O eco misantrópico e ambientalista que Terrasite nos apresenta em abundância, não podia ter uma imagem melhor: quando o Homem assume na pele o parasita que sempre foi. Muito bom!
Para os menos apologistas de melodia em Cattle, como eu mesma... sim... o melódico está lá. Contudo, apresenta um excelente contrapeso; a versatilidade vocal de Travis, sendo também a assinatura vincada de Cattle Decapitation, entrega um growl profundo que contrasta com os vocais limpos/gritos secos e é, neste álbum, de tal maneira equilibrada, deliciosamente polarizada até, que tem de ser admirada.
Terrasite abre os palcos com "Terrasitic Adaptation", com ondas de blast-beat e guinchos agudos, muito à semelhança do tema de abertura do Death Atlas, "The Geocide", embora seja mais direto e devastador.
Segue-se "We Eat Our Young", e se a anterior não foi suficiente para anunciar a devastação que se avizinhava, esta faixa sem dúvida que o deixa evidente. Uma entrega de brutalidade com groove e riffs rasgados, em tremolo, numa narrativa apocalíptica e fatalista, que já o início de "The Storm Upstairs" semeia na nossa imaginação, com seus laivos de paisagens áridas e cenários estilo Mad Max que inevitavelmente invadem o pensamento, ao som de uma percussão maravilhosamente sincronizada.
Devo fazer uma especial menção a "...And The World Will Go On Without You" e "Solastalgia". A primeira pela denúncia do antropocentrismo cego e vaidoso que só poderia levar a um fim desastroso, e a segunda pela velocidade alucinante com pitadas de ambiente q.b. sempre que necessário.
"Just Another Body" encerra Terrasite com cerca de 10 minutos de uma faixa lamentosa, melancólica, fatalista, a roçar o Doom. A nível pessoal achei um pouco caótica em termos de encaixe, talvez algo experimental para o género de Cattle? No entanto, não apontaria como uma má saída, talvez apenas só isso mesmo, confusa na leitura.
Na minha opinião, está um bom equilíbrio entre a identidade linear dos já enormes Americanos, com alguma experimentação a adicionar ao vasto repertório de Cattle Decapitation. Em contraste com o anterior Death Atlas, este 10º álbum tem menos electrónica envolvida no setup, e só por aí ja me convence melhor. Diria até que Terrasite pode ser considerado uma das melhores criações da banda; é cru, obscuro e direto na mensagem, que é um misto de raiva e desespero. Poderoso e original, mantendo mesmo assim a identidade versátil tão típica do coletivo. Sem dúvida, vai acompanhar-me nos próximos tempos.
Nota: 8.9/10
Review por Alexandra Crimson