Estávamos prontos para mais um Vagos Metal Fest (VMF), e isso é notório percorrendo as ruas da vila, onde deambularam as T-shirts pretas e os war vests, ambos em homenagem às bandas da música pesada. Vagos será nestes próximos dias a CAPITAL DO METAL. As portas abriram por volta das 15:30 horas, e os mais devotos já faziam fila bem antes da hora. Vagos recebeu os metaleiros com uma tarde bem ventosa, ainda assim bastante quente.
A banda que abriu o festival foram os Algarvios Dragon’s Kiss. Com uma sonoridade claramente do Heavy Metal mais clássico, deixaram-nos temas do seu álbum de 2014 Barbarians of the Wasteland como “Ride Till We Die”, “Ride for Revenge”, “Somewhere up in the Mountains” e “Wild Pack of Dogs”, e ainda uma música do seu mais recente EP “The Last Survivors”. Nunca é fácil abrir um festival e tocar à tarde, mas esta banda esteve bastante à altura do desafio.
Seguiram-se os Dagara e os Vendetta FM, franceses e espanhóis, respectivamente. Ambos trouxeram uma sonoridade que se circunda entre o Metal e o Hardcore. Os primeiros fizeram a sua estreia em Portugal e os segundos foram reincidentes nos palcos do VMF. Ambas as bandas foram a faísca necessária para se acender aquilo que se quer num festival de metal: boa música, muita energia, e claro, mosh e crowdsurfing. E foi isso que se teve com estas bandas, com ambos os vocalistas a surfarem pela multidão de metaleiros, culminando com até um segurança a entregar-se ao crowd surfing – é isto que é o metal, é isto que é festa!
Como é habitual, antes de iniciar um concerto dos Besta, ouvimos pela voz do Paulo Rui “Bem-vindos ao ritual da Besta”, e entramos todos numa espiral sem fim de puro grindcore nacional. A sonoridade é tremenda e remete-nos para o death e para o hardcore, a atitude é puro hardcore, e claro, com letras carregadas de crítica social: no fundo é isto que se quer no grindcore. São muitas músicas, e foram quase tocadas de enfiada. Exemplificando: em pouco menos de 15 minutos tocaram 6 músicas. O vento persistiu em Vagos, só que os furacões criados pelos circle pits foram bem mais fortes. O povo de Vagos não se rendeu, e os Besta foram o combustível para inflamar esta tarde ventosa, porém quente. Tal era a energia que o vocalista rendeu-se ao crowd surfing. Foram cerca de 30 minutos de pura emoção sonora. Muita energia contagiante, ou não fosse o mosh pit durar tanto como o concerto.
Os australianos Be’Lakor iriam iniciar às 18:30H; antes de entrarem ouve-se, simbolicamente, no recinto “Symbolic” dos Death, dando o mote perfeito para os 45 minutos seguintes. Entram com “Roots to Sever” do álbum Vessels de 2016, e logo nos primeiros minutos é manifesto a influência de bandas como Dark Tranquility na sua sonoridade. O quinteto de Melbourne apresenta-se e seguiria para “Venator”, tema do álbum Stone’s Reach, de 2009. O clima de verão em Portugal aquece os artistas; confessa o vocalista George Kosmas, no entanto é, certamente, o público de Vagos que lhes aquece o coração. Viajou-se até 2012 para o álbum Of Breath and Bone com o tema “Abeyance”, e iriam para a única música tocada, do álbum mais recente, “Valence”. Agradeceram em bom português e fecharam com a última faixa do álbum de 2009, “Countless Skies”. Um Melodic Death Metal que nos derrete, sonoramente, a alma. Artistas que tecnicamente são formidáveis. Acrescentar apenas que se encontravam vestidos com a farda do metal, todos de preto, dos pés à cabeça.
Muitos olhos estiveram em cima da atuação seguinte. A banda de David Ellefson, Guilherme Miranda e Michał Łysejko entrou em palco na hora marcada e foi com tudo. Começaram com a intro bastante calma do tema “To Hell and Back”, que também dá nome ao álbum, para depois demonstrar a sua verdadeira natureza, e ainda “Don’t Get Mad… Get Even!”. O povo da capital do metal entregar-se-ia ao mosh, que só iria terminar no final da atuação deste supergrupo. O trio faz-se acompanhar por mais uma guitarra de suporto em palco, e é assim que enchem o palco com um peso numa sonoridade que anda de mãos dadas com o Death e o Thrash. Apresentaram-se pela voz do brasileiro Guilherme Miranda, que com o seu humor característico contou uma história sobre peripécias vividas em Portugal. Foram depois para “Wicked Disdain” e “Free Us All”. Mudaram de afinações para partirem para as pesadas “Heavy is the Crown”, “Dead Inside” e “The Mark of Cain”, pelo meio destas músicas Guilherme apelou à comunidade do metal, local de união, agradeceu a Portugal por o ter recebido em pleno Covid, e deu ainda uma lição importante de como pronunciar o nome da banda. Fecharam o concerto com “In the Hall of the Hanging Serpents”, a música na origem deste fenomenal projeto. Como estaríamos já à espera, iriamos ouvir quase na integra o seu álbum de estreia lançado este ano. São 3 músicos já com provas dadas em bandas incríveis, que no fundo vieram dar continuidade ao seu brilhantismo musical, e não desiludiram.
