Segundo dia do Comendatio Music Fest. Era esperado muito calor e um excelente cartaz.
Vindos de Cascais, os Twin Seeds foram a outra banda vencedora do concurso realizado pelo Comendatio. Os "guaxinins" trouxeram consigo temas do seu álbum “Grumpy Euphoria” e do seu EP “Red Powder”. O grupo trouxe muita vitalidade e técnica nos seus ritmos e melodias, com o seu instrumental progressivo e experimental. Tiveram também a participação da vocalista convidada, Joana Mafalda, no último tema “Belugas”.
Os Apotheus também primam pela sua sonoridade progressiva. Tal como no dia anterior, o calor que se fazia sentir poderia ser indicativo de uma entrega mais contida porém, o que aconteceu, foi precisamente o oposto.
O coletivo entregou-se por completo, tanto vocal como instrumentalmente, apresentando temas de “When Hope and Despair Collide” e “The Far Star”. O ar encheu-se de melodias etéreas, quase como se nos quisessem levar numa viagem pelo mundo fora. O grupo teve a oportunidade de demonstrar a mestria nas cordas, com longos solos. Tenho a certeza que tocando na parte da noite, com um espetáculo de luzes a acompanhar, teria sido uma experiência sensorial fantástica. De referir ainda que, os Apotheus preparam-se para, no final deste ano, lançar o seu próximo álbum “Ergo Atlas”. Despediram-se com os agradecimentos de tocarem com tantas grandes bandas e claro, agradecimentos ao festival e ao público por comparecer.
Os espanhóis Blaze The Trail substituíram, à última da hora, os seus conterrâneos Corrosive, que não puderam comparecer. Estes músicos foram repetentes no Comendatio, por isso muito do público já os conhecia e, como tal, foram saudados com satisfação. Apesar de não terem uma sonoridade progressiva, são mais inclinados para o hardcore e o metalcore bruto e melodioso. Entregaram uma atuação enérgica, com todos os membros participando com grande energia. Se até aqui o dia tinha sido pautado por uma essência mais "zen", com os “nuestros hermanos” isso não aconteceu. Com incitações da banda o público acompanhou os mesmos, nos pulos, nos berros, no mosh e no circle pit. Foi festa durante largos minutos, tendo o baixista atuado, durante alguns momentos, no meio do público. Trouxeram-nos temas do seu álbum “Not a Game” e claro, o momento alto com “Kill The System”, o seu mais recente single, com uma pitada mais Metalcore. Após os devidos agradecimentos, ficou a promessa de que, em breve, voltariam a Portugal.
Seguiram-se os Playgrounded, com uma sonoridade mais para o metal alternativo e com muita programação eletrónica embebida nas suas melodias. Foi uma prestação muito envolvente e o facto de o sol se estar a pôr, tornou o ambiente em algo como se estivéssemos num sunset house, na praia. Com maior destaque para "The Death of Death" de 2022, o coletivo encheu o espaço de sonoridades com muito groove, muita melodia, ao qual o pessoal respondia com muito headbanging. De salientar ainda que a performance dos Playgrounded para além da parte musical assenta também numa base muito teatral, partilhando connosco as emoções que sentem enquanto tocam as suas músicas.
Os Unprocessed foram, definitivamente, a surpresa da noite. O coletivo presenteou-nos com temas do seu mais recente trabalho “Gold”. A cada música, mais surpreendiam. Dotados de um som muito virado para o prog rock, com toques eletrónicos. A sonoridade é crua e “unprocessed” como eles próprios caracterizam. A tecnicidade de todo o grupo... De referir que, em alguns solos, mais parecia que o vocalista/guitarrista dedilhava uma harpa, tal era a forma tão hábil com que deslizava os dedos. A banda ficou surpreendida pela receção que teve por parte do público, tendo dito por diversas vezes, de forma efusiva, que estava muito feliz por ali estar. A entrega do público foi total, entre gritos, bater de palmas e até um grito ali no meio de “I love you”, que o vocalista retribuiu fazendo para o público o sinal do coração com as mãos. Só estando lá para sentir o poderio que esta banda trouxe consigo, este som tão límpido e cristalino e ao mesmo tempo tão caótico, acompanhado de uma voz que tanto é melódica como agressiva, bem como aquela bateria e aquele baixo tão cheio de groove. No último tema, os Unprocessed pediram que fosse feito crowdsurf, ao que o público aderiu prontamente e ainda cantou em uníssono com o grupo. Houve ainda pedido de encore, mas tal não foi possível.
