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Entrevista aos Dercetius


A banda portuguesa de melodic death metal, Dercetius, lançou este ano o seu primeiro álbum, Withered. Formados inicialmente em 2019, deram o primeiro concerto em abril de 2022, introduzindo os ouvintes à sua fusão de solos melódicos com ambientalismo. Após o lançamento dos dois primeiros singles, Memories to Ashes e Unglorious Past, Withered oferece-nos 10 temas ao longo de 41 minutos de riffs pesados, assim como growls acompanhados por backing vocals limpos. Ao longo deste último ano, os Dercetius têm vindo a estabelecer-se no panorama do melodeath português, trazendo assuntos de extrema relevância para as suas letras, sem nunca esquecer a agressividade típica do género.

M.I. - A vertente instrumental é um dos aspetos que mais se destaca em Withered, de onde vem a inspiração para o instrumental de Dercetius? 

Olá, Beatriz! Sim, em Dercetius privilegiamos muito o instrumental. Sentimos que os instrumentos são capazes de transmitir emoções que as palavras não atingem. A inspiração é muito volátil. Temos alguma tendência para uma estrutura de melodic death metal finlandês, mas a inspiração surge de vários sítios. Não conseguimos dizer nem uma banda, nem mesmo um género musical que nos sirva como luz de guia. Podemos dar um exemplo em que num riff, que foi inspirado numa passagem de uma música de Alanis Morissette, mas muito mais rápida e com notas diferentes.


M.I. - Para além do nome da banda, que remete para uma divindade lusitana das montanhas, as vossas letras recaem sobre os perigos ambientais que se agravam dia após dia. O que vos levou a trazer o ambientalismo para este primeiro álbum? 

A emergência ambiental é um tema que não é recente, mas que infelizmente está cada vez mais presente nas nossas vidas. Neste momento estamos no final do verão no hemisfério Norte e todas as semanas temos notícias de catástrofes ambientais em diversos países, muitas dessas demonstram ser incongruentes com a estação do ano em que nos encontramos, como recentemente temos visto cheias pela Europa e alguns países asiáticos.


M.I. - No tema The Curse and the Cure, abordam a questão da humanidade como a maior ameaça ambiental, mas também como a única solução para atenuar os danos causados. Consideram que o vosso conteúdo lírico poderá trazer uma maior consciência para o assunto? 

É inevitável culpar a humanidade de ser grande responsável pelas alterações climáticas. Seja o plástico nos oceanos, desflorestação descontrolada, incêndios de fogo posto, seja a pegada de carbono e todas as fontes de poluição, tudo isso é culpa da humanidade. 
Nós acreditamos que cada indivíduo tem a capacidade para melhorar alguns aspetos. O simples ato de não atirar uma beata ou pastilha para o chão já ajuda a que seja menos uma beata ou pastilha no chão.
Queremos passar a mensagem de que é um tema sensível, e queríamos sobretudo poder dizer que este álbum não engloba temas atuais daqui por uns anos.


M.I. - Sendo este o primeiro projeto em que o Ricardo (guitarra e voz) é vocalista, para além de guitarrista, como tem sido a adaptação e quais os maiores desafios?

Houve um processo de adaptação e aprendizagem para chegar ao tom de voz que se sente em Withered. Como em todas as temáticas, a prática melhora a técnica. Os maiores desafios talvez tenham sido a questão dos vocais longos, aprender a controlar a respiração e saber onde respirar. Há certos temas em que a voz coincide com alguns leads de guitarra e essa questão também exigiu alguma prática para o conseguir fazer de forma cómoda.


M.I. - Como costuma funcionar o processo de composição enquanto banda?  

Na maior parte dos casos é o Ricardo quem faz o “esqueleto” na guitarra, a partir daí a ideia é passada aos restantes membros que contribuem com sugestões. Posteriormente, já estando reunidos para tocar, vamos vendo algumas ideias para adicionar (algumas vezes retirar). No refrão da Lost, optámos por ter os 3 instrumentos de cordas a fazer coisas diferentes. A guitarra da Mariana faz a melodia, ao passo que o Ricardo se encarrega do ritmo, enquanto que o Rodrigo está a fazer tappings no baixo que criam uma dinâmica diferente. Neste caso concreto, aquilo que já existia era apenas o ritmo feito pelo Ricardo, o restante foi composto posteriormente.


