Segundo dia do Comendatio Music Fest. Era esperado muito calor e um excelente cartaz.
Vindos de Cascais, os Twin Seeds foram a outra banda vencedora do concurso realizado pelo Comendatio. Os "guaxinins" trouxeram consigo temas do seu álbum “Grumpy Euphoria” e do seu EP “Red Powder”. O grupo trouxe muita vitalidade e técnica nos seus ritmos e melodias, com o seu instrumental progressivo e experimental. Tiveram também a participação da vocalista convidada, Joana Mafalda, no último tema “Belugas”.
Os Apotheus também primam pela sua sonoridade progressiva. Tal como no dia anterior, o calor que se fazia sentir poderia ser indicativo de uma entrega mais contida porém, o que aconteceu, foi precisamente o oposto.
O coletivo entregou-se por completo, tanto vocal como instrumentalmente, apresentando temas de “When Hope and Despair Collide” e “The Far Star”. O ar encheu-se de melodias etéreas, quase como se nos quisessem levar numa viagem pelo mundo fora. O grupo teve a oportunidade de demonstrar a mestria nas cordas, com longos solos. Tenho a certeza que tocando na parte da noite, com um espetáculo de luzes a acompanhar, teria sido uma experiência sensorial fantástica. De referir ainda que, os Apotheus preparam-se para, no final deste ano, lançar o seu próximo álbum “Ergo Atlas”. Despediram-se com os agradecimentos de tocarem com tantas grandes bandas e claro, agradecimentos ao festival e ao público por comparecer.
Seguiram-se os Playgrounded, com uma sonoridade mais para o metal alternativo e com muita programação eletrónica embebida nas suas melodias. Foi uma prestação muito envolvente e o facto de o sol se estar a pôr, tornou o ambiente em algo como se estivéssemos num sunset house, na praia. Com maior destaque para "The Death of Death" de 2022, o coletivo encheu o espaço de sonoridades com muito groove, muita melodia, ao qual o pessoal respondia com muito headbanging. De salientar ainda que a performance dos Playgrounded para além da parte musical assenta também numa base muito teatral, partilhando connosco as emoções que sentem enquanto tocam as suas músicas.
Os Unprocessed foram, definitivamente, a surpresa da noite. O coletivo presenteou-nos com temas do seu mais recente trabalho “Gold”. A cada música, mais surpreendiam. Dotados de um som muito virado para o prog rock, com toques eletrónicos. A sonoridade é crua e “unprocessed” como eles próprios caracterizam. A tecnicidade de todo o grupo... De referir que, em alguns solos, mais parecia que o vocalista/guitarrista dedilhava uma harpa, tal era a forma tão hábil com que deslizava os dedos. A banda ficou surpreendida pela receção que teve por parte do público, tendo dito por diversas vezes, de forma efusiva, que estava muito feliz por ali estar. A entrega do público foi total, entre gritos, bater de palmas e até um grito ali no meio de “I love you”, que o vocalista retribuiu fazendo para o público o sinal do coração com as mãos. Só estando lá para sentir o poderio que esta banda trouxe consigo, este som tão límpido e cristalino e ao mesmo tempo tão caótico, acompanhado de uma voz que tanto é melódica como agressiva, bem como aquela bateria e aquele baixo tão cheio de groove. No último tema, os Unprocessed pediram que fosse feito crowdsurf, ao que o público aderiu prontamente e ainda cantou em uníssono com o grupo. Houve ainda pedido de encore, mas tal não foi possível.
Seguiram-se, por fim, os Caligula's Horse, banda australiana que era tão aguardada pelo público. Tal ansiedade foi bem visível e audível, assim que os australianos pisaram o palco! Estes começaram por entregar o primeiro tema da noite e assim que terminaram o vocalista esteve em pequena conversa com o público, tendo falado sobre a satisfação por regressar e por ter finalmente a oportunidade de trazer temas do seu mais recente trabalho, “Rise Radiant”, lançado em 2020, acompanhado de temas de trabalhos anteriores. O que dizer mais acerca dos Caligula’s Horse? A sua sonoridade vagueia entre o rock progressivo e o metal progressivo, sempre muito melodioso e cativante. A sua música é eclética e não é feita para as massas, mas para os grandes apreciadores de instrumental complexo, intrincado e sonoramente pujante, que naquelas colunas até atordoava os sentidos, no bom sentido, claro. A banda trouxe energia positiva e boa disposição, muita da qual perpetuada pelo vocalista que entre temas falou com o público, contou piadas e até colou o público a falar australiano e também a cantar. Este foi um final de Comendatio com chave de ouro.
Ao longo dos dois dias de festival, houve tempo para explorar todo o recinto que, além da zona de palco, dispunha de uma zona de merchandising e de uma zona de restauração. Nota muito positiva para a organização deste local, além da limpeza do mesmo à forma como se procedia à compra das senhas, ao atendimento no bar e à banca de merchandising – onde foi disponibilizado espaço a todas as bandas para venda do mesmo. Essa gestão de vendas foi feita pelos membros do staff do festival.
É também importante destacar a simpatia de todos que colaboraram neste festival: desde a receção ao público em geral, aos técnicos, passando por todos aqueles que entraram em contacto com o público – sempre com um sorriso no rosto e prontos a ajudar em tudo, mesmo quando a afluência atingia os seus picos durante os intervalos das bandas.
Deixo aqui os meus parabéns a todas as bandas (e pessoal técnico) da parte da tarde dos dois dias, que enfrentaram condições climatéricas penosas mas, que mesmo assim, se entregaram com todo vigor às suas atuações. A título de sugestão, para o ano, talvez pudesse ser aumentada a área de sombras disponível.
Após o rescaldo do CMF 2023, tivemos a oportunidade de colocar algumas questões à organização, como forma de balanço final.
M.I. - Agora que o festival terminou, qual o balanço final?
CMF - O balanço é francamente positivo, todo o feedback que temos recebido tem sido incrível e é o que nos dá força e motivação para continuar.
M.I. - Quais foram as maiores dificuldades que se apresentaram durante o festival? E no oposto quais os pontos positivos?
CMF - Há sempre um grau de dificuldade um pouco elevado para se conseguir fazer um festival desta natureza. Financeiramente tem que ser tudo muito bem gerido sob pena de não conseguirmos continuar a fazê-lo, mas felizmente com maior ou menor dificuldade, contornar todos os obstáculos. No local, também nos deparamos com o fim de semana mais quente até ao momento este ano, não foi fácil. Mas no final de tudo o balanço foi muito bom, o nosso público nunca nos falha e está sempre la a dar tudo e a apoiar ao máximo o nosso esforço.
M.I. - É então tempo para colocar olhos na próxima edição? E se sim já existem planos para o futuro?
CMF - Agora é tempo de fechar contas deste ano, mas já com os olhos postos na edição de 2024. Esperamos em breve já ter novidades nesse sentido.
M.I. - Palavras finais?
CMF - Agradeço em nome de toda a nossa equipa, a oportunidade e a divulgação que fizeram ao festival e aproveito mais uma vez para agradecer a todos quantos trabalharam voluntariamente no festival, dando o seu melhor para que o nosso maravilhoso público se sentisse o mais em casa possível. Um enorme obrigado às melhores bandas do mundo e last but not least, ao melhor público de sempre.
Reportagem por Sabena Costa
Agradecimentos: Comendatio Music Fest