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Reportagem: Evil Live (2º dia) @ Altice Arena, Lisboa – 29.06.2023



À semelhança do dia de ontem, também houve uma casa praticamente cheia nesta segunda tarde/noite da primeira edição do Evil Live Festival. Este segundo dia tinha, igualmente, um cartaz recheado de boas bandas, onde se encontravam os The Voynich Code, a única banda portuguesa a participar na presente edição.

Foram eles mesmo os primeiros a atuar. Convidados a substituir os americanos Nothing More, os The Voynich Code não se intimidaram com a dimensão do evento, confessando humildemente que nunca antes tinham atuado para um público tão numeroso. Apresentando-se sem baixista, a banda agarrou a oportunidade e foi ao som do seu deathcore que se formou o primeiro mosh pit da noite. O mais recente single, “The Last Grain” foi uma das músicas escolhidas para este concerto que a banda, certamente, jamais esquecerá. Seguiram-se os Blind Channel, que faziam a sua estreia em Portugal. O mais recente single “Happy Doomsday” foi o tema escolhido para o arranque do seu espetáculo. A banda finlandesa de nu-metal conta com sete elementos, onde se incluem dois vocalistas e um teclista, o que torna o palco muito preenchido, como podem calcular. A surpresa na sua atuação talvez tenha sido a cover de “Left Outside Alone”, um original da cantora pop, Anastasia. Atuação bem conseguida da jovem banda de Oulu.

Seguiu-se a estreia de mais uma banda em palcos nacionais. Desta vez foram os americanos Fever 333, que se apresentaram com a baixista April, algo que nem sempre acontece nas suas atuações ao vivo. Os Fever 333 trouxeram uma sonoridade que se pode definir como rap rock/metal, para além de uma atitude enérgica ao palco do Evil Live. Juntaram ainda a tudo isto alguns discursos de intervenção, que marcam a sua posição e que foram aplaudidos pelo público. Para além dos temas do seu álbum, Strength In Numbers, a banda interpretou a sua versão do tema dos Blur, “Song 2”. Grande parte de “Hunting Season”, último tema que executaram, foi cantado por Jason Butler enquanto fazia crowdsurfing. Deixou muito boa impressão, este quarteto americano que mostrou muita atitude em palco.

Tal como aconteceu no dia anterior, é com a quarta banda que parecemos entrar nos chamados pesos pesados. Desta vez foram os Meshuggah a ocupar essa posição. A banda surgiu em palco com todos os elementos a terem por trás de si, como que uma célula, da qual pareciam não se poderem afastar. Todo o concerto foi, portanto, muito estático, à imagem do que a banda sueca já nos habituou. Pioneiros do estilo djent, o seu metal progressivo não precisa que o quinteto se movimente muito. O ambiente em palco era sombrio, algo conseguido com o uso de luzes foscas que escondiam mais do que propriamente revelavam. Curiosamente, nenhum tema do aclamado álbum Obzen foi interpretado, tendo-se a banda focado mais no recente Immutable. Houve ainda oportunidade de visitar Destroy Erase Improve de 1995, através da música “Future Breed Machine”. De salientar o sincronismo existente entre todos os músicos. As variações de ritmo são tantas e tão ricas ao longo dos seus temas, que parece até difícil de acreditar como não surgem enganos.

Os Papa Roach pareciam destinados a passar pelo que os seus congéneres Alter Bridge passaram no dia anterior. Tocar entre as atuações do Meshuggah e Slipknot pode ser desafiante para uma banda com alguns temas considerados rock. O que é certo é que, tal como Myles Kennedy fizera na véspera, também Jacoby Shaddix conseguiu ter o público sempre sob o seu controlo, algo apenas ao alcance de um verdadeiro frontman. A banda iniciou a atuação com temas dos seus mais recentes álbuns e estes foram muito bem acolhidos por uma sala que se encontrava cheia, por esta hora. Ao quinto tema, Jacoby perguntou se havia fãs veteranos na audiência, para que todos fossem brindados com “Broken Home”, um dos temas extraídos do aclamado álbum de 2000, Infest. Esta parecia ser uma noite pontuada por covers e os Papa Roach também tinham as suas. Primeiro com “Firestarter”, original dos The Prodigy, momento em que Jacoby pediu a todos os que se encontravam nas bancadas para se levantarem, visto tratar-se de um concerto de rock. Um pouco mais à frente foi a vez de “Lullaby”, dos The Cure, tocada apenas para que o vocalista anunciasse o próximo tema, “Scars” e explicasse como ele foi importante para a sobrevivência dos Papa Roach, tendo mesmo, segundo o próprio, salvo a banda. “Swerve” trouxe Jason, dos Fever 333 de volta ao palco para ajudar a cantar o tema, para logo de seguida se voltar a Infest com “Between Angels and Insects” e a música pela qual todos ansiavam, “Last Resort”, que fechou com chave de ouro o concerto dos Papa Roach.

Mais um concerto dos Slipknot em Portugal, mais um, infelizmente, sem a presença do carismático Shawn “Clown”. A admiração dos portugueses pela banda de Iowa não fica beliscada por isso e ela pode ser verificada pela forte presença de público nos seus concertos. Eram milhares os fãs que orgulhosamente envergavam uma t-shirt dos Slipknot, outros iam ainda mais longe e apresentaram-se no pavilhão da Altice Arena mascarados, o que diz bem do culto que a banda tem no nosso país. No que diz respeito à música, de forma quase profética, naquele mesmo dia celebravam-se os 24 anos do álbum de estreia dos Slipknot. Talvez por isso o alinhamento para este espetáculo estivesse bem apetrechado com temas desse trabalho, ao contrário do que acontecia com Adderall, o mais recente E.P. que foi completamente ignorado nesta noite. A banda sabe o que o público pretende e isso passa muito pelos álbuns lançados na transição de século, com especial destaque para o homónimo. A música “The Blister Exists” foi o arranque para um espetáculo que se enquadra naquilo que podemos considerar uma grande produção. Foi montado todo um aparato em palco ao nível de estruturas que permitiam a presença dos 7 músicos, com total liberdade para se movimentarem por todo ele. Para tornar o momento ainda mais memorável, foi usada bastante pirotecnia, para além dos habituais jogos de luzes. Desde cedo qua a banda começou a tocar temas do álbum homónimo de 1999, como “Liberate”, ou “Wait and Bleed”, sensivelmente a meio da sua atuação, aproveitando para a dedicar a Shawn “Clawn”. Corey Taylor explicou posteriormente que os Slipknot têm um tema que é muito requisitado, embora se afaste um pouco do registo da banda. Trata-se de “Snuff” e pese embora fosse diferente do que até então havia sido tocado, foi um belo momento. O ritmo foi rapidamente recuperado através de “Purity”, “People=Shit” e “Surfacing”, após as quais a banda deixou o palco. O ambiente no pavilhão era ensurdecedor e ninguém iria arredar pé. Existem músicas que são obrigatórias e os Slipknot têm umas tantas. “Duality” elevou a euforia que se estava a viver no Altice Arena e “Spit It Out” pôs ponto final naquilo que foi um grande, grande concerto.
Uma palavra final para aquela que foi apenas a primeira edição de um festival que se espera que se venha a repetir nos anos vindouros. Excelente organização, horários cumpridos meticulosamente e cartaz composto por bandas extremamente interessantes e diferentes entre si. A fórmula está encontrada, resta repeti-la.


Texto por António Rodrigues
Fotografia por Paulo Jorge Pereira
Agradecimentos: Prime Artists