Quando todos aceitámos que não voltaríamos a ouvir as inconfundíveis melodias de guitarra e teclado nem os raspy “yaow yaow”, começamos a receber notícias da banda/projeto de Janne Wirman no fim de 2022. Os Warmen, formados pelo teclista de Bodom e pelo irmão Antti, foram um projeto formado em 1999, com o objetivo de compor metal com foco nos teclados. Com o último álbum “First of the Five Elements” lançado em 2014, há muito tempo que o projeto tinha sido considerado descontinuado. Mas eis que nos chegam notícias de que a banda se reuniu e começou a gravar um álbum, seguindo-se a adição à line-up de Petri Lindroos (vocalista dos Ensiferum), e numa questão de uns meses temos o álbum cá fora. E que álbum.
“Here For None” é o nome do álbum. E não tem nada a ver com os antigos Warmen. Os álbuns anteriores eram uma mistura de power metal melódico neoclássico e covers de músicas pop com vocalistas convidados. Ótimos álbuns, mas algo inconsistentes. Com um vocalista permanente, uma lineup estável e um objetivo concreto, “Here For None” revelou-se uma nova encarnação da banda que toca no estilo dos Children Of Bodom, sendo como uma versão 2.0 da banda. E não há nada de negativo nisto! Ao ouvir o próprio Janne Wirman em entrevistas é fácil entender: esta é a forma de honrar o seu passado com os COB da melhor forma possível; continuando a fazer música da melhor forma que pode. Além disso, Petri Lindroos, antes de ser vocalista dos Ensiferum criou os Norther. Para quem não sabe, os Norther são constantemente comparados com os COB devido à semelhança de som. Especialmente o primeiro álbum “Dreams of Endless War”, que teve ajuda dos próprios Bodom. Portanto a sua participação nos Warmen acrescentou uma boa dose de “Bodom e Norther vibe”.
Todo o álbum é uma glorificação de COB, com uma dose de Norther e Warmen à mistura. No fundo é um 3 em 1 e não podia resultar melhor. “Warmen Are Here For None” inicia o álbum com uma melodia de teclado que imediatamente lembrará qualquer ouvinte da música “Downfall”. É seguido de um grito do vocalista que lembra Laiho mas que é diferente o suficiente para ser único. “The Driving Force” lembra um o início de uma música mais antiga de Warmen, mas percebemos no riff seguinte que não vamos ter vocais limpos neste álbum; isto é melodeath finlandês “à la COB”. Petri grita “yeaahh yeaahh” numa referência ao “yaow yaow” de Laiho e os duelos de teclado e guitarra são memoráveis. “Night Terrors” é acompanhado de uma melodia alegre de teclado, que contrasta com as guitarras e letra pesadas. “Hell On Four Wheels” é certamente um dos destaques do álbum, sendo rápida, agressiva e melódica e possuindo uma secção de teclado e vocais distorcidos reminiscentes de “Hate Crew Deathroll”. Pensando bem, poderia muito bem estar no meio desse álbum. “Death’s On Its Way” é uma mistura de “Relentless Reckless Forever” e “Mirror of Madness” dos Norther, com um refrão melancólico e riffs rápidos e pesados. O álbum termina com uma cover dos Ultravox, “Dancing With Tears In My Eyes”. Cumprindo a tradição dos COB em fazer covers improváveis de músicas pop, resulta surpreendentemente bem, com os teclados de Wirman e a voz de Petri encaixando na perfeição.
Resumindo, qualquer música deste álbum poderia estar nalgum álbum de COB e passaria despercebida a um ouvinte inexperiente. Sendo os vocais de Petri o mais notável por serem um pouco diferentes, apesar de raspy como os do Alexi, há outros fatores que diferenciam a música. Quando ouvido com atenção, nota-se que Seppo Tarvainen tem uma abordagem mais progressiva na bateria e que os teclados de Wirman estão mais presentes do que em qualquer álbum de Bodom. O baixo é bastante audível e tem os seus momentos aqui e ali. Antti é impecável na guitarra, sendo possível ouvir a influência de Laiho na sua forma de tocar. Os solos são de uma criatividade incrível e encaixam-se perfeitamente com os teclados do irmão.
Naturalmente é quase impossível não comparar “Here For None” às bandas mencionadas, porque o álbum em si é feito na base das mesmas. Independentemente disso, é um fantástico álbum, sem uma única música fraca. Sendo o grande fã de COB, Norther e Warmen que sou, superou todas as expectativas à larga e é facilmente um dos meus favoritos de sempre. Curioso para ver o que a banda vai fazer no futuro e espero um dia ter a oportunidade de os ver ao vivo. Não se deixem enganar pela semelhança com as outras bandas, porque não é isso que o desvaloriza, pelo contrário; serem capazes de criar um álbum que soa simultaneamente a uma homenagem do mais alto nível e conseguindo destacar-se pelas suas características é um feito e tanto.
Nota: 9/10
Review por Simão Madeira