Mais um vez o Vialonga Fest deu-nos um belo dia de bons espetáculos e confraternização entre amigos que se divertiram saudavelmente a ouvir boa música feita por boas bandas. O festival, como sempre, era para ter sido ao ar livre e para isso foi montado um palco no exterior da Sociedade Recreativa da Granja, mas a previsão de chuva (que acabou por não acontecer) fez com que se jogasse pelo seguro e que se pusesse em prática o plano B, sendo assim os concertos tiveram lugar no salão interior da coletividade que em nada estragou o evento. Tudo funcionou normalmente - apenas com um pequeno atraso em relação ao horário originalmente previsto - houve espaço suficiente para que todos os que tinham bancas de venda se instalarem e para que o público pudesse curtir à vontade!
Os Alma Negra foram a banda que teve as honras de abertura desta 6º edição do Vialonga Fest. Grupo formado em 2021, constituído por músicos experientes e alguns também conhecidos por terem sido elementos de vários outras bandas como por exemplo, Glasya ou Enchantya. Aqui a cena é um pouco fora do normal e diga-se, original, com a fadista Carla Arruda nas vocais a sua sonoridade anda por uma curiosa mistura de metal melódico com elementos do fado, algo que pode, ao ínicio parecer estranho mas que resulta. Uma ideia em vias de desenvolvimento que merece atenção e que poderá vir a ter algum destaque. Bonitas canções, umas mais mexidas, outras mais calmas, mas tudo feito com bom gosto e qualidade. Trata-se de uma boa prova da universalidade da música como arte versátil, se não se experimenta não se evolui. A música é acima de tudo uma experiência, como tal assim deve ser encarada e neste caso a experiência é boa! A ver vamos o que o futuro lhes reserva, espero que lhes seja positivo, é algo que marca pela diferença e soa muito bem!
Os segundos a subir ao palco foram os Grau Zero, nova banda formada em Vialonga por volta de 2020, deram-nos a conhecer a sua faceta musical com base no hardcore, sonoridade bastante enérgica com malhas fortes e bem esgalhadas, tanto em inglês como em português, letras politizadas como mandam as regras. Ainda sem edições oficiais, tocaram oito temas naquela em que foi uma atuação eficaz. Boa presença em palco, cumpriram bem com o que se pedia para a ocasião. Trata-se de um grupo recente, mas que conta com músicos maduros que já passaram por várias outras bandas, fica-se a aguardar uma futura edição e entretanto que sigam em rodagem e que venham aí mais concertos!
Os Konad foram os terceiros no alinhamento do fest, formados em Vila Franca de Xira em 1996 na sua discografia até há data constam dois álbuns e mais algumas edições em demo. Para este concerto, a aposta foi essencialmente o futuro álbum já completamente pronto, mas ainda à espera de edição. Abriram e fecharam o espetáculo com dois temas antigos ''Mákina de Guerra'' e ''Porcos Malabaristas'', ambos de ''Café Beirute'' (2012). E entre essas duas malhas foi um desfilar de novidades, meia hora de completa ''devastação'' sonora como seria de esperar! Thrash/Hardcore/Punk/Crust foi o que nos foi dado a ouvir, som intenso, bem esgalhado que não faz prisioneiros nem oferece concessões, foi durante a sua atuação que começa seriamente a agitação por parte do público que aderiu muito bem. De salientar também, uma excelente presença em palco! Fica-se a aguardar o novo trabalho, que promete! Konad é um dos nossos bons valores nesta linhagem mais extrema e mereciam mais reconhecimento, tendo em conta o tempo em que já andam nisto. Talvez esteja na hora certa de isso acontecer, a ver vamos!
Rageful, quarta banda do festival a entrar em ação, formados em Lisboa em 2016 são um dos nossos novos valores no que a metal diz respeito. Em 2020, editaram aquele que é o seu único trabalho até há data, ''Ineptitude'' que foi a base base da atuação, mas não se limitaram apenas a temas do álbum. Abriram as ''hostilidades'' com ''Feed the Pigs'' a sua malha mais conhecida, depois foram alternando entre temas mais recentes e mais antigos, como ''Membership To Self-Existence'' (ainda do tempo do projeto anterior); Wall Of Death; reservando para a parte final os devastadores ''Whispering Rage'' e ''Portugal The Torch''! Tudo bem oleado e bastante eficaz, nota-se que sabem bem por que águas navegam! As influências são claras, death metal old school, rápido, agressivo e bem pesado, não fogem um milímetro ao que é pretendido para a sua sonoridade! Houve também uma boa aderência por parte do público, combinado com uma excelente postura em palco por parte da banda. Os novos temas preveem que algo está por vir em termos de futuras edições. Que venham para aí mais uns bons concertos, como aquele que aconteceu neste evento!
