor nos arranjos que nos trouxeram no excelente "Liquid Anatomy" em 2018. Atentemos ainda que após um breve solo de baixo, temos uma secção que nos remete para o jazz, algo raramente bem conseguido por bandas do género (o mesmo sucede por breves segundos em “The Cambrian Explosion”). Há, pois, muito para dissecar só no primeiro tema de "Numen".

O segundo tema é mais direto, recordando "Obscura", da fase "Cosmogenesis", só que nos surpreende com um interlúdio de guitarra flamenco (e que não soa fora de sítio); “The Cambrian Explosion” acaba por ser o melhor tema do álbum. Destaque-se que o recurso a coros em apontamentos pontuais é uma das novidades deste álbum (atente-se também em "Shades of Shub Niggurath"). O interlúdio "The Black Siren" é uma referência, mesmo que seja indireta, às faixas instrumentais a que os Morbid Angel recorreram em "Blessed are the Sick".

O single de avanço com direito a vídeo, “Clusterfuck”, é um tema direto e acessível, demonstrando a versatilidade dos Alkaloid a nível de composição. Outro tema a destacar: “A Fool’s Desire” começa com guitarra acústica, e a harmonia lembra Mastodon, especialmente nos momentos mais calmos, na fase de "Crack The Skye" (a voz de Morean recorda a de Marco Hietala dos Nightwish, por exemplo, num tema como “The Islander”).

O solo de Hannes Grossman no final de “The Fungi from Yuggoth” é impressionante e um momento raro. O caos nos solos das guitarras de Morean e Christian Muenzer é a peça central de "Recursion", assim como o recurso a efeitos o é em "Numen"; no entanto, ambos os temas têm pouco a oferecer para o todo do álbum.

Com “The Folding” temos um início com o registo mais grave da voz de Morean, tratando-se de um dos temas mais pesados do álbum. As guitarras do vocalista e de Christian Muenzer formam a peça central da atmosfera, mais uma vez, até sermos arrastados para um vácuo sonoro intenso aos quatro minutos (uma das melhores surpresas do álbum).

"Numen" é um disco com bastantes pontos altos, demonstrando que os Alkaloid conseguem manter elevado o nível de exigência em termos de composição e de arranjo dos temas. Existem aqui muitos pormenores que podem ser dissecados com várias audições, pois cada tema tem algo a oferecer, desde o mais simples ao mais complexo.

No entanto, faltam aqui músicas cativantes como tínhamos com “Kernel Panic” em "Liquid Anatomy", apesar de a estrutura de ambos os álbuns ser semelhante (este também com o seu tema mais comprido), acabando por ser mais longo do que é necessário. Ainda assim, trata-se do lançamento mais acessível desta banda e, assim, poderá chegar a mais ouvintes.

Nota: 8/10

Review por Raúl Avelar