Seguiram-se, por fim, os Caligula's Horse, banda australiana que era tão aguardada pelo público. Tal ansiedade foi bem visível e audível, assim que os australianos pisaram o palco! Estes começaram por entregar o primeiro tema da noite e assim que terminaram o vocalista esteve em pequena conversa com o público, tendo falado sobre a satisfação por regressar e por ter finalmente a oportunidade de trazer temas do seu mais recente trabalho, “Rise Radiant”, lançado em 2020, acompanhado de temas de trabalhos anteriores. O que dizer mais acerca dos Caligula’s Horse? A sua sonoridade vagueia entre o rock progressivo e o metal progressivo, sempre muito melodioso e cativante. A sua música é eclética e não é feita para as massas, mas para os grandes apreciadores de instrumental complexo, intrincado e sonoramente pujante, que naquelas colunas até atordoava os sentidos, no bom sentido, claro. A banda trouxe energia positiva e boa disposição, muita da qual perpetuada pelo vocalista que entre temas falou com o público, contou piadas e até colou o público a falar australiano e também a cantar. Este foi um final de Comendatio com chave de ouro.
Ao longo dos dois dias de festival, houve tempo para explorar todo o recinto que, além da zona de palco, dispunha de uma zona de merchandising e de uma zona de restauração. Nota muito positiva para a organização deste local, além da limpeza do mesmo à forma como se procedia à compra das senhas, ao atendimento no bar e à banca de merchandising – onde foi disponibilizado espaço a todas as bandas para venda do mesmo. Essa gestão de vendas foi feita pelos membros do staff do festival.
É também importante destacar a simpatia de todos que colaboraram neste festival: desde a receção ao público em geral, aos técnicos, passando por todos aqueles que entraram em contacto com o público – sempre com um sorriso no rosto e prontos a ajudar em tudo, mesmo quando a afluência atingia os seus picos durante os intervalos das bandas.
Deixo aqui os meus parabéns a todas as bandas (e pessoal técnico) da parte da tarde dos dois dias, que enfrentaram condições climatéricas penosas mas, que mesmo assim, se entregaram com todo vigor às suas atuações. A título de sugestão, para o ano, talvez pudesse ser aumentada a área de sombras disponível.
Após o rescaldo do CMF 2023, tivemos a oportunidade de colocar algumas questões à organização, como forma de balanço final.
M.I. - Agora que o festival terminou, qual o balanço final?
CMF - O balanço é francamente positivo, todo o feedback que temos recebido tem sido incrível e é o que nos dá força e motivação para continuar.
M.I. - Quais foram as maiores dificuldades que se apresentaram durante o festival? E no oposto quais os pontos positivos?
CMF - Há sempre um grau de dificuldade um pouco elevado para se conseguir fazer um festival desta natureza. Financeiramente tem que ser tudo muito bem gerido sob pena de não conseguirmos continuar a fazê-lo, mas felizmente com maior ou menor dificuldade, contornar todos os obstáculos. No local, também nos deparamos com o fim de semana mais quente até ao momento este ano, não foi fácil. Mas no final de tudo o balanço foi muito bom, o nosso público nunca nos falha e está sempre la a dar tudo e a apoiar ao máximo o nosso esforço.
M.I. - É então tempo para colocar olhos na próxima edição? E se sim já existem planos para o futuro?
CMF - Agora é tempo de fechar contas deste ano, mas já com os olhos postos na edição de 2024. Esperamos em breve já ter novidades nesse sentido.
M.I. - Palavras finais?
CMF - Agradeço em nome de toda a nossa equipa, a oportunidade e a divulgação que fizeram ao festival e aproveito mais uma vez para agradecer a todos quantos trabalharam voluntariamente no festival, dando o seu melhor para que o nosso maravilhoso público se sentisse o mais em casa possível. Um enorme obrigado às melhores bandas do mundo e last but not least, ao melhor público de sempre.
Reportagem por Sabena Costa
Agradecimentos: Comendatio Music Fest