Já se sabia que Alestorm iria ser um dos pontos altos deste primeiro dia, bastava a ver a dezena de festivaleiros vestidos de pirata pelo recinto, ou os imensos adornos de índole pirata espalhados pelos metaleiros. Olhando para o palco tivemos a confirmação com um enorme patinho de borracha amarelo insuflável, servindo de background para o metal pirata destes escoceses. Abriram com “Keelhauled” e “No Grave but the Sea”, imediatamente todo o vagos entra nesta festa: um gigante mosh pit que se foi alastrando ao longo do todo o concerto, com doses elevadas de crowd surfing; e os restantes dançam em pares, trios ou individualmente. Apresentam-se e deixam-nos “Alestorm”, “Under Blackened Banners” e a cover de Taio Cruz “Hangover”, seguidamente vamos para “Mexico” , “Magellan’s Expedition”, “P.A.R.T.Y”, “Captain Morgan’s Revenge” e “Shit Boat (No Fans)”. A festa é inegável todos saltam ou dançam, a energia é demasiado contagiante. Fecham com “Drink”, “Zombies ate my Pirate Ship” e claro “Fucked with an Anchor”. A Quinta do Ega era o local certo para todos os que se queriam divertir, e Alestorm com todo o gosto cumpriram esse desejo durante a hora que estiveram no palco Sublimevilla.
Os Sacred Sin vieram mostrar como se faz Death Metal à moda Old School. Com um passeio pela sua bastante rica discografia, tocaram temas do novo álbum, entre os quais “Storms over the Dying World”, “Hell is here” e “Perish in Cold Ambers”, muito bem recebidos em Vagos no palco Hidromel Lucitanea. Todavia, os clássicos foram ainda mais bem acolhidos, tais como “Eye M God”, Ghoul Plagued Darkness”, “The Chapel of the Lost Souls”, “In the Veins of Rotting Flesh”, “Vipers – Rise from the Underground”, “Born Suffer Die”, “False Deceiver” e claro, “Darkside”. Muita experiência representada, e isso é manifesto olhando para os 4 membros da banda com a sua presença de palco. Destacando ainda, o incrível Tó Pica, que dá alma sempre que pega na sua guitarra. Que forma de abrir para os headliners da noite.
Os cabeças de cartaz deste primeiro dia foram os Sepultura. Ainda antes de subirem ao palco, ouviu-se no recinto, na íntegra, a mítica “War Piggs” dos Black Sabbath, e os mais atentos sabem que a seguir vem “Polícia” da banda de Rock Titãs. Entraram em palco com “Isolation”, um tema do novo álbum Quadra, de 2020. Lançaram-se de seguida para um clássico “Territory” do álbum de 1993, Chaos A.D., Derrick Green avisou que iriam tocar muitas músicas do Quadra, mas também iriam tocar muitos clássicos. Porém, é indiferente se é clássico ou novo tema, o público na Quinta do Ega vibrou de qualquer forma. Avançaram para “Means to an End” e “Capital Enslavement” do novo álbum, e “Kairos” do álbum homónimo. Ouvimos 2 clássicos “Propaganda” e “Cut-Thoat” (do álbum Roots) com um novo tema pelo meio “Guardians of Earth”. Serviram do álbum Arise a “Dead Embryonic Cells”, e mais uma das novas “Ali” em homenagem ao pugilista Muhammad Ali. Fomos para “Machine Messiah” do álbum de nome igual, “Infected Voice” do Arise e “Agony of Defeat” do Quadra. Enterrados os temas novos, de Sepultura apenas iriam renascer os clássicos. Revisitamo-los com “Refuse/Resist” e “Arise”. Agradeceram imenso ao público e abandonaram o palco, para nos brindar com um encore cheio de Roots, e foram “Ratamahatta” e “Roots Bloody Roots”. O espetáculo terminou um pouco antes da meia-noite e meia, e o crowd surfing e os moshes foram longitudinais a todo o concerto. Muito interativos com o público, a língua não seria um entrave para a banda vinda do Brasil, e notou-se o empenho de Derrick, que apesar de não ser a sua língua materna, conseguiu comunicar de forma bastante fluida. Extremamente participativos com a assistência, sempre a pedirem mais, e claro, como bons metaleiros que são, a plateia aquiesceu sempre, sem hesitar. Os Sepultura enterraram o frio que se fazia sentir na noite, para nos acalorar com o seu metal repleto de história.
O fim da noite aconteceu pela mão dos Corpus Christii, e os mestres do Black Metal português continuaram com a fasquia elevada. Com uma sonoridade rica e uma energia assombrosa, sempre a comunicar com a plateia e a puxar incessantemente pelos que ali assistiam. Com um périplo pela sua discografia, deixando temas do álbum mais recente de 2022 como “Fragmented Chaos Disharmony”, “For I am All” e “Behind the Shadow”, mas também temas mais clássicos “Under Beastcraft”, “The Fire God”, “I See, I Become”. finalizando com “Stabbed”. O pós-festa ficou sob alçada do António Freitas que nos fez viajar pela história do metal.
Foi um primeiro dia muito recheado e
muito diversificado, com muita energia tanto no palco como fora deste.
Espera-se, contudo, um segundo dia um pouco mais “desacelerado”.
Texto por Marco Santos Candeias
Agradecimentos: Amazing Events