Cavalera. Um nome sonante no universo do metal. Seja na voz, na guitarra ou na bateria, o nome Cavalera marcou o mundo metaleiro ao ser o apelido de Max e Igor, os fundadores dos brasileiros Sepultura, que mais tarde lideraram vários projetos (especialmente Max), como Cavalera Conspiracy, Soulfly, Nailbomb e outros.
Sem sombra de dúvida, o pico da carreira de ambos deu-se na época Sepultura. Época esta que se iniciou com o EP Bestial Devastation, de 1985, e o primeiro álbum da banda, Morbid Visions, de 1986. Dois trabalhos que marcaram o início de um período de destruição massiva em cada música, que se ficaria pelo Roots, quando a formação perdeu Max Cavalera.
Hoje, os irmãos Cavalera continuam a tocar alguns êxitos da sua época na banda brasileira e desta vez, decidiram levar a ideia a um novo patamar: regravar os clássicos que criaram há quase 40 anos. Assim, Bestial Devastation e Morbid Visions saíram este ano, regravados pelos irmãos Cavalera, agora lançando os álbuns em nome próprio, com uma cover art “melhorada” e com o dobro do peso.
Regravar clássicos é sempre uma tarefa perigosa e é na verdade, um ofício que raramente é bem-sucedido; porém, Max e Igor acertaram. A cima de tudo, temos um EP e um Full-Lenght que já eram excelentes, agora aprimorados. Com uma produção de qualidade, uma técnica musical mais madura e maior peso atribuído, esses protótipos de Death/Thrash com elementos de Black metal são ainda mais devastadores do que eram quando foram lançados na década de 80. O Bestial Devastation regravado, mostra que se fosse released nos dias de hoje, ainda seria um marco no Thrash mais pesado e dá-nos uma visão daquilo que foi um EP gravado por um conjunto de adolescentes (já com bastante “jeito” para a música na altura), aperfeiçoado por adultos com anos e anos de experiência. Aquela que era uma composição um pouco confusa, mas com temas excelentes, apontado em específico a terceira faixa “Antichrist”, ganha agora uma vida mais concisa, mais percetível e com o triplo do peso. Quanto ao Bestial Devastation, é fácil de afirmar que oferece, especialmente a quem já conhecia a sua versão original, a oportunidade de perceber a qualidade que já existia nos primórdios das criações dos Cavalera. Ainda, para acabar o tema Bestial Devastation, temos o prazer de ficar a conhecer uma pérola perdida nas escrituras dos primeiros anos de Sepultura. “Sexta-Feira 13” foi um tema gravado naquela época que nunca chegou a ser lançado, e é agora o término desta nova versão do EP de 1986.
Mas o spotlight vai para a regravação de Morbid Visions. O verdadeiro início dos Sepultura, o verdadeiro início de Max e Igor. Morbid Visions é automaticamente uma bomba no panorama do metal mundial quando sai em 1986. É a fonte pura daquilo que mais tarde se consideraria a mistura entre Thrash, Death e Black, ainda numa era sem tantos rótulos. Morbid Visions, é, como o seu antecedente, um disco com uma produção bastante crua, natural do ano em que foi lançado. Agora em 2023, temos o prazer de poder ouvir e “deliciarmo-nos” com a sua versão “sofisticada”. Ter o prazer de ouvir o primeiro “hit” dos Sepultura, a “Troops Of Doom”, com os vocais mais graves e mais “profissionais” de Max Cavalera, com toda a excelência técnica dos Cavalera Conspiracy e com uma produção digna, é sem dúvida algo pela qual agradeço que possa experienciar.
Músicas que não tinham tanta profundidade e que pareciam um caos na versão original do álbum, vivem agora uma vida com tudo isso. “War” e “Crucifixion” são aquelas que mais destaque ganham neste renascimento de “Morbid Visions”.
Os Cavalera Conspiracy oferecem-nos, de forma igual ao que foi feito no “Bestial Devastation”, um tema nunca antes mostrado ao mundo, criado na época de composição das restantes faixas. “Burn The Dead” é uma música que emana energia, destruição, raiva e é tudo aquilo que um fã de música pesada pode pedir. Ouvir as blast beats de Igor Cavalera com o riff veloz de Max Cavalera logo no início da faixa, é de facto algo que pode ser considerado um prazer da vida. Este reerguer do “Morbid Visions” torna um produto que já era bom, num produto de qualidade suprema.
A decisão dos irmãos Max e Igor Cavalera de regravarem os seus primeiros trabalhos é uma bênção não só aos fãs dos dois músicos, nem apenas aos fãs de Sepultura, mas também a todos aqueles que apreciam Death, Thrash e Black metal clássico. Quem sabe um dia, que nós, meros mortais perto destas lendas do metal, possamos ser presenteados com regravações de mais álbuns da era Cavalera dos Sepultura, como Schizophrenia, Beneath the Remains ou Arise. Eu, pelo menos, espero que sim.
Nota: 9.2/10
Review por Duarte Bernardo