A tão aguardada estreia dos Melvins no nosso país materializou-se neste fim de semana de 8 e 9 de julho. Primeiro no Hard Club do Porto e no dia seguinte em Lisboa, num Capitólio que teve lotação esgotada para receber a banda norte americana. Encarregues da abertura estiveram os nacionais Vircator, que souberam estar à altura do evento.
Pouco faltava para as 21h00 quando o quarteto de Viana do Castelo deu início à sua atuação. Os Vircator parecem talhados para estes grandes concertos. Depois de apadrinharem a estreia dos Conception em Portugal, pouco mais de dois meses volvidos tiveram o privilégio de repetir a dose, desta vez abrindo para os Melvins. Com um álbum ainda fresquinho para mostrar ao público, os Vircator aproveitaram os 35 minutos a que tiveram direito, dedicando-os, quase em exclusivo a Bootstrap Paradox. Metal progressivo com muita qualidade que desde cedo conquistou o público presente na sala. Muita gente a chegar atempadamente para assistir à atuação do quarteto luso, o que é sempre de salientar. “B.C.” serviu de introdução para “Egypt” e para todo um espetáculo que ficou na retina de quem assistiu.
Apetece-me dizer que este foi o concerto certo, na altura certa. Porquê? Porque depois de semanas em que fomos brindados com megaproduções, fazia falta um evento de uma banda que se fizesse valer apenas pela música que toca. Os Melvins ofereceram precisamente isso. Quem assistiu pode comprovar que as luzes usadas foram somente as necessárias, nada mais. De resto foram cerca de 70 minutos em que o sludge metal foi rei.
Esta tournée visa celebrar os 40 anos de existência da banda e é por isso suposto que os temas escolhidos percorram um pouco a vasta discografia do trio. Depois de entrarem em palco ao som de “Take On Me”, dos A-Ha, os Melvins deram início à sua atuação com “Snake Appeal”, um tema de 1986 que colocou logo toda a gente a mexer. Perante tanto tema por onde escolher, o mais recente álbum, The Devil You Knew, The devil You Know, acabou por ser deixado de lado. Esta era uma noite para clássicos e eles foram interpretados, de forma que esta estreia em Portugal valesse a pena e se tornasse inesquecível para quem a vivenciou. De salientar a versão do tema dos The Beatles, “I Want to Old Your Hand”, muito diferente do original, ou seja, muito Melvins.
Os três integrantes da banda não desapontaram. Buzz Osbourne, com o seu cabelo característico, virou as costas ao público durante alguns solos de guitarra, mas foi também comunicativo. Assim como o simpático Steven McDonald, que confessou desconhecer a razão de a banda nunca ter atuado em Portugal. Até mesmo Dale Crover pegou no microfone momentos antes do tradicional encore e foi ele que agradeceu a presença de todos, afirmando que estes dois dias em Portugal foram inesquecíveis.
O concerto dos Melvins encerrou somente com Buzz em palco, acompanhado pela sua guitarra para cantar “Boris”. Pelo meio tivemos temas como “Let it All Be”, “Your Blessened” e “Honey Bucket”, por exemplo. Ah, tivemos também crowd surfing, muito crowd surfing nesta fantástica noite de música.
Texto por António Rodrigues
Fotografia por Ana Mendes
Agradecimentos: Prime Artists