M.I. - Um dos aspetos mais interessantes tanto do álbum como das vossas performances ao vivo é a participação dos vários membros na voz, por exemplo, o Rodrigo Silva (baixo) também dá voz a um dos temas. Pretendem manter essa dinâmica em músicas futuras?

Achamos que há espaço para todos terem momentos de ribalta, seja solos de guitarra, seja interlúdios de bateria ou baixo, e mesmo as três vozes. Procuramos sempre encontrar uma harmonia entre todos os instrumentos que compõem a banda. 
É seguro dizer que em lançamentos futuros essa dinâmica não se vai perder, e certamente se ouvirá a voz do Rodrigo e da Mariana em alguns temas.


M.I. - A Mirage of Dreams também conta com a voz da Mariana (guitarra). Sendo o melodeath muitas vezes marcado pela voz feminina, pretendem aumentar essa participação no futuro? 

Planeamos incorporar a voz da Mariana em temas futuros, mas não se trata de aumentar essa participação. As vozes da Mariana e Rodrigo são componentes importantíssimos para aquela que é a nossa identidade, mas as músicas serão sempre maioritariamente com a voz do Ricardo como voz principal.


M.I. - Os Dercetius tiveram recentemente uma mudança no alinhamento e contam agora com o Ricardo Tito na bateria, sentem que a introdução de um novo membro poderá influenciar positivamente a vossa música?

O Ricardo Tito é sem dúvida uma aquisição de peso. Conta já com algumas passagens por várias bandas muito boas no panorama nacional. É uma mais valia para a nossa sonoridade que certamente será muito impulsionada pela sua composição rítmica.


M.I. - A capa do álbum procura captar a atmosfera criada pelo instrumental e a mensagem presente nas letras, como foi o processo de seleção?

Escolher esta capa de álbum foi um amor à primeira vista. Encontrámos esta imagem num site de venda de capas já feitas, e achámos que era o que nos descrevia melhor. A imagem é bastante abstrata, há quem veja na capa a luz solar com árvores a tapar alguns raios, há quem veja como se fosse a vista no fundo de um poço, olhando para cima. A capa é um bom retrato daquilo que é Withered.


M.I. - Numa entrevista anterior referiram que o death metal melódico não é muito explorado em Portugal, de que forma é que isso afeta a banda? É mais difícil agendar concertos com bandas do mesmo estilo?

O death metal melódico é mais característico do norte da Europa. É uma questão cultural, mais que outra coisa.
Não temos tido dificuldades acrescidas em arranjar concertos, a questão passa mais por haver poucas bandas do género em Portugal. As bandas que por cá existem são bastante boas, e estamos bem representados.


M.I. - Ao longo deste ano, os Dercetius têm vindo a tocar em novas salas e festivais pelo país, por exemplo, no Alvalade Arise Fest, estando agora anunciados para a Assembleia do Metal, a 30 de dezembro. Até lá, quais são os próximos concertos?

Dia 30 de Setembro, vamos estar na primeira edição do Estrelas Metal Fest no Feijó, com outras 5 bandas nacionais.
Depois disso temos um concerto recentemente anunciado para dia 20 de Outubro no RCA em Lisboa, onde iremos tocar com os nossos amigos Alpha Warhead e Klatter.
Entretanto vamos estar a preparar músicas novas para o lançamento de um segundo álbum. 


M.I. -  Gostariam de partilhar connosco algumas palavras para os leitores da Metal Imperium?

Nunca deixem de apoiar as bandas nacionais, são vocês que as fazem! Vão aos concertos, se puderem comprem merchandising, ouçam nas plataformas de streaming. A melhor maneira de ajudar é apoiar em peso!

Ouvir Dercetius no Bandcamp

Entrevista por Beatriz Cadete