O Barreiro manteve-se acordado até pouco depois da 1:30h da manhã de domingo, tal era o som produzido pelos Sacred Sin. Os veteranos do Death Metal lusitano subiram ao palco da ADAO (Associação Desenvolvimento Artes e Ofício), acompanhados por mais 2 bandas nacionais também do mesmo género musical, para mostrar a energia da música extrema.
As portas abriam às 22h, mas antes dessa hora já se viam as vestes pretas a circundar o edifício da ADAO, sendo um presságio para uma noite repleta de Death Metal português. A abertura da noite ficou sob a alçada dos Ruttenskalle, banda do Seixal, que iniciaram a sua prestação um pouco antes das 22:30h, e durante meia hora mostraram uma sonoridade que claramente tem forte influência no Death Metal escandinavo, relembrando a banda Entombed. Os temas incidiram no seu álbum de 2021 Skin’em Alive, deixando ao vivo um tema inédito ainda por lançar, que no setlist da banda está identificada como “FLESH”. Apresentam-se sem baixista, mas ainda assim demonstraram uma tremenda energia e uma vontade de deixar bem vincada a sua passagem pelo Barreiro, e o vocalista António Gonçalves foi puxando constantemente pela plateia, que paulatinamente ia crescendo.
De seguida foi a vez dos lisboetas Rageful que iniciaram um pouco antes das 23:30h. Dois dos membros da banda anterior integram esta banda também. A vibe da banda é incrível e olhando para a banda não deixam dúvidas sobre a influência de Cannibal Corpse, desde a sonoridade da banda, passando pelo vocalista Leonardo Bertão, na forma como este se entrega ao headbanging, em tudo semelhante a Corpsegrinder, e a atitude e técnica do baixista João Arcanjo remetendo-nos para Alex Webster. É notório que os músicos se divertem em palco, basta olhar para a cara de felicidade de Ricardo Pato enquanto este rasga uns incríveis solos na guitarra ou para o incansável Paulo Soares nos seus sempre estrondosos blast beats. Durante pouco mais de meia hora, entregaram-nos temas carregados de critica social do álbum de 2020 Ineptitude, e ainda tiveram tempo para nos deixar 2 temas novos, que no seu setlist estão identificadas como “PAY TO BREAD” e “HÀ’PA’TI”.
À meia-noite e meia chegava a vez dos tão aguardados Sacred Sin, e na próxima hora o Barreiro seria deles. Entra a “Intro” do álbum de 1995 Eye M God e um a um entram os membros da banda em palco, e o público recebe-os de forma calorosa. Começam com a “Last man” do mais recente álbum Storms over the dying world e entram com tudo. Após esta, começa imediatamente a introdução épica de guitarra de Tó Pica e é servida “Storms over the dying world” sendo impossível ficar indiferente a esta malha, e todos individualmente abanam a cabeça. De punho erguido no ar seguem-se uns estrondosos “oi” entre a banda e o publico para arrancarmos para a “Born Suffer Die” do EP homónimo de 2020.
O baixista e vocalista José Costa diz “Boa noite Barreiro” e para a próxima música “Ghoul Plagued Darkness” do álbum Anguish… I Harvest de 1999, pede um circle pit, e apesar de pouco tímido o publico aquiesce. Passamos para aquela que é a primeira música de sempre de Sacred Sin “The Chapel of the Last Souls” lançada primeiramente na demo de 1991 Promo Tape ’91 e depois incorporada no álbum de estúdio de estreia Darkside de 1993, onde todos levantam os dedos numa homenagem coletiva ao metal. Momento de apresentação do guitarrista Tó Pica através de um solo de guitarra, que se funde diretamente com a música seguinte, ainda no mesmo álbum, “In the Veins of Rotting Flesh”. Passam para 1995 com a música “Eye M God” do álbum homónimo, música que puxa de modo pavloviano para um feroz headbanging, esta música é ainda aproveitada para ser feita a apresentação do baterista Ricardo Oliveira. Em uníssono a plateia ajuda José Costa cantando “In.. In.. ferno.. Hell is here” e voltamos ao trabalho mais recente da banda com “Hell is Here”, e a energia era tão contagiante que a plateia rendeu-se ao mosh. Ao terminar a música aproveitam para apresentar o outro guitarrista Luís Coelho.
Momento de wall of death na sala da ADAO, recuamos um pouco até 2017 para o álbum Grotesque Destructo Art, pelo som do tema “Vipers – Rise from the Underground”, culminando num animado crowd surfing. Revisitamos o EP de 2020 com “False Deceiver”, e no final reservam um tempinho para agradecer ao publico, à organização, aos técnicos e às bandas de suporte. Regressa-se ao último álbum para tocarem “Perish in Cold Ambers”, onde fazem uma pequena pausa na música para darem um choque de adrenalina ao publico urgindo que este se manifestasse ainda mais energicamente.
Passamos para as últimas da noite de enfiada são tocadas “Darkside” do primeiro álbum e “Seel of Nine” do álbum de 1999. Tempo suficiente para mais um circle pit para fechar esta noite épica de peso, e para o momento mais sublime da noite onde Tó Pica, José Costa e Luis Coelho se põem lado a lado, mostrando uma sinergia e cumplicidade única entre a banda, evidenciando a experiência de muitos anos nos palcos. A banda transpira Death Metal, ou não fossem as iniciais dos seus primeiros 5 álbuns soletrarem a palavra “Death”.
Uma viagem na história da banda Sacred Sin, que conta já com mais de 30 anos, percorrendo a sua emblemática discografia, numa noite de Death Metal nacional. Na sala passaram cerca de uma centena de pessoas, no entanto ninguém no Barreiro poderá ter ficado indiferente.
Texto por Marco Santos Candeias
Fotografia por Ana Carvalho
Agradecimentos: Sacred Sin