Há algumas semanas, apresentei-vos o projeto a solo norte-americano "Aridus". Agora, venho falar-vos de outro projeto a solo estadunidense, também com uma abordagem divergente do que é comum no Black Metal tradicional. Apresento-vos Blackbraid.
Blackbraid é um projeto a solo formado em 2022 por um multi-instrumentista originário das montanhas de Adirondack, no noroeste dos Estados Unidos, chamado Sgah’gahsowáh (não se engasguem), que, traduzindo do Mohawk, significa "O falcão feiticeiro". O nome em si evoca imediatamente a cultura nativa norte-americana, que é exatamente o que Blackbraid enaltece na sua temática.
Em agosto de 2022, Blackbraid lançou-se com o álbum "Blackbraid I", que foi muito aclamado na época e deixou muitas expectativas para o futuro, a ponto de ser abordado pelo New York Times. Com todo o "hype" em torno do projeto, há quem considere o próximo trabalho, sobre o qual escrevo, "Blackbraid II", um dos álbuns mais aguardados de 2023 no panorama geral do Metal.
Após o lançamento do primeiro álbum, em agosto de 2022, "Blackbraid II" não demorou a chegar, tendo sido lançado menos de um ano depois, a 7 de julho, e com muita atenção por parte da comunidade metaleira. Umas horas após o lançamento, quando fui notificado, não conhecia o projeto. No entanto, após ler alguns comentários e críticas, enquanto ouvia o trabalho, percebi que não é algo para ser ignorado. Passemos à abordagem sonora:
"Blackbraid II" inicia-se com a faixa "Autumnal Hearts Ablaze", um pequeno intróito acústico que precede sonoramente "The Spirit Returns", a faixa que teve até agora direito a vídeo e que representa muito bem a energia cultivada por Sgah’gahsowáh, com a preciosa ajuda do seu amigo Neil Schneider na produção geral e programação das baterias deste álbum. O som é vigoroso do início ao fim, apenas com uma pequena descida de intensidade após o primeiro minuto, mas incansável em sua extensão. De seguida, surge a faixa "The Wolf That Guides the Hunters Hand", que mantém a mesma energia, acompanhando a faixa anterior, e que, no final, desacelera e termina com um pequeno solo em fade-out. "Spells of Moon & Earth" é a curta faixa que se segue, introduzindo instrumentos de sopro que nos acolhem na atmosfera nativa que é característica deste trabalho. Os sopros repetem-se na faixa seguinte "Moss Covered Bones on the Altar of the Moon", lá para o meio, depois de um som mais arrastado que promete no horizonte uma variação que surge sem desiludir.. A energia e a rapidez regressam em "A Song of Death on Winds of Dawn", apesar de uma breve pausa, trazendo de volta os sopros nativos, mas lembrando-nos que este é um álbum de Black Metal. Após uma breve faixa acústica denominada "Celestial Passage", "Blackbraid II" parece adotar uma abordagem mais direta com a faixa "Twilight Hymn of Ancient Blood", que apesar do início lento, traz-nos posteriormente sabores do Thrash Metal clássico, com direito a um solo que lhe faz jus. “Sadness and the Passage of Time and Memory” é o nono som de Blackbraid II, mais soft e que já nos encaminha para um final. Final esse que nos parece confirmado no início da décima faixa “A Fine Way to Die”, mas no qual somos surpreendidos por um rasgo repentino, que soa novamente a Thrash Metal, a relembrar que o artista por detrás de Blackbraid não esconde que na sua forja constam nomes como Metallica ou Megadeth.
De salientar ainda que Blackbraid se assume como artista independente.
Para amantes do Black Metal atmosférico, que apreciem sonoridades de bandas como Wolves in the Throne Room e Agalloch, permitam-me apresentar uma receita norte-americana com alguns temperos escandinavos e a presença de elementos do Thrash Metal clássico, tudo isso envolvido num ambiente que evoca o mundo espiritual dos nativos norte-americanos. Posso afirmar que Blackbraid II é uma verdadeira pomada para os vossos ouvidos.
Na minha opinião, não desilude em relação às expectativas criadas à sua volta.
Nota: 7.8/10
Review por Pedro Roque