13 & O Clube 666, foi a 5ª banda do fest e deram aquele que foi o melhor concerto de todo o evento! Formados recentemente no Porto e já com um EP ''Fantasmas Do Passado'' - editado em junho deste ano - trata-se de um regresso ás origens e ás raízes do mais puro rock 'n' roll, tudo exposto numa onda psycho/rockabilly cantado em português com imensa energia, muita loucura e algum teatro em palco! Para além dos quatro temas que compõem o EP, foram-se ouvindo mais uma data de malhas igualmente boas que eventualmente irão fazer parte de futuras edições. Há muita qualidade na execução musical, nota-se que são excelentes músicos, têm uma grande postura em palco, boa interação com a assistência - que não parou quieta todo o tempo - a meio do espetáculo convidaram o grande Jorge Bruto para os acompanhar na versão de ''Tudo à Estalada'', tema da sua própria banda: Capitão Fantasma. Foi bonito ver um grande senhor do nosso rock 'n' roll a acompanhar uma banda que claramente segue os mesmos passos e que o tem como uma das suas grandes influências - algo que aliás foi assumido pelos os próprios - e que é bem óbvio, sem qualquer margem para dúvidas. Resumindo, 13 & O Clube 666 foi o primeiro momento alto do Vialonga Fest 2023, a prova de que o bom velho rock 'n' roll está bem vivo como estilo, continua a entusiasmar e a ser celebrado justamente por bandas que vêm nessa onda vintage um grande potencial! Rock 'n' roll é e sempre será festa e como não podia deixar de ser, foi isso que tivemos durante todo o concerto! Banda a ter em conta, se lerem o seu nome num cartaz algures não hesitem em os ir ver, não se vão arrepender, garanto-vos!
Os Zurrapa foram a penúltima banda a tocar no fest, formados em Viseu em meados da década passada, tendo já cinco edições desde 2017, dois EP's iniciais e três álbuns posteriores, sendo o mais recente 'O Triunfo dos Porcos', lançado em Abril do ano passado. Tal como se previa a sua atuação foi outro dos momentos altos deste 6º Vialonga Fest. Trata-se de um trio punk rock à antiga: músicas simples, esgalhadas e diretas, falando-se de coisas que vão do puro humor etílico/sexual, a algo mais sério de contestação política/social. Em palco ''partem a loiça toda''! Estão sempre em movimento, algo que faz o público comportar-se da mesma maneira, também muita interação, puxam pelo pessoal, há discursos entre malhas sem ''papas na língua'', que não deixam de fazer algum sentido e servem de introdução aos assuntos que são abordados em cada música. Acima de tudo, do que se trata aqui mesmo, é de diversão em modo de festa punk. Fez-se uma viagem pela sua discografia, destacando-se os temas mais conhecidos de cada trabalho editado com muitas maluqueiras à mistura! Algo que fez as delicias de quem estava cá em baixo a assistir!
E chegou a vez dos All Against, banda escolhida para encerrar o 6º Vialonga Fest, formados em Lisboa em 2015 contam já com cinco edições desde então: dois EPs em estúdio, um ao vivo e dois álbuns. Estão pela segunda vez neste evento, depois de terem já marcado presença na edição de 2019. Foram alvo de algumas mudanças de line-up, onde se destaca um novo vocalista. Os All Against são um dos bons valores do nosso metal atual, praticantes de thrash/groove metal de boa cepa com malhas fortes, cativantes, bem construídas, algo que faz com que o público se entregue facilmente à sua música! ''The Day Of Reckoning'' - álbum editado em março passado - foi obviamente a base de quase toda a atuação, começando ''Declaration Of War'' e seguindo em português com ''Rebelião'', logo depois ''Mass Murder Policy'', ''I Wont Obey Anymore''e o tema título. Recordou-se ''Strip You To The Bone'' do EP ''Feed The Machine'' (2018) e de volta ao novo disco fez-se ouvir ''Blood For Blood''. O encerramento do espetáculo foi com malhas do penúltimo álbum com ''Free In Chains'' e o encore - que não estava previsto - com o tema que dá nome a esse disco ''I Am Alive'' (2021). Tudo correu bem: belíssimo concerto, energia e power o quanto baste; boa entrega da banda compensado com um publico a ''queimar os últimos cartuxos'' com imensa agitação, fazendo bem justiça ao que vinha do palco!
De salientar que entre atuações o Dj Vasco Rodrigues fez umas boas sessões, com a intenção de preparar o pessoal para a banda seguinte passando músicas de estilos similares aos do grupo que estava por vir. Esteve também bastante gente e pode-se dizer que o evento foi bem sucedido. Mais uma vez quem organizou, colaborou, apoiou e patrocinou este festival está de parabéns e só me resta dizer que para o ano se repita e que seja ainda melhor! Trata-se de um evento gratuito que merece todo o nosso apoio, aposta em música mais alternativa, dando oportunidade a muitos de poderem mostrar a sua arte, algo que é sempre de louvar, bem hajam!
Texto por Luís Rato
Fotografia por Tania Fidalgo